𝟭𝟯. 𝗢 𝗢𝗰𝘂𝗹𝘁𝗼

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Somente duas vezes na vida, Chad viu Galeine chorar, ela costumava ter um lado emotivo mas nunca nada, fez suas pupilas expressivas ficarem tão tensas e vazias como quando esteve frente a ele, quatro dias depois de vê - lo pela última vez.

Nunca havia olhado para ele, com tanto alívio, como se ele pudesse resolver todos os problemas que tinha até então, como se fosse confiar nele todos os seus segredos mais intensos e assustadores. O modo como encostou o rosto em seu peito, e o abraçou, sem que ele fizesse isso primeiro, era um grande privilégio.

Sua voz tão angustiada, pedindo por ajuda, querendo dizer tantas coisas mas temendo tudo o que pretendia falar, e que nunca pode. Aquilo era o que se passava pela mente de Chad, enquanto manteve o cotovelo direito apoiado no armário de arquivos, com os registros dos jornais anuais da cidade.

Todos com reportagens sobre os desaparecimentos, e nenhum com informações sobre o paradeiro do que até então já deviam ser corpos, a mesma foto do fantasiado mágico, de costas, com uma capa de forro vermelho desbotado pelo desgaste do papel e balões escuros, indo para trás de um furgão, em um estacionamento, sem nenhum registro de seu rosto.

Chad olhava para a imagem, e não conseguia ver nada que lhe confirmasse algo ou que pudesse ser similar a Grabber, ele mal sabia o nome do mascarado mas, queria que houvesse algo que apontasse para ele, e que fosse essa a razão de Galeine estar com ele.

A morena colocava tudo que esteve sobre sua mesa dentro da caixa de papelão, era uma pena, considerava ela, por mais que não se encontrasse mais naquele espaço, era uma de suas razões e não restaram muitas. Pela janela do corredor, entre os vãos da persiana, Chad a viu passando, com os olhos fixos a frente, e a caixa nas mãos, ele não sabia se aquele era o melhor momento para aborda - lá, mas era o que acabaria de vez com aquilo.

Parado em frente a porta, encostado no batente, com as mãos no bolso, ele a olhava, esperando não precisar anunciar sua presença, apreciando a concentração e zelo que organizava tudo, sem pressa, mesmo com todas as razões para tê - lá. Ao contrário do que pensava, ela ficaria feliz em vê - lo, embora torcesse para aquilo não acontecer naquele dia.

Era estranho olha - lo, depois da última noite, onde o viu ser golpeado pelo homem que quase transou, e que desistiu por uma maldita máscara que a impedia de apreciar seu belo rosto. Galeine via seus olhos baixos, de quem tinha muito para falar mas não sabia por onde começar, com o receio de estragar tudo:

- Eu.... - disse por impulso, sem saber como prosseguir

- Fico aliviada por saber que está bem - respirou fundo, mantendo as mãos na caixa quase cheia, ele concordou, a observando

- Me desculpa, por ontem, por tudo - desviou os olhos dela para as persianas das janelas, na sala de aula onde estavam só havia carteiras e mais caixas de papelão onde os enfeites seriam guardados após o encerramento das festas de dia das bruxas - Na verdade, eu... - bufou, tentando buscar as melhores e mais rápidas palavras para se dirigir a ela - .... nunca quis esse cargo eu só, deixei a Loen me induzir a fazer isso ela....

- Gosta de você

- Não! - a corrigiu - Ela, só queria evitar que eu e você, tivéssemos algo e eu, pude ver isso na última noite...... eu estava lá quando, você e aquele homem chegaram, vi você de longe e custei a acreditar que não estava sozinha, ela foi a primeira a me flagelar com aquilo

- Sinto muito Chad - respirou fundo, cruzando os braços

- Se eu, te mostrar algo. Vai acreditar em mim? Se eu mostrar uma coisa sobre esse cara que você estava...

- Olha Chad.... - tentou interrompe - lo

- Por favor Galeine - gesticulou com as mãos

- Eu não quero mais brigar

- Não precisamos brigar - entrou dentro da sala, com seu jeito nervosismo controlado pela hiperatividade de suas gesticulações - Precisamos conversar, sobre algumas coisas que não conversamos,...... podemos começar por aquela noite, em que você apareceu depois de dias - Galeine desviou os olhos dos seus, visivelmente incomodada - Você falou, você, falou que precisava de ajuda, que um homem tinha....

