Capítulo 13

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ETHAN

O ônibus roda há algumas horas.

— Percorremos três cidades em um dia. – Comento, olhando pela janela. – Embora tenhamos enfrentado um fantasma e um monstro assustador, eu diria que estamos indo muito bem.

— Se falar assim vai atrair mais deles, bocó. – Repreende John.

Viro-me para ele.

— Por que você é tão rude assim, o tempo todo? – Disparo. – Você me odeia ou algo assim?

John ergue as sobrancelhas.

— Eu não odeio você. 

— Pois parece. – Retruco. – Precisa me tratar dessa forma sempre? 

— Não é nada pessoal. – Responde John, desviando o olhar.

A estrada está lotada e começou a chover. O motorista aparece no corredor e diz que demoraremos um pouco mais que o esperado.

Maribel fica especialmente nervosa com a notícia.

— Tudo bem, são só algumas horinhas a mais. – Convence-se ela. – Ainda temos bastante tempo.

Brinco de adivinhar palavras com Sean para matar o tédio. 

— Eu falo uma letra, você pensa em algo que comece com ela, e depois tem que soletra-la. – Converso. – Como, por exemplo... letra D.

Sean pensa por alguns segundos.

— Hm.... dados? D-a-d-o-s.

— Isso! Minha vez... Ãhn... Datilógrafo. D-a-t-i-l-o-g-r-a-f-o.

— É o nome de um monstro? – Pergunta Sean, genuinamente assombrado. 

— Não, datilógrafo é um... – Rapidamente, invento: – Doutorado... em hieróglifos?

Sean pergunta o que é um hieróglifo e o tema da conversa rapidamente muda para Antigo Egito. John esfrega o rosto, estressado.

— Dá pra calarem a boca? – Implora ele.

— Ei, sua vez. – Volto-me para ele. – Diga uma palavra com...sei lá, P?

— Não vou jogar um joguinho idiota de adivinhar palavras.

Abro um sorriso.

— Vai me dizer que não conhece nenhuma palavra com P?

— Eu não disse isso.

— Ah, vamos. Tudo bem se não souber palavras difíceis. 

Isso mexe bastante com John. Suas bochechas coram e ele range os dentes, irritado.

— Na verdade, eu sei várias, sim. 

Em sequência, John cospe uma vasta sequência de palavrões começados com "P."

— Já entendi, tá bom?  – Peço, antes que as pessoas do ônibus reclamem da má educação dele. – Acabei de aprender vários xingamentos novos.

— Disponha. – Responde John. – Continua nesse falatório e te ensino mais alguns.

Direciono outro sorriso para ele.

— Quer saber? – Digo. - Eu sei uma que combina perfeitamente com você. Patético. P-a-t-é-t-i-c-o.

Um traço de sorriso sarcástico se forma em um dos cantos da boca de John.

— Consegue soletrá-la? – Desafio-o.

Ele mexe a boca, tentado pronunciar. Seu semblante muda repentinamente, e ele fica envergonhado.

O País das Crianças Perdidas - O Príncipe de ObumbratioOnde histórias criam vida. Descubra agora