A clareira estava agora imersa em um silêncio que só a presença de Anemone perturbava. O desenho formado pelas folhas ao redor de seus pés parecia um mapa ancestral, uma bússola entregue pela própria natureza para guiá-la através dos caminhos invisíveis da magia. Ela memorizou cada linha e curva, ciente de que aquilo era um enigma a ser desvendado, uma chave para o entendimento de seu poder e propósito.
Tirando um pequeno caderno de notas do bolso de sua túnica, Anemone começou a esboçar o símbolo com dedos trêmulos. Era importante registrar cada detalhe, pois a intuição lhe dizia que aquele não era um acontecimento aleatório; o vento e a magia não agiam sem intenção.
Uma vez satisfeita com o desenho, ela levantou o olhar e notou que o sol já se erguia mais alto, banhando a clareira com sua luz dourada. Era hora de retornar à aldeia e buscar entendimento com sua mãe, Mariah, que certamente teria algum conhecimento sobre o simbolismo que a natureza lhe apresentara.
Ao se aproximar da modesta casa de pedra e madeira onde viviam, Anemone percebeu uma agitação incomum. Vozerio e o som de passos apressados vinham de dentro, e quando ela entrou, encontrou sua mãe no meio de uma reunião com outras mulheres do conselho da aldeia. Todas pararam de falar quando Anemone entrou, e em seus olhares havia uma mistura de respeito e expectativa.
"Anemone," Mariah começou, sua voz serena mesmo diante da tensão palpável, "estas são as horas em que o sussurro do vento se torna um clamor que não podemos ignorar. Há notícias que devemos compartilhar com você, notícias que talvez estejam ligadas ao que você descobriu esta manhã."
Uma das mulheres, com cabelos prateados que lhe caíam pelos ombros, deu um passo à frente. "A floresta tem mudado," ela disse, sua voz carregada de preocupação. "Há uma perturbação que sentimos, uma desarmonia no ar. E hoje, os animais estão inquietos, como se também sentissem essa mudança."
Anemone ouviu, o peso das palavras assentando sobre seus ombros como o orvalho da manhã. Ela retirou o caderno de notas e mostrou o desenho que fizera.
"Encontrei isso na clareira," ela explicou. "As folhas caíram em um padrão que não parece obra do acaso."
Mariah examinou o esboço cuidadosamente, seus olhos verdes brilhando com uma luz que Anemone reconhecia como excitação misturada com um toque de preocupação.
"Este símbolo é antigo, muito antigo," sua mãe disse finalmente. "É uma marca que tem estado adormecida na nossa terra por gerações. É conhecido como o Selo do Vórtice, uma representação de portais e passagens entre os mundos."
Um murmúrio percorreu o grupo de mulheres. O Selo do Vórtice era uma lenda, um pedaço de folclore que falava de tempos em que a magia era mais selvagem, menos compreendida.
"O que isso significa para nós?" Anemone perguntou, sua voz firme apesar do crescente turbilhão de perguntas em sua mente.
"Significa," Mariah começou com cautela, "que talvez você tenha sido escolhida para algo que vai além de nossa compreensão imediata. O vento trouxe você até o símbolo por um motivo. Você deve se preparar, minha filha. Deve aprender a escutar não só o vento, mas também o que jaz no espaço entre os sussurros."
Anemone assentiu, sentindo a responsabilidade de seu legado e de seu destino a envolvendo mais firmemente do que nunca. Ela sabia que não podia se dar ao luxo de temer o desconhecido; em vez disso, dever ia se empenhar para entender o poder que lhe havia sido confiado.
"Como devo me preparar?" Anemone perguntou, com um vislumbre da determinação que começava a firmar-se dentro dela.
Mariah se aproximou, colocando as mãos sobre os ombros de Anemone. "Você começará com os livros e os pergaminhos dos antigos," disse ela. "Há sabedoria em nosso passado que nunca compartilhamos com você, pois esperávamos o momento certo. Além disso, você deve se conectar com os elementos, aprender a compreendê-los e a se harmonizar com eles."
As outras mulheres assentiram em concordância, seus rostos agora marcados por uma solene seriedade.
"Você deve também ir até o Coração da Floresta," disse a mulher de cabelos prateados. "Lá, no centro mais profundo onde o véu entre os mundos é fino, você pode encontrar respostas e talvez uma maior compreensão do Selo do Vórtice."
Anemone sabia do lugar ao qual ela se referia, uma parte da floresta que poucos visitavam e sobre a qual muitos murmuravam histórias à luz das fogueiras. Era um lugar de mistérios e antigos poderes, onde o vento falava mais forte e a terra guardava segredos de eras passadas.
Com um aceno de cabeça, Anemone aceitou a jornada que estava diante dela. Após a reunião ter se dispersado, ela passou o resto do dia mergulhada em estudos, lendo tudo que podia sobre os elementos, sobre magia e sobre a história esquecida de sua própria linhagem.
Conforme a noite caía e uma tapeçaria de estrelas começava a adornar o céu, Anemone sentia-se cada vez mais imersa em um mundo que até então apenas vislumbrara. Era um universo onde o sutil e o poderoso caminhavam de mãos dadas, onde cada sussurro do vento era um idioma a ser decifrado, e onde cada movimento da natureza era uma peça de um quebra-cabeça cósmico.
No silêncio de seu quarto, sob a luz de uma vela que lançava sombras dançantes pelas paredes, Anemone segurou o colar que era seu legado. "Lágrima do Vento," ela sussurrou, "guie-me através das tempestades e das brisas, através das verdades e das ilusões. Eu estou pronta."
E com essas palavras, o capítulo três chegou ao fim, deixando Anemone à beira de um caminho repleto de descobertas e desafios que moldariam o destino não só dela, mas de todos aqueles que a ventania tocava. A jornada de Anemone era a jornada do vento, e como o vento, ela sabia que iria onde precisasse ir, faria o que precisasse fazer, e seria o que precisasse ser.
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Sussurros do Vento
Romance"Sussurros do Vento" é um convite para cruzar o véu entre o comum e o extraordinário, uma viagem ao cerne da alma onde cada brisa narra uma saga ancestral. Na voz de Anemone, filha do vento e bruxa da vida, descobrimos que cada rajada e cada sopro s...