Cap 17: Presente dos meus traumas

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Mais uma tarde, Mônica e Ben se encontrariam para finalizar seu trabalho. Benjamin tinha ido ao colégio mais cedo, pois seu treinador tinha o chamado para uma reunião. Suas notas estavam baixas e ele tinha risco de perder a bolsa de estudos se não tirasse uma nota acima de 8 logo, essa era a última coisa que ele queria naquele momento, precisava daquela bolsa, se não não teria mais como treinar. O treinador deu uma boa bronca em Shelton, ele estava muito distraído e também viu que o garoto estava frequentando muitas festas, o garoto obviamente se estressou, mas sabia que o mais velho estava certo, o problema não foi exatamente esse, mas o fato de sua mãe e seu pai ligarem bravos por conta daquelas notícias.

O que eles tinham a ver com isso? Nunca ajudaram Ben com nada, nunca se interessaram em sua carreira, aquilo era mérito dele e de mais ninguém, mas mesmo assim teve de ouvir os pais brigarem por notas baixas, não era da conta deles aquilo, nem se quer entendiam o que Ben fazia na escola, não faziam ideia de nem 1% de seu talento, apenas repetiam que ele não dava nenhum retorno à ele, "tanto investimento" pra nada, como se eles tivessem ajudado com algo, a única pessoa que poderia falar isso agora seria Bea, não eles, seus pais não tinham aquele direito, se Bea estivesse lá ela saberia o que fazer, mas não estava...

Mesmo com a cabeça cheia de problemas e estressado ele foi até a biblioteca para encontrar Mônica, levando cappuccino e jujubas para a garota. Se passou meia hora, uma hora, duas horas de atraso. Ele já estava nervoso quando a garota chegou, sorrindo como se nada tivesse acontecido.

Mônica: Desculpa o atraso, Benny, eu...

Ben: Tem ideia do tempo que eu tô te esperando aqui!? Porr*! Eu sei que pra você essa nota não vale nada, mas é tudo que eu preciso, Mônica Sofia! Tem ideia do quão egoísta é você sumir assim, sem nem dar um aviso!?

Mônica: Benny, calma, eu só tive um problema e...

Ben: Ah claro, problema! Que tipo de problema você ia ter? Sabe eu tinha coisa melhor pra fazer agora também, podia tá treinando, mas tô aqui, porque ao contrário de você, a minha vida não é mil maravilhas, eu não tive tudo de mão beijada, tenho que me esforçar pra conseguir as coisas! Me fala, Mônica Sofia, o que foi tão importante pra você ficar 2 horas atrasada sem me dar um mínimo aviso!? A mamãe não quis te levar pra comprar uma bolsa nova?

Mônica: Não fala da minha mãe, você não sabe o que...

Ben: O que eu não sei, Mônica!? Da sua vida? Ah eu sei sim. Conheço as pessoas iguais a você, nunca sofreram com absolutamente nada a vida inteira! Papai e mamãe sempre fizeram tudo por você, tem todo dinheiro e privilégios do mundo, nunca teve que sofrer ou se esforçar pra nada! Tudo sempre foi muito fácil pra você não é?

Mônica: Claro, tudo sempre foi super fácil na minha vida, Benjamin! Sabe... você não faz a mínima ideia da realidade. Você faz alguma ideia de como é crescer com um pai depressivo, vivendo com um constante medo de acordar e ele ter se matado? Ter que tomar cuidado com tudo que fala e como age porque absolutamente TUDO pode ser um gatilho pra ele? Oh não não, você provavelmente sabe o que é a dor de ver os seus dois únicos e melhores amigos morrerem na sua frente quando você tinha 8 anos e você não poder fazer absolutamente NADA sobre isso, aquela cena ficar presa na sua mente pra sempre, o som das vozes deles na sua cabeça, a agonia, a dor e o sangue, você faz ideia? Não, melhor, você com certeza então sabe como é não ter nem sequer conhecido sua mãe, porque ela foi morta pela polícia quando você era só um bebê e você passar a vida INTEIRA imaginando como seria se ela tivesse aqui, você com certeza sabe como é a dor de saber que você nunca vai ver ela, abraçá-la e saber se ela teria orgulho de você, se ela te amou, se ela se quer sabe a falta que ela faz na sua vida, você claramente entende essa dor, não é? Você ter medo de se aproximar das pessoas ou de se expressar, porque sabe que elas vão te abandonar e te machucar de novo! Você faz alguma ideia do que é não conseguir se deixar sentir mal, porque você tem que cuidar dos outros e o seu mal estar faz mal pra eles, você ser uma criança e já ser preocupada em cuidar dos outros, porque mesmo que todo mundo esteja lá por você, você se sente completamente sozinha!? Ser diagnosticado com depressão, ansiedade e crises do pânico só com 9 anos? Mas você com certeza sabe bem melhor de todos os meus traumas do que eu não é, Benjamin? Porque a sua vida com certeza foi bem mais difícil que a minha, então me conta, o quão ruim foi a sua vida e como a minha é maravilhosa.

Ela sai de lá às pressas, nervosa, ele tenta chamá-la ao perceber a besteira que fez.

Ben: MÔNICA, ESPERA! Eu... (ela já estava longe) idiota, idiota, idiota. Mônica! Por favor me escuta!

Mas ela não estava mais lá, correu para qualquer outro lugar, suas mãos começaram a tremer, sua respiração era falha e ela só queria chorar, de novo não... era como se o mundo tivesse desabando de novo. Ela encontra forças para mandar uma única mensagem, sua localização para Tom, aquilo já diria que ela estava com problemas, depois disso, nada mais fez sentido, sua visão embaçou, parecia que o oxigênio acabara e ela só conseguia chorar. Em menos de 10 minutos, que pareceram anos, Tom chegou junto de Ana Júlia.

Tom: Merda... ei, Mo, todo está bien ahora, va a quedar todo bien, pequeña, yo estoy aquí ahora, hermanita, ¿todo bien? Vamos, vámonos a casa. ( tá tudo bem agora, vai ficar tudo bem, pequena, eu tô aqui agora, maninha, certo? Vem, vamos pra casa.)

Mônica: Ok...

A garota se agarra nele, sem parar de chorar, mas com um pouco mais de ar nos pulmões, Ana Júlia dirigiu até a casa de Rafinha, que estava fazia, já que este estava trabalhando, Tom acariciou os cabelos da irmã todo o tempo, tentando acalma-la, ele sabia exatamente o que fazer quando essas crises ocorriam, o espanhol era uma forma de fazer o pensamento dela focar em outro tópico, lembrá-la de que ela não estava sozinha ajudava a trazê-la de volta à realidade e o contato físico trazia seus sentidos de volta aos poucos, era o que ajudava Mônica, desde pequena, os mesmos passos, os mesmos gatilhos e as mesmas curas.

Presente do Destino - Tiago Santineli Onde histórias criam vida. Descubra agora