Capítulo 7: A Senda das Sombras

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A jornada de Anemone a conduzia por uma tapeçaria de paisagens, cada uma tecida com sua própria essência e mistérios. Conforme se distanciava da aldeia, os caminhos tornavam-se menos familiares, as árvores contavam outras histórias, e o vento sussurrava em dialetos desconhecidos.

O crepúsculo a encontrou em uma floresta densa, onde a luz do dia lutava para penetrar o dossel espesso. Ali, os sons eram amortecidos, e a quietude era um ser vivo, palpável. Anemone sentiu-se como uma intrusa naquele lugar sagrado, onde cada passo tinha que ser medido e cada respiração respeitosa.

À medida que a luz desaparecia, as sombras ganhavam vida. A bruxa sabia que, no mundo das sombras, amizades e inimizades eram incertas. Seus olhos se adaptavam à escuridão, e ela caminhava com a confiança de quem conhecia o idioma do mundo noturno, falado em sibilos e farfalhares de folhas.

Naquela noite, ela não acendeu fogueira, sabendo que a luz poderia atrair mais do que mariposas. Sob a proteção de um carvalho ancestral, Anemone preparou seu leito com folhas secas e feitiços de proteção. A floresta poderia abrigar perigos, mas também era uma aliada para aqueles que respeitavam seus segredos.

Antes de entregar-se ao sono, Anemone tirou de sua bolsa uma pequena pedra lisa, um talismã que a ajudaria a encontrar seu caminho nos sonhos. Enquanto o mundo físico descansava, ela viajaria em busca de visões, orientações que o vento não podia oferecer na vigília.

Nos sonhos, ela viu uma cidade de torres brilhantes, refletindo a luz das estrelas. Sentiu o calor de uma força que não era do sol, mas de corações e mentes unidos em um propósito. A cidade era um farol, chamando-a para perto, prometendo respostas, prometendo encontros. Anemone sabia que era lá que ela deveria ir, onde o próximo pedaço do quebra-cabeça aguardava.

Ao despertar, sentiu-se renovada, apesar da camada de orvalho que cobria sua pele. O sonho tinha sido claro, a direção inequívoca. Com a primeira luz da manhã, ela guardou o talismã e partiu, seguindo a trilha que os raios de sol criavam no chão da floresta, uma estrada de luz entre as sombras.

O caminho a levou por vales onde rios cantavam e montanhas onde o eco de suas próprias passadas retornava com histórias de tempos imemoriais. Anemone falava com a terra, escutava o vento, observava o céu. E cada elemento lhe dava um sinal, um símbolo, um pedaço do todo.

O sol estava a pino quando ela emergiu da floresta, pisando em um campo aberto onde o horizonte parecia recuar para longe. Ela pausou, sentindo a transição, como se passasse por um portal invisível. Ali, o vento era mais forte, como se estivesse ansioso por guiá-la.

Ela ergueu os braços, fechou os olhos e deixou que o vento a envolvesse, ouvindo seus sussurros. As palavras vieram como uma carícia, uma direção sussurrada para o oeste, onde o dia se encontrava com a noite e onde a cidade dos sonhos a aguardava.

E com o vento a lhe guiar, Anemone partiu para o oeste, para o encontro com seu destino.

Com o vento sussurrando promessas de destinos entrelaçados, Anemone atravessou o campo aberto. Seu coração batia em compasso com o ritmo da terra, cada passo a aproximava mais do mistério que envolvia a cidade dos sonhos. À sua frente, o terreno elevava-se suavemente, levando-a para colinas ondulantes, adornadas com o dourado da grama que dançava ao toque da brisa.

A tarde avançava, e o sol começava sua descida majestosa, tingindo o céu de laranja e púrpura. O crepúsculo era o momento em que o mundo parecia suspender o fôlego, uma pausa entre o dia e a noite, entre a vigília e o sonho. Anemone sabia que as horas do entardecer eram poderosas para uma bruxa, o tempo em que a magia era mais plena, o véu entre os mundos mais fino.

Ela decidiu aproveitar essa hora mágica. Parou no topo de uma colina, onde uma pedra plana e ampla oferecia um altar natural. Com gestos seguros, Anemone dispôs pequenos artefatos ao redor da pedra: cristais que capturavam a luz moribunda do sol, folhas secas que sibilavam segredos da floresta e uma pena que parecia vibrar com as canções do vento.

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