𝟭𝟱. 𝗖𝘂𝗹𝗮𝘁𝗿𝗮

107 5 0
                                    

Ao marcar cinco da tarde, o relógio pendurado na cozinha estralou como sempre fazia ao anunciar as horas completas. Galeine deslizou os dedos pelos ombros de Grabber, sentindo a maciez da camisa cinza escura que ele usava, saindo do abraço que esteve dentro a alguns minutos, podendo acariciar a pele gélida e clara da região sem a máscara e seus cabelos claros para cima dos ombros.

Lentamente, ela respirou fundo, e o deixou ouvir sua respiração longa, os pratos do lanche da tarde, ainda estavam sobre a mesa, ele costumava cozinhar e lavar toda a louça, a lembrando disso ao vê - lá leva - los para pia, e olhar para o vitrô que trazia alguns raios do sol para a pele de seu semblante moreno e talvez um pouco mais apagado que o normal.

Aquelas horas, o furgão já estava com suas malas e o que mais tivesse posto dentro dele, seu olhar diante tentava ver além daquele vitrô, até mesmo das paredes se pudesse, tentando acertar onde cada viatura estava, e de quais cantos surgiram os policiais armados.

Mobilizar a polícia, depois de entregar a eles o quebra cabeça quase completo não foi difícil, mas angustiante pelas possibilidades contras que poderiam surgir através dos imprevistos. A perda de sentido, devia acontecer quinze minutos após ingerir o comprimido que Chad lhe entregou antes de sair da Academia.

Ele sabia muito bem o que estava fazendo, e aquele era um dos benefícios de ser bem visto e reconhecido por nunca fazer algo errado, caras como Chad Rivers, escondiam suas faces podres pela cidade pequena, por becos onde conseguiam muitas coisas que os levassem para outra realidade sem que desconfiassem daquilo.

Mesmo que pudesse estar pondo em risco muitas daquelas coisas e até mesmo Galeine, nada era mais arriscado do que deixa - lá viver as sombras de uma fantasia. A mesma não sentia o corpo obedecer aos seus comandos, se quer suas pernas a sustentar em pé, Galeine caiu próxima a pia enquanto Grabber estava de costas.

Ele ouviu o barulho dos pratos caindo pela tentativa dela de se agarrar a algo, apenas para não parecer proposital, e sim um trágico e infeliz acontecimento que poderia ser o final de qualquer pessoa, e infelizmente seria o dela. O coração do mascarado bateu mais lento que seus passos pareciam até chegar até ela, a virando para si, Galeine não respondia a nenhum dos seus estímulos,  por não senti - lo, nem ouvi - los, sendo carregada para outro sentido.

Os cristais azuis, das pupilas de Grabber, ganhavam o avermelhado do desespero, pelo branqueamento e pela frieza que as palmas das mãos e toda pele da morena conquistava em tão poucos segundos, como se estivesse morrendo diante dele, que sempre admirou a morte, que não combinava nem um pouco com Galeine:

- Galeine..... Galeine, acorda! O que que foi? Galeine!!! - apoiou a nuca dela em seu antebraço esquerdo, a trazendo para si, vendo a moleza das mãos dela em não ter mais nenhuma estrutura e sustenção - O que que você tem? Fala para mim. Galeine? - acariciando o rosto dela, Grabber não entendia o que acontecia, mas experimentava o que sempre causou nas outras pessoas - Não...... não, fala comigo! Não pode ser

Acabava de se lembrar que seu corpo produzia lágrimas, como o de qualquer outro ser humano, que tudo que viveu até então não passou de uma tentativa falha de se enganar e considerar, ter poder sobre alguma coisa, apoderando - se e escolhendo o que não tinha chances contra ele, sua força e seu lado doentio. Os lábios arroxeados entregando a falta de saturação, a pele cinza como as das pessoas que enterrou friamente e sem razões para interromper suas vidas o condenava.

Aquela cena, ele nunca esqueceria, de Galeine morta de repente, o desgosto não podia ser o motivo, ele não podia ser a causa, sabia que buscar ajuda era o que devia fazer ao invés de aceitar vê - lá morrer, o pessimismo sobre o socorro levaria para chegar não insitava a ideia de ao menos ser uma chance de salva - lá. O estrondo da porta se abrindo, com um chute certeiro na fechadura, passos pesados, mais de nove, munições balançando no cartucho e travas soltas de armas o colocaram diante da polícia.

