Depois de descansar um pouco no quarto, lendo um livro que peguei na biblioteca, troquei de roupa para uma malha que consiste em uma legging, uma regata e um casaco, todos cinza com detalhes em marrom. Coloco o tênis e, ao perceber que estou atrasada, vou fazendo um rabo de cavalo enquanto caminho.
Ao chegar em frente à sala, dou de cara com Davian. Reviro os olhos enquanto ele suspira, e logo entramos na sala de aula.
O professor que nos dará instruções chega logo depois de nós. Ele é um homem alto e de olhar severo. Apenas quando começa a falar sobre o treinamento que teremos, percebo que não entendo muito da teoria e espero que a prática seja mais fácil.
— Como temos uma novata e não tenho um assistente para ajudá-la melhor, decidi que o meu melhor aluno, Davian Mallory, será responsável por auxiliar Azul Avaluna em seu treinamento — ele diz, e os outros alunos assentem, claramente aliviados por não precisarem interromper suas aulas para ajudar uma novata.
Lanço um olhar a Davian, que está ao meu lado, mas ele não demonstra reação alguma. É impossível dizer o que ele pensa sobre o que foi dito pelo professor, que sequer se apresentou, então ainda nem sei o seu nome.
O professor começa a dar instruções a todos e, por fim, o treino começa. O homem mais velho me faz algumas perguntas sobre o que já sei, e a única resposta que consigo dar envolve o conjuramento de objetos.
Mas o treinamento não é só conjurar objetos: precisamos transformá-los em armas e usá-los em combate corpo a corpo. E só de ouvir as explicações e ver os outros alunos treinando e fazendo uma demonstração para mim, já sinto uma dor de cabeça crescente.
Descubro, mais tarde, que o nome do professor é Adelio Roel. Ele me deixa sozinha com Davian enquanto vai instruir os outros.
— Só espero que você não atrapalhe o meu treino — Davian diz, virando-se para mim.
— Você não podia simplesmente dizer não? — pergunto, realmente me sentindo mal por prendê-lo a mim em mais uma aula.
— Nós nunca temos a opção de dizer não, e eu não estou falando só dessa aula — ele responde, e suas palavras pesadas despertam algo dentro de mim.
Alguma vez eu já disse não? "Não quero ficar presa no porão", "Não quero vir para essa escola", ou simplesmente "não"?
— É, talvez você tenha razão — digo, encarando as íris prateadas de Davian.
Depois desse clima estranho, Davian começa a me ajudar no treino, e, por incrível que pareça, ele explica as coisas melhor que o professor.
— O que você estava conversando com Lyall e aqueles amigos esquisitos dele? — ele pergunta depois de um tempo.
Acredito que nossa aula já esteja quase acabando.
— Primeiro, não fale assim deles. Segundo, não é da sua conta — respondo.
— Nós vamos ser uma dupla pelo próximo ano inteiro... — Davian tenta argumentar, mas um gesto meu o faz parar de falar.
— Que se dane! Ainda assim, não é da sua conta — digo.
Eu realmente não entendo por que Davian me irrita tanto, mas suas palavras invasivas e, às vezes, grosseiras fazem com que eu me sinta automaticamente na defensiva.
— Sério que vai ser sempre assim? Tudo por causa de uma bobagem de quando nos conhecemos? — ele questiona, passando a mão pelos cabelos com um gesto impaciente.
— Bobagem? Você me destratou! Sabe o quanto eu estava assustada naquele dia? Era a minha primeira noite livre depois de ficar presa durante dez anos, e, ao chegar aqui, poucos me trataram com gentileza — desabafo, sentindo meu coração acelerado. Eu nem tinha admitido isso para mim mesma.
Eu estava assustada, ainda estou. E ninguém parece se importar com isso, nem eu me importava até agora, ao falar em voz alta.
— Eu não sabia, ok! — Davian diz, aproximando-se de mim.
Dou um passo para trás, tentando me recompor e parecer menos patética do que sou.
— E quem disse que precisamos saber da história do outro para tratá-lo bem? — questiono, e ele assente, parecendo realmente afetado pelas minhas palavras.
— Eu sei... só que... — faço um gesto com a mão para ele parar de falar.
— Tanto faz. Se quer tanto saber, Lyall vai me dar outra aula de bicicleta depois daqui, e eu vou ao baile de boas-vindas com Miles. Satisfeito? — digo como se contasse a Makayla, mas sem tanto entusiasmo.
— O quê? Como assim você vai ao baile com aquele maluco? — Davian se altera um pouco.
— Vai me dizer que você ia me convidar? Poupe-me, Davian. Agora, por favor, explique como conjurar mais rápido — respondo, voltando ao meu estado normal e ignorando seus protestos.
♤♤♤♤
Depois da aula especial, corro para o meu quarto, aproveitando o tempo em que Davian foi falar com o professor Adelio para sair da sala e evitar outra discussão.
Ao chegar, não encontro Makayla; talvez ela ainda esteja na aula. Não demoro a tomar um banho rápido.
Assim que saio, visto uma camiseta branca de manga curta e um macacão cor salmão, e calço um dos tênis brancos que ganhei ao chegar na escola. Prendo o cabelo em um rabo de cavalo.
Dou uma última olhada no espelho e sigo até a saída principal da escola. Encontro apenas alguns alunos que não conheço pelos corredores. Assim que saio e sinto o ar livre, caminho até o banco próximo ao portão. Não demora muito para que eu ouça o barulho de uma bicicleta e, ao me virar, vejo Lyall sorrindo na minha direção.
— Temos que ser rápidos, pois precisamos ir jantar. Minha aula demorou mais que o normal hoje.
— Tudo bem, não faz muito tempo que cheguei — respondo.
Monto na bicicleta, e Lyall me instrui a manter o equilíbrio para evitar cair como da última vez. Agora, estou mais rápida em me equilibrar e manter o controle antes de ele precisar me segurar. Sorte minha que Lyall tem superforça.
— Achei legal você chamar o Miles para o baile. Acho que ele nunca foi com par, tirando o primeiro ano, em que fomos todos juntos — Lyall comenta após um tempo, em que conversamos sobre livros que já lemos.
— Achei que seria divertido ir com ele — digo.
— Desculpa por não poder te convidar; eu adoraria ir com você — ele diz, me surpreendendo.
— Não se preocupe, está tudo bem. Eu entendo — talvez eu tenha mentido ao dizer isso, mas não quero soar maluca com alguém que conheço há tão pouco tempo.
— Vamos jantar? — ele pergunta, oferecendo-me o braço.
Faço que sim com a cabeça e aceito o braço dele, entrelaçando o meu. Entramos na escola com um pouco de frio por causa do vento lá fora. E, assim como no almoço, faço a refeição com ele e os gêmeos Faris.
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Conjuradora de Sonhos
FantasyApós um eclipse de cinco dias que mergulhou a Terra em escuridão e mudou o destino da humanidade, Azul Avaluna, foi resgatada de um orfanato por soldados e levada para Sunmoon, uma escola onde crianças e adolescentes com dons mágicos são treinados p...