cap. 45

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Depois que eu terminei de ler a carta de Ryujin, por mais triste e reveladora que ela fosse, eu me sentia forte para encarar meus próprios demônios. Guardei o papel com cuidado de volta na gaveta, e não troquei de roupa, apenas desci as escadas.

Minha mãe continuava no mesmo lugar, na mesma posição. Era incrivel como ela as vezes me lembrava uma estátua, parecia sem emoção e sem perspectiva, o que era triste.

— Mãe?

A mulher me olhou com o rosto surpreso. Eu ainda estava com o uniforme do Instituto, meu pai devia estar chegando para o almoço e eu continuava do mesmo jeito.

— Yeji, ainda não trocou de roupa? Seu pai já deve estar chegando. — Disse ela.

Respirei fundo e passei a mão pelo meu uniforme. Pensei nas palavras de Ryujin sobre continuar lutando, e percebi que eu deveria continuar fazendo aquilo, deveria continuar seguindo o meu coração.

— Com licença. Podemos conversar?

Era a segunda vez aquele dia que minha mãe me olhava estranhamente. Aquele de fato não era um comportamento comum da minha parte.

— Aconteceu algo no Colégio? — Perguntou ela para minha surpresa. Ela não fazia muita questão de saber sobre as coisas vindo de mim.

— Não. — Neguei rapidamente. — Quer dizer, sim. Eu preciso dizer uma coisa.

Minha mãe que verificava como estava os pratos na mesa, finalmente parou o que fazia para me olhar nos olhos. Sua mente com certeza deveria estar pensando sobre o fato dela ter que contar pro meu pai, seja lá o que eu fosse dizer.

— Esse ano foi diferente pra mim. Eu não espero que entenda, mas aconteceram algumas coisas que eu preciso falar sobre, eu realmente preciso fazer isso.

Observando minha mãe prestar atenção em cada palavra que eu dizia, era até estranho ser ouvida. Por mais que eu estivesse enrolando.

— Yeji, o que quer que esteja aprontando, melhor dizer agora. — Disse ela, impaciente.

Respirei fundo. Eu consigo. Apenas diga Yeji.

— Eu estou namorando.

Naquele momento minha mãe apenas puxou a cadeira da mesa de jantar, para se sentar. Eu fechei meus olhas no mesmo momento.

O silêncio permaneceu por alguns minutos até ela resolver quebra-ló.

— O seu pai não vai gostar nada disso. — Disse ela, baixinho. — Quem é ele?

Apertei meus punhos e resolvi me mexer, fui até a mesa e afastei uma cadeira. Me arrependi de não ter tirado aquele uniforme, o meu corpo estava completamente quente e eu sentia minha pele suar.

Ela.

Um suspiro longo foi solto no ar. Minha mãe apoiou suas mãos na mesa e parecia estar assimilando tudo aquilo, aquela deveria ser minha conversa mais longa com ela em todos aqueles anos.

— Uma garota... — Sussurrou. — O seu pai não vai gostar disso.

Eu nem senti quando uma lágrima começou a descer pela minha bochecha. Enxuguei rapidamente.

— Eu sei.

Seu rosto continuava impassível. Séria, como uma Hwang deve ser.

— Isso não é bom para os seus estudos. — Disse ela. — É uma distração.

Mordi meu lábio com força. Ryujin era tudo, menos uma distração.

— Não. Ela não é. — Rebati. — Eu não espero que aceite, sei que vai contar pro meu pai e isso pode por tudo em jogo mas... Eu só queria ser sincera.

We are Slow Burn (RYEJI)Onde histórias criam vida. Descubra agora