Naquele momento, aquilo não era nada comparado ao que trazia no colo, a única coisa que devia ser salva mesmo que tivesse que apodrecer ou morrer atrás das grades. Colocar as mãos em um criminoso como Grabber era satisfatório, ao mesmo tempo que repugnante, para os dois policiais que o afastaram de Galeine, a deixando estendida no chão, tocada agora por Chad, que entrou logo depois do Agente por trás de toda aquela operação.

Grabber apenas queria que a trouxessem de volta, ele não olhava nada mais como negativo do que viver o resto de seus dias sabendo que ela não respirava mais, se importava com aquilo, precisava daquilo. Se acostumou com a presença dela, em tê - lá, em cuidar e manter, em ter uma rotina, em ser desejado, em sentir, sentir coisas, aumejar quereres, ser desafiado.

O paramédico junto com o bombeiro foram os penúltimos a adentrar, a preocupação de Chad só entregava a Grabber seu desespero, a forma como a pele de seu rosto envermelhou, por esfrega - lá e manter para trás as mechas de cabelo castanho, a negação que as cabeças dos socorrista ao checar o pulso e não haver sinais, era o mesmo que engolir o amargo do veneno que corroia o centro de seu peito.

Não devia perguntar o porquê aquilo acontecia, somente começar a pensar que o plano por trás de tudo funcionou, começando pela mídia do lado de fora da casa, aguardando para mostrar ao mundo sua face, escondida ainda pela máscara. Grabber estava em estado de negação, saindo algemado e escoltado, vendo o nublado do céu se aproximando para uma noite de chuva.

Ser enganado, o fazia ocupar o lugar de um perdedor e fraco, se olhasse ao redor veria que tudo não passou de uma premeditação, estavam todos em seus lugares, prontos para fazerem sua parte, e apesar de não querer acreditar, nem pensar que Galeine era mais um personagem para tira - lo de cena, tudo apontava para que fosse, a principal delas.

A morena sempre foi boa em surpreende - lo, bem mais que ele podia imaginar, era todos e tudo contra The Grabber e sua mentalidade egoica e masoquista, com uma pequena porcentagem de sensibilidade tocada pela doçura e de uma mulher, que o fez se perder de sua real identidade e objetivo.

Galeine não havia se atraído pela aventura que era se apaixonar por um desconhecido, máscarado, que traria a sua realidade um sentido e novas razões, mas pela idéia de transformar sua própria mente e impedi - lá de ser  controlada por quem tentasse subestima - lá, e coloca - lo no lugar que reservou a ela:

- E então. Como se sente? - o verde água das paredes do consultório, a recordava das cristalinas águas puras do mar e das piscinas, onde o sol dava contraste as suas cores vivas, ouvindo o clicar da caneta da terapeuta para esconder sua ponta, o barulho trouxe Galeine de volta a sessão

- Melhor - sorriu de lado, com os dedos entrelaçados das mãos no colo - O que você acha sobre isso? - respirou fundo, com a sensação de leveza, a terapeuta fez o mesmo, correndo os olhos pelas anotações, pensando em como resumir sua resposta

- Há uma peculiaridade entre você e Grabber

- Como? - o olhar fixo da morena aguardava a confirmação do que já esperava ouvir

- Ele nunca soube nem se quer dizer a razão que o fez te sequestrar, porque não havia uma, ele tentou criar justificativas, um cenário, uma vida, e você alimentou isso e o fez se perder em si mesmo, no que queria, no que estava fazendo, e o enfraqueceu, usou contra ele o próprio método que ele mesmo criou...... - fechou o prontuário, o colocando sobre a mesa, aprumando um pouco mais a coluna - ....como uma profissional, diria que estou orgulhosa - Galeine fez um ruído de riso, convencida e satisfeita  - ..... se mais mulheres experimentassem fazer isso, ninguém ousaria tentar controla - las, nem criar uma realidade mentirosa e tentar convence - las de que essa é a verdade

𝗗𝘂𝗿𝗮𝗻𝘁𝗲, 𝗲 𝗮𝗼 𝗱𝗲𝗰𝗼𝗿𝗿𝗲𝗿 Onde histórias criam vida. Descubra agora