O domingo amanheceu com um ar de ansiedade; todos pareciam querer que o sol fosse embora rapidamente para que a noite chegasse, trazendo com ela a festa de boas-vindas não oficial.
Confesso que eu também estava ansiosa pela minha primeira festa. Não vai ser como os bailes dos livros de romance, com vestidos esvoaçantes e cavalheiros extremamente bonitos, mas, para quem ficou trancafiada por dez anos em um porão, acho que é um bom começo.
A festa será em um dos jardins da escola, segundo Makayla, o mais descampado e com o coreto mais bonito para uma dança romântica — não que eu tenha um par, é claro.
Makayla me ajuda a escolher entre dois vestidos: um azul com flores de alças finas e saia rodada, e outro, no mesmo modelo, com estampa de ursinhos. Escolhemos o de ursinhos, e combinamos com uma camisa de renda com mangas bufantes e gola alta por baixo. Arrumamos meu cabelo em um meio-preso para trás e, por fim, estou pronta, usando as botas de cano curto creme emprestadas pela minha colega de quarto.
Makayla optou por uma calça de alfaiataria verde militar, um corselete no mesmo tom com estampa de flores pintadas à mão e uma camisa social branca por baixo, com praticamente todos os botões abertos. Nos pés, botas de cano curto marrons. Ela deixa o cabelo, cheio de finas tranças, solto e destaca — palavras dela, não minhas — seus belos traços com um pouco de maquiagem. Ainda não me sinto segura para usar maquiagem.
Assim que ficamos prontas, saímos do quarto e vamos até o salão esperar por Rune, que não demora muito. O garoto de óculos e cabelos cinza veste um suéter branco com detalhes rosa e cinza, uma calça de alfaiataria branca e tênis da mesma cor.
Ele sorri largo para nós duas ao nos ver e, assim como muitos que já passaram por nós, não perdemos tempo e pegamos o caminho para o jardim onde será a festa.
— Se essa festa não é a oficial de boas-vindas, como conseguiram organizá-la? — Pergunto, já avistando as luzes penduradas pelo jardim.
— É uma tradição, mas este ano conseguiram o melhor espaço por causa da família do Lyall — diz Makayla.
— Eles têm influência com a monarquia, e Lyall é prometido à única filha da diretora Lenore — Rune complementa.
Vejo os olhos arregalados de Makayla na minha direção; aparentemente, o que seu amigo contou não era para ser dito a mim.
— E vocês resolveram me contar isso agora, depois de tudo que falei ontem? — Questiono, soltando uma risada.
Tento não parecer afetada com a descoberta, mas acho que falho miseravelmente.
— Lyall sempre deixou claro que não quer nada com a chata da Adeline — Makayla fala, olhando com os olhos cerrados para Rune, que dá de ombros.
— Ela vive doente e mal frequenta a escola. A diretora mora na cidade, e é lá que ela fica a maior parte do ano. Provavelmente, ela não irá para nenhuma tropa do exército, e muito menos para a guarda real. Elas estão se garantindo no casamento com o Lyall, que é, com certeza, o melhor guerreiro desta escola; se fosse um conjurador, seria 100% imbatível — Rune volta a falar, e sinto um pouco de veneno em suas palavras.
Ir para o exército ou para a guarda é a maior fonte de sustento para uma família; aquelas sem pessoas com poderes, na maioria, vivem na pobreza.
— Isso tudo é demais para mim; vou tomar um ar e encontro vocês depois. — Makayla tenta protestar, mas Rune segura seu braço, fazendo-a ficar quieta.
Já estamos no meio da festa; a música é boa e alta na medida certa. Todos parecem se divertir, e a única coisa que passa pela minha cabeça é como sou iludida.
Céus, Lyall nunca demonstrou nada de romântico entre nós, e eu fiquei afetada pelo que me contaram. Deveriam escrever na minha testa: "Sou uma completa idiota".
Agora, "sozinha" — ou melhor, no meio da festa, mas sem a Makayla e o Rune —, me pego observando tudo ao meu redor. Nunca imaginei que estaria em um lugar igual aos dos livros que li. Nem me lembro qual foi a última música que escutei; minha professora às vezes colocava algumas músicas, mas isso já faz cinco anos.
— Está gostando? — Dou um pequeno pulo e seguro um grito agudo com a aproximação repentina de Lyall. — Desculpe, eu não queria assustá-la.
— Tudo bem.
— Está tudo bem? Você está com uma carinha desanimada. Aconteceu alguma coisa, docinho?
— Não foi nada. Só estou um tanto... emocionada? Não sei bem qual palavra usar.
— Entendi. Eu adoraria saber o motivo da sua emoção, mas fui eu quem preparou a playlist da festa, e a próxima música é a minha favorita. — Eu assinto, voltando a olhar para frente. — Azul, você quer dançar comigo?
Ver a mão estendida de Lyall em minha direção faz meu coração errar um pouco as batidas.
— Eu não sei dançar.
— Tudo bem, eu te ensino. — Dito isso, ele me puxa pela mão para onde outros casais já dançam.
Lyall segura minha cintura com firmeza, enquanto entrelaço meus braços em seu pescoço. Ele não é tão mais alto que eu, então não é difícil olhá-lo nos olhos.
Dançamos sua música favorita e mais algumas. Conversamos sobre a escola e as coisas de que gostamos, deixando de fora nossas vidas pessoais, como o fato de eu ter vivido em um porão e ele ser prometido a uma garota.
Depois de um tempo, resolvo me afastar de Lyall, sorrio discretamente e saio andando pela festa. Encontro Makayla e Rune em um canto com bebidas nas mãos.
— Achamos que você iria dançar com ele a noite inteira — Rune fala, com um sorrisinho ladino.
— Acho que não foi dessa vez. O que estão bebendo? — Pergunto, mudando de assunto.
— Vem, eu te levo até a mesa de bebidas. Já voltamos, Rune — Makayla praticamente me arrasta junto a ela. — Não ligue muito para a forma como Rune fala; ele é um bom garoto, só não sabe se expressar bem.
— Não me importo, mal o conheço. Fazem só dois dias que estou aqui. Eu adorei você, Makayla, mas não tem obrigação nenhuma de se envolver em desavenças com seu melhor amigo por minha causa — digo, querendo que ela realmente não se sinta mal por mim.
Acho que contar a ela que cresci em um porão foi precipitado demais. Ela deve estar com pena de mim.
— Também gostei de você e quero ser sua amiga de verdade — ela diz, segurando minha mão.
Seu olhar parece sincero. Sorrio, mesmo que minimamente, com essa percepção.
— Então, vamos continuar tentando — digo, apertando sua mão.
— Vamos sim — ela sorri, voltando a me puxar para a mesa de bebidas.
Pegamos as bebidas e, ao voltarmos para onde Rune está, nos deparamos com Sorah e sua amiga, Angelique (se não estiver enganada). Ambas nos olham como se tivéssemos mais de uma cabeça.
Céus, será que elas nunca dão paz?
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Conjuradora de Sonhos
FantasyApós um eclipse de cinco dias que mergulhou a Terra em escuridão e mudou o destino da humanidade, Azul Avaluna, foi resgatada de um orfanato por soldados e levada para Sunmoon, uma escola onde crianças e adolescentes com dons mágicos são treinados p...