cap. 18

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Ryujin tinha poucas memórias de como era antes da sua mãe morrer e sua relação com seu pai. Tinha em mente que ele era um homem carinhoso, espirituoso, um ótimo pai e um ótimo marido. Ela sabia que cada pessoa tinha seu jeito de superar o luto, as aflições e a morte eventualmente chegava para todos, mas ela não sabia que existia algo que ela resolveu chamar de "luto por uma pessoa ainda viva."

Era isso que sentia pelo seu pai.

Lembrava-se vagamente de quando perdeu sua mãe, como soube a notícia e como os próximos anos foram ficando cada vez mais complicados. O seu pai não foi se afastando de uma hora para outra, cada dia mais ele ia embora, cada dia um pedaço dele viajava em uma viagem de trabalho que duravam horas, depois dias e até semanas.

Seu pai trabalhava numa empresa simples como gestor e contador, o salário não era lá as mil maravilhas mas não era ruim, Ryujin se recorda que enquanto sua mãe era viva seu pai tinha um sonho de abrir um café, quase como o do Keb, lembra-se que sua mãe sorria com aquela ideia e ela nem tinha ideia do quanto sua mãe estava triste por dentro.

Não sabia bem qual foi a decisão da sua mãe naquela quarta-feira fria de se matar um pouco antes que sua filha chegasse da escola, apesar de não ser tão criança, não conseguia lembrar de muitas brigas dela e seu pai, mal conseguia lembrar de se quer uma vez que viu sua mãe chorar. O que levaria
alguém a tirar a sua própria vida tendo uma família estabelecida?

Ryujin nunca soube. Mas de uma coisa ela tinha certeza: a relação entre ela e seu pai estava cada vez mais morta e ela estava se acostumando a se sentir assim: em luto por alguém que vive.

— Pai? — Ryujin perguntou quando abriu a porta e viu alguns pratos na pia. Ela tinha acabado de chegar em casa depois do jantar na casa de Yeji, ainda tinha um sorriso contido no rosto pelo elogio que recebera da menina antes. Se sentia bem.

— O que é isso? — O Sr. Shin perguntou encarando Ryujin.

A menina franziu o cenho. Tinha algo errado com ela? Seu pai estava
preocupado com o seu horário de chegar em casa?

— O quê?

— O que você está vestindo? Você entrou no quarto da sua mãe?

Ryujin fechou os punhos. Sentia seu coração bater mais forte, era óbvio que era por isso.

— O-o quarto também é seu... Eu...

— Você não pode fazer isso! — A voz do homem aumentou. — Nunca, mexa no guarda-roupa da sua mãe, nunca pegue nas coisas dela, você entendeu?!

— Sin-to muito pai, eu não sabia que... — A voz embargada de Ryujin era quase imperceptível por meio dos soluços que a menina soltava junto com lágrimas nervosas que insistiam em cair.

— Claro que sabia! Isso é da sua mãe!

Ela morreu, pai! Ela está morta, fazem anos! Ela morreu, porra! Eu estou aqui! Eu estou viva! — Ryujin gritou nervosa.

Os olhos que estavam carregados de ódio do Sr. Shin foram suavizados para um lacrimejo em puro estado de choque pelo grito desesperado de Ryujin.

— Pai... Eu... S-sinto muito, eu não queria... — Ryujin tinha a mão na boca pelo que tinha feito. Nunca deveria ter gritado daquele jeito com seu próprio pai.

— Tire esse vestido e vá pro seu quarto. Você está de castigo.

A menina apenas assentiu e bateu a porta tão forte que era capaz de ter soltado algum prego. Se deitou na cama e começou a chorar enquanto tirava agressivamente aquela roupa de si, ela era suja. Estava suja, usando um vestido de alguém que morreu achando que realmente iria chamar atenção de alguém, era o que a mente de Ryujin projetava.

We are Slow Burn (RYEJI)Onde histórias criam vida. Descubra agora