- Eu sei o que falei... - o interrompeu mais uma vez

- Me deixa terminar! - fez o mesmo, gerando uma pausa de silêncio entre os dois - Você citou um homem, um homem que havia pegado você, te levado para uma casa e depois você apareceu com aquele cara. Quer que eu acredite que já conhecia ele? Porque, te conheço a anos, eu saberia se, estivesse interessada em alguém

- Como poderia saber disso? - arqueou a sobrancelha

- Pelo seu olhar, eu sempre os li muito bem, foi sempre através deles que soube se você está bem, se estava falando a verdade..... eles não mentem - conseguiu que ela o olhasse por segundos mais longos, surpresa Galeine não sabia o que responder - .... olha.... - deixou sobre a mesa os registros que reuniu dentro de uma pasta, ela franziu as sobrancelhas sem entender o que significava aquilo, até abri - lá - ..... São os registros de desaparecimento dos últimos anos, todas as pessoas que sumiram foram na época do Halloween..... essas pessoas nunca foram encontradas, a única diferença de todos os anos para esse, é que não houve nenhum desaparecimento - ela folheava os mesmos, chegando as imagens

- E o que isso tem haver? - olhou para ele, esperando que simplifica - se seu raciocínio

- Não aconteceu nenhum desaparecimento, porque de algum modo você teve sorte, você teve alguma coisa que impediu esse homem de sumir com você - sem rodeios, sentiu o alívio tomar sua garganta ao chegar no ponto que queria, Galeine continuou com as sobrancelhas franzidas, dando um passo para trás

- Eu não sei do que você está falando

- Sabe! - insistiu Chad, vendo o medo nas pupilas dela com sua aproximação, que a impediria de sair - Você sabe que esse cara que você está, é o sequestrador que pegou todas aquelas pessoas. E sabe como eu sei disso? - segundos após questiona - lá, pegou as últimas folhas da pasta, onde havia as imagens que a permitiam ver os cabelos próximos aos ombros, escondidos pela cartola - Por causa disso - mostrou a ela, Galeine desviou os olhos dele para as folhas, eles não se pregaram no mesmo detalhe que ele denunciou mas sim, nos balões negros, escondidos pelo furgão, a morena sentiu o gelo subir pelo centro do peito e o receio do desespero paralisa - lá, enquanto a recordação lhe trazia o momento em que Grabber surgiu com balões pretos repentinamente

- O que? - sabia que não havia sido a primeira vítima dele, pela experiência que demonstrou durante aquele tempo todo, e ainda que tivesse viva, Chad tinha razão quando dizia haver um motivo para tal

- Agora você sabe quem é ele, e agora eu sei o que você queria me dizer aquela noite... - fez uma pausa em seu pronunciamento, para não altera - lá ainda mais, respirando ofegante, pelo o que desejava concluir, sabia que iria machuca - lá mas aquela seria a única forma de fazê - lá voltar a razão - ... ele te manipulou Galeine, fez você aceitar ele como é - voltou as pupilas negras para Chad, com o brilho da frustração na esquerda, perplexa, ela demorou a respondê - lo

- Eu fiz a mesma coisa... - sentiu a lágrima escorrer, com o olhar baixo se lembrou dos primeiros dias no porão, onde não havia esperanças de sair - ... eu precisava sair de lá, então eu, o convenci de que se me trazesse para cá, eu pegaria algumas coisas e voltaria com ele

- Você foi inteligente tanto quanto ele, a diferença é que ele é um doente, que provavelmente se apaixonou por você pela sua aparência e depois pela pessoa que você é... - em silêncio mais uma vez, tinham ali um problema, do qual, não havia tempo para soluciona - lo - ... não posso deixar que continue nessa loucura

- O que vai fazer? - atenta, pareceu acatar a fala dele como uma ameaça

- O que nós vamos fazer, vamos
entrega - lo a polícia e fazê - lo dizer onde está os corpos

- Mas..... - a parte manipulada, sentia o peso que era perder as forças, ainda que soubesse que o querer contraditório de concordar com Chad e se dispor a fazer o que ele havia proposto fosse por acreditar e gostar da parte sensível de Grabber, o lado racional, obrigado a se ausentar para dar lugar a ilusão, a fazia ver que não havia como continuar com aquilo, o olhar dela esteve distante por diversas vezes, normalizando - se antes de dizer - ..... eu só não quero ver isso

𝗗𝘂𝗿𝗮𝗻𝘁𝗲, 𝗲 𝗮𝗼 𝗱𝗲𝗰𝗼𝗿𝗿𝗲𝗿 Onde histórias criam vida. Descubra agora