"Só existe um problema filosófico realmente sério: o suicídio. Julgar se a vida vale ou não vale a pena ser vivida é responder à pergunta fundamental da filosofia. O resto, se o mundo tem três dimensões, se o espírito tem nove ou doze categorias, vem depois. Trata-se de jogos."
~ Albert Camus
"Um pensamento absurdo"?
Quando eu tinha entre 14 e 17 anos eu tive mais problemas do que muitas pessoas tiveram durante todas as suas vidas. Minha mãe me xingava todos os dias, tinha surtos repentinos, dívidas (que caíram no meu colo), meu padrasto era alcoólatra, eu tinha uma comunidade no amino para cuidar (que teve tretinha com grupos neonazis), uma amiga importante se suicidou, outra quis parar de ter contato comigo, minhas notas abaixavam cada vez mais, eu era deprimido e tinha muitos pensamentos suicidas.
"Um dia me disseram que as nuvens não eram de algodão, um dia me disseram que os ventos as vezes erram a direção..."
Duas coisas me mentiam vivo: eu não queria que meus amigos ficassem tão mal quanto fiquei quando minha amiga morreu e eu achava que tudo ia passar quando eu fizesse 18 afinal conseguiria sair de casa.
E uma bônus: eu era péssimo em tentar me matar. Todas as vezes que tentei foi com faca de serrinha (kkkkkk)
Ok, eu sai de casa, final feliz?
Não. Eu tinha expectativas muito altas sobre mim, expectativas que até hoje não cumpri totalmente. Passei muito tempo desempregado e sem ter um negócio dando certo (eu tentei as duas coisas ao mesmo tempo). Mas...
"um dia me disseram quem era os donos da situação, sem querer eles me deram as chaves que abrem essa prisão".
Os resultados chegaram, mas nunca eram o suficiente. Parte porque minha qualidade de vida não aumentava ao mesmo tempo que eu ganhava mais dinheiro (parte por dívidas, parte por ter que comprar remédios e parte por coisas que não estou afim de falar sobre).
Sempre faltava algo... e eu descobri o que faltava: os remédios certos. Quando eles chegaram na minha vida, tudo começou a dá certo.
Antes eu tive que dá uma última flertada com o suicídio... o bipolar (que não tinha sido diagnosticado) recebeu doses de antidepressivos, o que em bipolares tem um efeito curioso: faz eles quererem se matar mais.
Bem, eu estou aqui escrevendo isso, eu resolvi a questão mais importante da filosofia, ao menos pra mim.
Já conversei com uma garota que o mundo e sua vida a incomodavam tanto que ela tinha crises e pensava em suicídio. Eu passei por essa fase e o que disse pra ela foi: ou você precisa resolver esses pensamentos consigo mesma, ou precisa de remédios.
As pessoas veem remédios com olhos ruins, mas a gente simplesmente não tem culpa se nossa cabeça não funciona como a das pessoas normais.
Você conhece a história do Mito de Sisifo? Resumindo bastante, ele foi um cara condenado pelos deuses a empurrar uma pedra redonda até o topo de uma montanha só para ver ela cair e depois voltar ao mesmo processo infinitamente. Camus diz que nossa vida é como a desse cara.
Então voltando ao seu pensamento absurdista, para ele, do que vale a beleza, a música ou o sexo se iremos desistir? Se sentimos que não temos um motivo para empurrar a pedra todos os dias?
Ele chama toda essa condição de "absurdo".
Para ele a mesma habilidade que faz a gente questionar o absurdo é o que nos tira dele. Se não temos um porquê instalado na nossa cabeça assim que nascemos (um porquê de carregar a pedra), temos liberdade para criarmos o nosso porquê.
E o absurdo dessa realidade sem motivo traz 3 consequências: a liberdade, a paixão e a revolta.
A liberdade que você ganha para criar o seu porquê.
A paixão, porque o absurdo não torna o doce menos saboroso, a arte menos apreciável ou o sexo menos prazeroso
E por fim a revolta que temos pelo absurdo, porque apesar dele, nós levantamos todos os dias para empurrar essa pedra por pior que esteja nossa condição.
Eu conheci Camus através da minha banda favorita, "Engenheiros do Hawaii", daí o nome desse capítulo e daí os trechos que tirei.
Outra coisa interessante sobre o suicídio é pensar em como os seres humanos evoluíram por milênios com 2 únicos objetivos: sobreviver e ter filhos. E mesmo adaptando nosso corpo a nos deixar vivos, a gente vai lá e faz tudo o que é "darwinisticamente" falando incompreensível.
Sabe, faz pouco tempo que viver deixou de ser um fardo pra mim, que pensamentos suicidas não são recorrentes... Sou bipolar, e bipolaridade é o transtorno que mais leva ao suicídio. Me lembro de quando minha mãe meio que esfregou na minha cara que não me abortou, me lembro de como eu achava que ela deveria ter feito isso porque acabou sobrando pra mim tentar suicídio e como já disse, não sou bom nisso...
Eu diria que o que me mantém vivo hoje são os remédios e ter escolhido a pedra que eu gosto de carregar. Terapia nunca fez o efeito em mim que dizem fazer por aí. Ter uma rede de apoio também não. Falar sobre meus problemas raramente me ajuda a lidar com eles... Não estou dizendo que você não deva fazer tudo isso, estou dizendo que para mim não é o suficiente.
Bom, não vou revisar porque não é um texto que vou usar para outras coisas, então vai ficar assim mesmo, quem sabe eu não edite e adicione mais coisas (ou até revise)
