𝟬𝟲. 𝗜𝗻𝘀𝗶𝗴𝗻𝗶𝗳𝗶𝗰𝗮𝗻𝘁𝗲

137 9 0
                                    

Agora

O cachorro do vizinho havia começado a latir a quase vinte minutos, o que sempre acontecia quando alguém resolvia andar de bicicleta no meio da noite abafada e silenciosa. Não era uma boa forma de pegar no sono, o tirando de quem as dez e meia da noite já devia estar dormindo, Chad terminava o conteúdo para a aula do dia seguinte, acompanhado da ardência dos olhos e da dor de cabeça.

A vibração do celular foi a única coisa que o fez pegar o aparelho e se lembrar de que aquela altura Loen já devia ter mandado inúmeras mensagens pelo seu sumiço, enquanto tudo o que o futuro apresentador da Academia de Cursos gostaria era de uma única mensagem, a de Galeine e suas práticas respostas. Ainda mais agora, que sua consciência o obrigava a dizer a ela em primeira mão o que havia feito.

Levantou - se da cadeira em frente a mesa onde havia deixado todo o material, sentindo a nuca pesada por ter ficado na mesma posição. Caminhou até a geladeira, buscando pela garrafa d'água que ao menos aliviaria seu cansaço, sua desconcentração vinha dos latidos insistentes do cão, e agora, da batida repetitiva em sua porta.

Não fazia idéia de quem podia ser, mas sabia que poucas pessoas o procurariam  naquele horário. Deixando a tampa sobre a mesa da cozinha, levou consigo a garrafa, destrancando a porta com a mão direita, ao abri - lá, pelo breve vão viu de forma rápida, Galeine adentrar sem ao menos pedir sua permissão, embora não precisava pedi - lá

Com a porta ainda entre aberta, ela a fechou, usando seu corpo para empurra - lá para trás, deixando o ver sua expressão espantada, com olhos assustados e maiores do que costumavam ser, sua respiração estava ofegante, quase não conseguia dizer nada além do nome dele:

- Galeine? - ele nunca havia a visto tão amedrontada e trêmula, com a mesma fantasia que a viu no dia do festival

- Chad, Chad você tem que me ajudar por favor - apavorada, Galeine tinha medo, ainda que tivesse mentido sobre onde morava, não subestimava a capacidade de Grabber de encontra - lá

- O que aconteceu? O que foi? Calma - ela o abraçou pelo impulso de ver a única pessoa que conhecia depois de tantos dias em cárcere, ele retribuiu, sentindo sua pele gelada e todo o corpo trêmulo

- Por favor - com o rosto no peito dele, Chad sabia que não podia perder a oportunidade que era tê - lá próxima assim

- Me diz o que aconteceu? O que foi? - a brevemente afastou, vendo as lágrimas ainda escorrendo

- Tá acontecendo uma coisa mas, eu não posso dizer - prosseguiu entre soluços, tentando engolir o choro

- Como assim não pode dizer? - franziu as sobrancelhas - Galeine? O que está acontecendo? - ele não entendia, nem mesmo a razão pela qual ela ainda estava vestindo a fantasia - Por que você está usando essa.... Onde você estava? Deixei várias mensagens no seu celular

- É complicado - respirou fundo, contendo - se, embora quisesse dizer a ele tudo

- Galeine, você está me assustando. Olha como você está - gesticulou com as mãos, a olhando de baixo para cima

- Eu sei, eu sei

- Alguém fez alguma coisa? Você está tão assustada - novamente respirou fundo, fechando e abrindo as pálpebras

- Aquele dia no festival, um homem me pegou, me levou para uma casa e..... - a batida na porta a estremeceu

Galeine sentiu o gelo subir pelo centro do peito e parar na garganta enquanto o coração parecia bater o mais rápido que já pode ter batido, a expressão de Chad havia se tornado espantada com o que começava a ouvir e interrompida pelas batidas na porta, paralisado, fez sinal para que ela aguardasse, mesmo que naquele instante não pudesse haver nada mais importante que escutar até o fim o que ela começou a dizer.

Se sentia um idiota por ter optado por atender a porta, na esperança de que fosse apenas alguém aleatório buscando por alguma informação. Ao abri - lá, Loen já impaciente se quer lhe disse uma boa noite e sim um " até que em fim " segurando a alça da bolsa de couro com a mão e adentrando na sala, sem conseguir contê - lá, seria um problema ver Galeine ali, aquele horário.

