"No final dos anos 60 e início dos 70 um grupo de psicólogos da Universidade de Stanford conduziu um teste para saber o que pessoas de sucesso tinham em comum. Na época as pessoas costumavam associar sucesso a inteligência e esse experimento veio para desafiar essa visão.
Pegaram um grupo de crianças, isolaram ela em uma sala por alguns minutos e colocaram nessa sala 1 mesa com 1 marshmallow em cima dela. O combinado era o seguinte: se você não comer, ao passar daquele tempo seria recompensado com 2 marshmallows.
Algumas crianças passaram nos testes, outras não; mas enfim, os participantes continuaram sendo monitorados até a fase adulta pelos profissionais que aplicaram os testes.
E pelo que foi observado as que mais tiveram sucesso financeiro não foram as que tiveram as que tiveram melhores notas na escola, foram as que se deram melhor nesse teste.
E assim nasceu os primeiros estudos relacionados à inteligência emocional."
Por que essa porra tá entre aspas? Fui eu que escrevi! Estou citando ninguém!
Então, é porque eu já usei isso em vários roteiros. O primeiro foi um roteiro rejeitado para um canal grande que tive a chance de me tornar roteirista, no segundo era um que eu já escrevia e só copiei e colei, o terceiro foi um cliente gigante que me paga muito bem e que eu tive que parafrasear e mudar o contexto. Tanto a primeira quanto a última vez foram textos testes. A questão é que os marshmallows sempre estavam lá como fonte de inspiração. Só que será que sempre estavam lá mesmo?
Essa é a explicação simples para o teste do marshmallow. A complexa eu nunca citei em nenhum lugar, mas envolve aspectos sociais. Você talvez coma 1 marshmallow agora ao invés de 2 depois porque você nunca teve marshmallows, porque mentiram para você sobre você ganhar coisas, porque sua experiência mostra que não vai existir uma amanhã.
Isso é sobre sacrificar o curto prazo pelo longo prazo, mas no longo prazo estaremos todos mortos. Talvez não exista marshmallows. Mas e se você estiver vivo? Essa chance existe. E ai?
Agora que terminei de mostrar que as coisas não são tão simples assim, eu quero usar o experimento como uma analogia sobre coisas que andei refletindo.
A partir de agora nada tem base científica ou filosófica, mas mesmo assim sei que vai se ver no que estou falando.
Vamos pegar uma sala do ensino médio como parâmetro. De preferência uma de escola pública, onde há diferentes realidades convivendo.
Algumas pessoas ganham marshmallows todo dia, outras tem acesso a um saco inteiro para comer quando quiser, outras tem marshmallows recheados com os mais variados doces, uns tem muitos, outros pouco, outros quase nada.
Não veja marshmallows apenas como recursos financeiros. Imagine também como a qualidade da relação com os pais (que é muito importante durante essa fase), das relações com os colegas de sala, do quanto você é incluído ou excluído.
Como era quando recebia boas notas? E os namorinhos? O quanto isso impactava sua autoestima?
Eu fui alguém que viveu sem marshmallows. Tive 3 grandes amigos apenas, eles e os colegas de sala estavam ficando, eu não. Alguns professores não gostavam de mim porque eu passava a aula lendo livros que não tinha nada haver com a matéria deles. Eu sempre gostei de não ficção, minha relação com esses livros renderia um texto a parte.
Eu sabia que não seria aceito ali, sabia que não era aceito em casa; mas fui aceito em um trabalho como professor de informática que me abriu muitas portas, fui aceito como líder da turma pelo diretor, já havia feito muito por muita gente.
Faz 5 anos que sai daquela escola.
Eu impressionava quando lia Adam Smith, quando programava em Phyton, quando editava vídeos... sem cursos, sem incentivo, apenas pensando que um dia teria muitos marshmallows. Parecia que nada desse esforço importava quando eu chegava em casa e escutava minha mãe dizendo que eu era um merda porque minha nota estava baixa, porque não conseguia me ver em faculdades de elite como medicina, porque era incapaz de socializar com a família do meu padrasto...
Ia e voltava todo dia da escola escutando Gorillaz escutando:
I ain't happy, I'm feeling gladI got sunshine in a bagI'm useless but not for long
The future is coming on
Lia livros sobre bilionários que saíram do 0, bandas que conquistaram o mundo, imperadores que venciam em menor número... meus amigos virtuais me apoiavam muito... e era isso.
2 longos anos sem marshmallow.
Bem, eu ganhei mais marshmallows que meus amigos de escola (mesmo eles tendo começado na minha frente). Ainda estou pra trás em questões como namorinhos, mas já tive meu trabalho extremamente elogiado, conheci garotas incríveis e viajei mais que todos eles.
Tudo graças ao que comecei durante aqueles 2 anos, os anos que eu percebi que eu não era o suficiente e que resolvi que me esforçaria para ser.
Agora vamos falar sobre neurologia...
Receber marshmallows de mais pode não ser bom. Você pode ficar sem estímulos pra procurar coisas que te façam bem e que dão recompensas. Um alcoólatra, por exemplo, estaria ingerindo algo como marshmallows com espinhos. É bom, ainda é marshmallow, mas vai te machucar por dentro.
Quando falamos dessa dopamina existem várias variações de como você recebeu. Tudo é sobre estímulos e recompensas jogados no seu ambiente.
Eu ainda sinto como se quisesse mais marshmallows... e isso me confundi as vezes... queria olhar pra trás e pensar que tudo valeu a pena... estou cada dia mais perto disso, mas ainda estou longe...
Então o paradoxo é...
Só se dá bem no longo prazo quem sacrifica o curto prazo, mas no longo prazo estaremos todos mortos (ou não).
Existem diferentes tipos de marshmallow. Uns fazem mal, outros fazem bem, a escassez pode te jogar pra frente, pode te jogar pra trás, assim como a abundância deles pode te fazer ir pra frente ou pra trás, é mais sobre como esse estímulo é distribuído e como você lida com ele.
Muito provavelmente, quem você é foi definido pela forma que esses estímulos foram jogados em você.
