Prólogo

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ELLIE

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ELLIE

Antes mesmo de ter três das minhas costelas fraturadas e sofrer uma tentativa de sequestro, minha viagem de carro já estava um porre.

Olho pela janela do carro, entediada. Batuco os dedos no banco de couro. Cutuco a unha. Balanço a perna, inquieta. Ugh. A espera é, de longe, a pior das torturas.

De maneira parcial, vejo o reflexo do meu rosto no vidro escuro. Sou bastante normal para alguém da minha idade. Visto calças jeans e uma camiseta de segunda mão com algumas manchas de água sanitária. No máximo, sou apenas um pouco alta e magra demais para minha idade. Só.

Claro, há o meu sobrenome. "Ágape" não é muito comum, é verdade.

O carro sacode ao passar por um quebra mola. Meus cachos escuros, presos atrás da cabeça, balançam e fazem cócegas na nuca. Acho que vou vomitar.

— Ellie! Ellie! - Ethan sacode meu ombro com urgência.

A nossa faixa etária tenta diferenciar-se das demais a todo custo. Seja ao se vestir, falar ou até mesmo caminhar. Preferencialmente, que tenha o cabelo mais extravagante possível.

Ethan leva esses termos bastante à sério. Seus cabelos escuros foram repicados por ele mesmo com uma tesoura escolar, dando-lhe um aspecto meio punk. Algumas  mechas balançam em frente ao seus olhos grandes e expressivos, suas pupilas castanhas - que, de tão escuras, são facilmente confundidas com o preto profundo - reluzindo de entusiasmo. Ao redor do pescoço um colar de cordinhas trançadas, suspendendo sobre seu peito um pedaço de madeira com um pentagrama entalhado. Ele deve tê-lo desde sempre e jamais o tira.

Sua pele branca contrasta bastante com a minha, que é preta. Apesar disso, nós ainda dividimos muitas semelhanças. Como a cor dos olhos e do cabelo, ou o nariz reto.

Até sua maneira de falar é diferenciada. Quando muito nervoso ou assustado, ele tende a destravar uma gagueira que pode tornar o entendimento de suas palavras algo simplesmente impossível.

— Ellie! Ellie! – Repete ele, me sacudindo.

— Que é? – Retruco, mal-humorada.

— Tem uma coisa no seu rosto.

Agora próximo, Ethan dá um súbito peteleco em meu nariz.

— Ah, seu...!

Ele cai para trás, gargalhando de alegria. Ao seu lado, Éffie discretamente lhe faz um "toca aqui", sorrindo em aprovação.

Claro. Ethan não prega peças nos outros. Isso só podia ter a mão de Éffie.

Meu irmão mais velho é ainda mais destoante de Ethan e eu. Sua pele parda é reluzente – bem mais clara que a minha.

Seus grandes olhos amendoados não desgrudam da tela do celular.

Sua beleza inegável é irritante. Metade das pessoas da nossa escola possuem uma paquera nele, que sequer faz esforço para ser assim. Sabe aquelas pessoas que são bonitas, inteligentes e boas em absolutamente tudo apenas porque o universo quis que elas nascessem assim? Pois é.

O País das Crianças Perdidas - O Príncipe de ObumbratioOnde histórias criam vida. Descubra agora