Imediatamente, a alcançou porém, não havia nada além do vazio no cômodo, ela virou - se para ele sem entender o motivo pelo qual parecia tão apreensivo com sua chegada:

- O que estava fazendo Chad Rivers? - jogou a bolsa sobre o sofá, colocando as mãos na cintura, ele era péssimo em mentir e precisava ser convincente para sustentar o trabalho que Galeine teve ao se esconder para não ser vista, atrás do pilar da cozinha, permanecia atenta caso precisasse mudar de esconderijo

- Eu? - gaguejou, mexendo nos cabelos castanhos médios - Estava preparando as...

- As aulas? - o interrompeu - Vejo que está indo mais rápido do que eu pensei - Galeine franziu as sobrancelhas, muito mais atenta a conversa

- Podemos falar disso depois, eu preciso terminar os trabalhos - respirou fundo, bufando, Loen dificultava ser dispensada

- Eu posso te ajudar, adoraria - os olhos dela reluziam - Imaginou a cara da Galeine quando descobrir que você rompeu o contrato com ela? - Chad engoliu um seco, sentindo a tensão percorrer todo o corpo e o nervosismo trava - lo

Galeine retirou as mãos do pilar, mantendo o centro das sobrancelhas franzido, enquanto a agonia tomava o lugar da atenção que se mantinha agora no que acabava de ouvir. Ele não viu sua expressão de decepção se formando em seu belo rosto, aquilo a desmotivou a terminar de dizer o que se passava com ela, o que Chad havia feito, não era justo, mas se lamentou pelo o que acabava de descobir muito menos.

O quanto sua infelicidade era a alegria de Loen e que também poderia ser dele, a pessoa que considerou ser a única capaz de lhe ajudar. Galeine partiu se sentindo péssima, nunca precisou que alguém a amparasse como naquele instante, onde ainda que estivesse sozinha, algo, lhe fazia sentir o contrário.

O relógio da torre da igreja, marcava quase onze da noite quando saiu da casa, caminhando pela rua vazia e escura, se sentindo traída, abandonada e perdida, como há muito tempo, sentia estar vendo tudo pela última vez, não tinha razões para continuar ali, e não adiava pensamentos de como seria encontrar Grabber no estado em que se encontrava.

A pacata cidade sempre teve um baixo contraste, como se, não houvesse cores nem nos raios solares, sempre um vento gelado, que os obrigava a usar casacos, e coturnos, comércios, casas, lugares tão antigos, como capelas e colégios, ela sempre gostou muito daquele lugar, chegando a se imaginar por várias vezes, dali a alguns anos quando estivesse mais velha.

Foi triste, andar e não receber se quer um olhar de surpresa por estarem a vendo, as pessoas que passavam por ela se quer a viam, era como se estivesse invisível, o que confirmava que, ela nunca esteve desaparecida, não havia nenhum cartaz, nada que apontasse seu sumiço, ninguém procurou por ela.

Havia se organizado para que conseguisse ao menos fazer o necessário, mas a prioridade de tudo era tentar não deixar que a vontade de não cumprir com sua parte no que propôs para Grabber e não voltar a dominasse. Por ser uma cidade pequena, seria tolice tentar fugir dele, todas as emoções que sentiu durante o caminho não valiam de nada agora, para uma época de Halloween, ambos não passavam de dois personagens, duas pessoas fantasiadas indo ou voltando de algum lugar.

Galeine conseguiu mexer com as estruturas do insensível e misterioso assassino, durante os últimos anos Grabber matava por preenchimento de tempo, não havia algo mais interessante que escolher uma próxima vítima, muitas delas egoicas, que se achavam fortes, boas o suficiente, nada melhor que por um fim em suas vidas medíocres.

Mas Galeine, não era nem um pouco parecida com nenhuma delas, ela sabia jogar com ele, sabia induzi - lo, e o mais importante convencê - lo. Jamais imaginou que conseguiria fazê-lo se decidir rápido como fez. O que acontecia ali, ia além do controle que os dois achavam que tinham, a confusão começava por não encontrarem um sentido que desse razão ao que sentirão.

A rebeldia e relutância dela era excitante para ele e seu lado severo, que quando tentava ser dominante outra coisa ganhava o espaço, e ele tinha o mesmo querer de realmente sentir a pele dela, como ela sentiu ao arrastar as mãos do peito dele para os braços fortes enquanto buscava uma brecha para sair depois da conversa que tiveram.





𝗗𝘂𝗿𝗮𝗻𝘁𝗲, 𝗲 𝗮𝗼 𝗱𝗲𝗰𝗼𝗿𝗿𝗲𝗿 Onde histórias criam vida. Descubra agora