Por amor as causas perdidas

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Durante a infância queremos ser algo meio sem filtro. Conheci pessoas que queriam ser astronautas, eu queria ser um ninja; enfim, passamos a maior parte da nossa vida trabalhando, por que alguém iria querer um trabalho insatisfatório?

Na verdade algumas pessoas não tem opção, seja pela sua condição social, seja pela coerção social, seja por medo de arriscar.

Tem um livro que gosto muito sobre isso. Se chama "O Alquimista", do Paulo Coelho.

Tudo nesse livro é interessante, a começar pela forma como ele é visto.

Há um grande público de pessoas que chama de cultura de massa, que diz que é um livro raso e comercial, que diz que é livro "do povão", que diz que é baixa literatura. Tudo por causa de um motivo: é um livro simples.

Paulo Coelho disse que aprendeu a escrever simples com Raul Seixas. Os livros desse autor vendem muito mais fora do país do que aqui.

O principal conceito do livro é a "lenda pessoal", aquilo que sabemos desde jovens que queremos fazer; mas que muitos deixam de lado.

No meu caso, eu queria ser empresário e compositor; além de que me via escrevendo alguns livros. Eu também desenhava mapas durante as aulas e até hoje sei a maioria das capitais dos países.

Eu alcancei a maioria dos meus sonhos, os que não alcancei estão ao meu alcance.

"Mãe, eu comprei uma guitarra elétrica, durante muito tempo isso foi tudo que eu queria ter, mas alguma coisa ficou pra trás... antigamente eu sabia exatamente o que fazer"

Um dos meus sonhos foram realizados, mas por algum motivo sinto que falta algo.

Recentemente levei um tiro no meu emocional que me fez ir de 2 remédios para manter a cabeça no lugar (sou bipolar) para 5. Começou a vim aquela sensação de que eu deveria estar triste, mas não estou. Um amigo disse que o lítio deixava apático mesmo, mas sobre isso eu vou falar em outro momento.

É engraçado perceber que tem coisas que o dinheiro não compra, né?

Hoje uso para me motivar 2 coisas. Primeiro: eu sempre quis ter o que tenho. Devo ser grato a isso. Segundo: "por amor as causas perdidas".

Ser escritor é viver um sonho de infância como Saint-Exupéry viveu, é agir "por amor as causas perdidas" como os engenheiros cantaram e é o que eu sou a mais de um ano. É ter emoções na minha mão, brincar com conceitos, fazer e desfazer nós, provocar sem consequência. Sou muito grato todos os dias por ter me tornado um.

Tive que lutar com dragões bem reais para chegar onde cheguei. Não eram moinhos de vento. Talvez os próximos sejam, mas se forem mesmo... pelos menos foi por amor as causas perdidas.

Sei que muita coisa que eu sinto é mais sobre a química da minha cabeça do que sobre sentimento. É claro que também estou a mercê dos estímulos e recompensas jogados no ambiente. Realizar minha lenda pessoal não foi o suficiente pra me deixar feliz, eu precisei de mais 5 remédios e muita terapia... e as vezes isso também não parece ser o suficiente.

Tem uma coisa que eu imagino que possa ser. Tenho medo de que quando eu tiver não seja ela ou que talvez eu já tenha ela e apenas não dê valor. 

De qualquer forma, vou seguir testando e indo adiante. Aprendi muito sobre testes nos últimos anos; na verdade aprendi muita coisa...

Enfim; não é por mim, eu nunca faço as coisas por mim... então que seja por amor as causas perdidas.

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