Venti Otto

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Acordei ouvindo gritos e vozes alteradas no andar de baixo, assustada me espreguiço na cama e sinto uma dorzinha em minha intimidade, um lembrete da merda que eu fiz ontem. Me levanto na maior tranquilidade bocejando de sono e caminho até o banheiro.

Faço minha higiene matinal pensando no quanto fui burra de ter procurado o Enzo na noite passada. Isso com certeza foi um erro gravíssimo...

Tomei banho e lavei meus cabelos antes de colocar um conjunto moletom quentinho antes de sair do quarto.

Desci as escadas ouvindo mais gritos vindo da sala de estar, caminhei até a cozinha e pedi que me servissem o café da manhã.
De primeira notei que as empregadas me olham estranho, então tive a primeira reação de cobrir meu pescoço com os cachos volumosos achando que fossem chupões.

— Senhora, o conselho está todo aqui desde cedo—
Não me importa, não irei me meter nos problemas do Enzo, por mim ele e conselho dele fossem a merda.

Mordo a torrada com chocolate e bebo um pouco do sumo de laranja, logo voltarei ao quarto e dormirei pelo resto da manhã.

Enquanto passo manteiga de avelã na torrada ouvi passos atrás de mim, não me importei em me virar pra ver de quem se tratava.

— Eu sabia que você seria apenas problemas!—
Dimitri, o tio Merdinha do meu marido falou parando de frente a mim.

— Não sei do que o senhor está falando, seu sobrinho não está aqui. Deveria ir atrás dele—
Continuo comendo fingindo não o ver de frente a mim, ele que não venha testar minha paciência dentro da minha própria casa.

— Sabe muito bem do que estou falando! Você vai agora mesmo na sala desmentir tudo que isso ao Lorenzo—
Acho que foi apenas após suas palavras me lembrei que liguei ao meu sogro de madrugada e tudo que disse a Lorenzo... Deve ser por isso esse barulho todo.

— Não vou desmentir nada—
Dimitri segura em meu braço com sua mão de ferro e me arrasta sob meus gritos e protestos até a sala de jantar.

— Me solta seu bastardo—
Bato em sua mão tentando o fazer me soltar, só então percebo as dezenas de olhares sobre nós.

— Conte a eles que é tudo mentira sua, vai garota !—

— Solte ela agora tio—
A voz do Enzo ecoou na sala como um trovão potente, nossos olhares se encontrar por um segundos e depois retomaram ao seu tio.

— Pare de a defender Enzo! Você vai morrer por alguém que não tem o mínimo de consideração por você—

Enzo o olhou ameaçador e então ele soltou meu braço, dei a volta e sai o mais rápido possível daí.
Por que me defendeu? Por que não disse que é tudo mentira minha?
Voltei pra cozinha ignorando as vozes alteradas e depois fui para o meu quarto descansar.

Ouvi um bater suave na porta e mandei entrar achando ser uma das empregadas.
Leonardo surgiu no batente da porta, de primeira percebi o hematoma no seu rosto.

— Foi seu marido— Revirei os olhos com ele o chamado assim— Podes revirar os olhos quantas vezes quiseres, sabe que isso não mudará—
Leonardo trouxe com ele um balde de sorvete e colheres.
Nos sentamos no carpete e abri o sorvete.

— O que está fazendo aqui? Pensei que estivesse me odiando como todo mundo—
Enfia e colher cheia de sorvete na boca e olhei em seus olhos, Leonardo não deveria pertencer a essa corja.

— E estou te odiando! Porém há lá embaixo alguém que se importa muito contigo e que não está te odiando agora—
Suspiro fundo pronta a o expulsar do meu quarto.

— Nem vem falar bem do Enzo pra mim, se esse é seu objetivo você pode sair daqui agora!—
Leonardo pousa a colher e me olha arqueando a sobrancelha.

— Não vim falar bem do Enzo, mesmo eu o conhecendo melhor do que você! Mesmo eu vendo meu irmão aceitar uma culpa que não tem. Já é adulta o suficiente pra precisar que alguém venha a influenciar—

— Então porque está aqui!—
Leonardo suspira.

— Enzo sabe que se acontecer alguma coisa com ele, e vai acontecer alguma coisa ele! Nem todos estarão satisfeitos pois nós melhor do que você sabemos a gravidade do que está acontecendo e que isso é mentira... Muitos se levantaram contra si, alguém precisa a defender-
Como assim?

— O que vai acontecer com o Enzo?—
É difícil ter que fingir que não me importo o quanto eu gostaria.

— Sabe porque existe uma lei contra estupros aqui na família?— Neguei — Enzo tinha uma irmã, de 08 anos, ela morreu após generais da família a terem estuprado... Ninguém pagou por isso, pois não existia nenhuma lei que proibisse. Anos depois Enzo assumiu a família e criou essa lei salvando vidas que realmente precisavam ser salvas. Só a uma pena pra estupradores, à morte—
Eu não sabia disso... Posso ter exagerado.

Quero que o Enzo sofra. Mais que sofra pelo que ele me fez, que morra pagando o que fez comigo! Não vou conseguir carregar essa culpa...

Me levanto andando de um lado e para o outro buscando uma solução rápida.

— Eu cheguei a duvidar da inocência do Enzo, mais vendo você agindo assim eu tenho certeza... Porque fez isso Zoé? O tio Lorenzo nunca passaria a mão na cabeça do Enzo por algo assim—

— Eu não sabia que a consequência seria essa—

— O que aconteceu de verdade—

— Nós transamos, eu quem fui ao quarto dele foi consensual... Eu me arrependi Okay, Não deveria sequer olhar pra cara do Enzo depois do que ele me fez—
Leonardo se levantou negando

— Meus parabéns! O seu ódio é maior do que todos os sentimentos que alguma vez tiveste! Enzo errou muito, mais você não ficou por trás-
Leonardo saiu do meu quarto batendo a porta com força.

— IMBECIL—
Gritei me jogando na cama.

Não posso fazer pra mudar isso, Enzo é culpado sim! Ele me levou ao extremo.

(...)

Nem percebi quando adormeci, quando acordei não se ouvia mais as vozes agitadas, estava tudo em completo silêncio.

Me levantei da cama e fui ao banheiro fazer xixi e lavar o rosto.

Assim que abro a porta do banheiro sinto o cheiro característico do Enzo impregnado no meu quarto.

— O que está fazendo aqui?—
Pergunto parando no batente da porta.

— Até o último minuto achei que você fosse descer e contar toda verdade... Achei que fosse assumir seu erro como tenho assumido o meu—
Permaneço calada olhando para o chão

— Eu sinto muito mesmo por ter te agredido, eu lido diariamente com as consequências dos meus atos, mais ontem! Ontem eu achei que você tivesse finalmente pronta pra conversarmos e procurar uma maneira de resolver nosso casamento— Sua voz embolada parecendo prestes a chorar a qualquer momento —Olha pra mim Zoé, enquanto você estava aqui dormindo como se eu não estivesse enfrentando uma acusação de estupro caluniosa eu estava lá recebendo minha sentença, morte por espancamento. —
Então pela primeira vez levanto meus olhos e o encontro parado na porta do quarto, Enzo estava muito machucado, suas roupas estão rasgados e escorre sangue por sua cabeça.

O que eu fiz...

Ritmo mortal +18 Romance DarkOnde histórias criam vida. Descubra agora