Capítulo 5: O Véu da Revelação

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A luz do amanhecer tingia o céu de um laranja suave quando Anemone partiu do Coração da Floresta. A viagem de volta à aldeia não era apenas uma passagem física, mas uma transição interior, uma metamorfose que a tornava alheia à pessoa que era na véspera. Cada passo era um aprendizado, cada respiração uma lição.

A floresta parecia reconhecê-la como uma de suas guardiãs agora, os animais não fugiam à sua passagem, mas a observavam com olhares perspicazes e curiosos. Ela sentia as plantas mais vivas, seus sussurros vegetais não mais um mistério, mas uma conversa em que ela podia participar.

Ao atravessar o Riacho do Orvalho, Anemone parou, refletindo sobre as visões que lhe foram concedidas. Havia claridade em seu espírito, mas também inquietude. As imagens de terras distantes e desconhecidas a assombravam, pressagiando uma missão que se desenrolava muito além dos limites de sua aldeia.

O sol já havia se levantado no céu quando ela viu as primeiras casas entre as árvores. Crianças brincavam descalças na beira da estrada, correndo atrás de uma bola de couro. Os olhos delas acompanhavam Anemone com admiração e um leve temor reverente. Ela sorriu, acenando tranquilamente, sua aura calma afastando qualquer receio.

À medida que se aproximava de sua casa, ela notou a agitação. Sua mãe, Mariah, estava na porta, os olhos buscando a filha. Quando seus olhares se encontraram, uma onda de emoções transbordou entre elas. Mariah correu ao seu encontro, envolvendo Anemone em um abraço apertado que dizia mais do que palavras poderiam expressar.

"Você voltou," sussurrou Mariah, suas palavras carregadas de alívio e amor.

"Voltei," Anemone confirmou, sua voz firme, mas os olhos marejados de lágrimas. "E trouxe comigo mais do que fui buscar."

Mariah deu um passo para trás, estudando o rosto da filha. "Vejo em seus olhos," ela disse suavemente. "Você viu o véu ser levantado."

Anemone acenou com a cabeça. "E há muito mais além do que eu esperava."

A notícia de seu retorno se espalhou rapidamente e, em pouco tempo, um pequeno grupo havia se formado ao redor de sua casa. Havia respeito em seus sussurros, e os mais jovens olhavam para ela com um misto de admiração e desejo de ouvir suas histórias.

No entanto, antes que ela pudesse descansar ou partilhar suas experiências, o Ancião da aldeia se aproximou, seu andar lento e ponderado. Ele parou diante de Anemone, olhando-a nos olhos com uma intensidade que parecia atravessar sua alma.

"Anemone," ele começou, sua voz grave como o som distante de trovão, "sua jornada começou de maneira que poucos testemunharam. O que você encontrou no Coração da Floresta mudará não apenas sua vida, mas também o destino de todos nós."

Ela inclinou a cabeça, aceitando a verdade nas palavras dele. "Estou pronta para seguir o caminho que se abre à minha frente," afirmou ela, sentindo o peso e o poder de seu próprio destino.

"Então prepare-se," disse o Ancião, "pois as visões do riacho não são meras ilusões, mas vislumbres do que está por vir. E você, Anemone, deverá ser nossa mensageira, nossa protetora, nossa bruxa do vento."

O dia deu lugar à tarde, e enquanto o céu ganhava tonalidades de púrpura e ouro, Anemone refletia sobre suas responsabilidades. Ela sabia que o tempo para descansar seria breve; o vento já começava a trazer-lhe sussurros de movimentos distantes e de uma inquietude que crescia nas sombras.

Enquanto a aldeia se recolhia para a noite, Anemone permaneceu à parte, sentindo o manto do crepúsculo envolver a terra. O vento trouxe consigo aromas e murmúrios, contando-lhe segredos que só ela poderia compreender. A brisa noturna era como um mensageiro, e cada sopro parecia vital, repleto de presságios.

No silêncio do entardecer, ela se dirigiu ao ponto mais alto da aldeia, um local onde as pedras se erguiam, tocando o céu. Sentando-se entre elas, Anemone deixou sua consciência se expandir, tocando o véu fino que separa os mundos. Ela procurou nas correntes de ar as pistas do que estava por vir, as advertências sobre o caminho que deveria trilhar.

As estrelas começaram a cintilar, cada uma contando uma história de sua própria existência. Elas pareciam dançar em harmonia com o sopro do vento, e Anemone sentiu seu coração bater no mesmo ritmo. Então, uma estrela cadente riscou o céu, uma faísca de luz que desapareceu tão rapidamente quanto surgiu, e ela soube que aquele era um sinal.

A mensagem era clara: em breve, uma viagem a levaria para longe da segurança de sua aldeia, em busca de respostas e soluções para ameaças ainda desconhecidas. Ela teria de enfrentar perigos, desvendar mistérios e aprender a controlar as chamas da paixão que ardiam dentro de si – aquela mesma paixão que a impulsionava a agir e a defender.

Ela retornou à aldeia quando a lua já estava alta, sua luz prateada lançando um brilho etéreo sobre as casas. Anemone foi direto para a casa onde cresceu, para os braços de sua mãe que a esperava acordada.

Mariah olhou para a filha, percebendo o brilho determinado em seus olhos. "Você encontrou o que estava procurando?"

Anemone se sentou ao lado da lareira, onde uma chama amigável crepitava. "Encontrei algo que nem sabia que precisava," ela respondeu. "O caminho que devo seguir. Há uma tempestade se formando além das nossas fronteiras, e eu devo encontrá-la antes que chegue até nós."

Mariah assentiu, sabendo que o destino de sua filha sempre fora tecido com fios de coragem e destino. "Você não estará sozinha," ela disse suavemente. "Nós sempre estaremos com você, em espírito e em amor. E o vento... O vento será seu guia."

Com as últimas brasas da noite murmurando promessas de proteção, Anemone fechou os olhos e se permitiu descansar. Ela precisava daquela calma antes da tempestade, da paz antes do desafio. Porque quando a aurora chegasse, ela começaria a traçar seu caminho no mapa do mundo, seguindo os sussurros do vento e o chamado do seu destino.

Sussurros do VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora