cap. 6

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Estava meio difícil respirar desde que deixei Yeji em casa, porque tudo aquilo era novo demais.

Foi a primeira vez que tinha visto ela daquele jeito, parecia triste, desanimada e por alguma razão queria a deixar mais leve. Não me perguntem porque, mas ver a futura presidente sair daquele ginásio cabisbaixa foi algo que realmente mexeu comigo.

Talvez porque na minha cabeça, eu deveria ser grata a Yeji.

Afinal, ela me salvou de um ano de tortura e tinha sido gentil comigo adiando até o prazo do rascunho sem me cobrar, ela não era tão dura quanto parecia e confesso que foi uma surpresa andar com ela aquela tarde.

Não conversamos muito mas o silêncio era agradável.

Entendam que eu nunca fiquei tanto tempo sozinha com uma garota antes e uma garota bonita muito menos.

Toda vez que Hwang Yeji resolvia me olhar, eu sentia como se fosse ter um ataque do coração porque o alaranjado do céu realmente combinava com a pele dela.

Quer dizer, naquela tarde Yeji não estava nada demais e realmente parecia que tinha colocado o que viu primeiro no guarda-roupa e era por isso que a garota estava tão mais interessante do que os outros dias e me senti conectada de algum jeito, como se fossemos amigas de longa data.

Mas me xinguei até que percebi que aquilo nunca iria ser possível.

Uma vez no Primeiro Ano, Hwang Yeji estava pedindo votos na frente da classe. Ela usava um terno com uma gravata bonita e seus cabelos estavam soltos descendo como uma cascata, havia sido a primeira vez que reparei nela desde a nossa saída do Ensino Fundamental.

Ela havia ganhado seios (não que eu tenha verificado, é só que puberdade e tudo mais). Seus olhos tinham uma aparência mais felina do que antes, ela também tinha um sorriso cativante de quem conseguiria amarrar o mundo com as mãos.

E do outro lado estava eu...

A puberdade não me afetou positivamente, minha postura era tão ruim quanto um skatista fazendo uma manobra no chão e eu não participava de nada.

Não sei exatamente porque lembrei desse momento enquanto caminhava com Yeji, mas era que o contraste era realmente algo que nunca esperei que fosse acontecer. A única vez que cheguei perto de andar com uma mulher foi a minha prima Arabella que tinha vindo me visitar e estava me deixando nervosa contando histórias sobre todas as suas festas cheias de gente onde ela conseguiu beijar mais de 20 pessoas.

Isso é nojento e não era o tipo de passeio com uma mulher que eu iria querer. A Miss Hwang me deixava muito nervosa por ser muito bonita com o cair do sol e ser muito bonita usando um moletom verde que ela condenaria se visse qualquer outra garota usando, naquela tarde Yeji tinha um brilho diferente e fiquei pensando se ela também estava gostando tanto daquele momento quanto eu...

O silêncio entre nós foi agradável. Não agradável tipo o silêncio do Garoto Caspa que senta no fundo comigo na aula e sim de um jeito reconfortante.

Yeji tinha comentado que odiava barulho e eu pensei que eu também, mas era apenas ela que tinha o instagram cheio de fotos em várias festas diferentes ao longo dos anos.

Me perguntei se ela gostava realmente daquilo ou se ela precisava gostar. O caminhar foi tão sereno que mal nos tocamos quando o grande portão da família Hwang estava em nossa frente, digo "nós" porque a garota parecia tão surpresa quanto eu que havíamos chegado.

Os Hwang's eram proprietários do único escritório de advocacia da nossa pequena cidade de Sakura. Qualquer problema, era o Sr. Michael Hwang que iria resolver, eles também financiavam grande parte das coisas que aconteciam no Instituto Lotus e moravam numa mansão um pouco longe de lá.

We are Slow Burn (RYEJI)Onde histórias criam vida. Descubra agora