Capítulo 5

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Peregrina narrando

Depois da reunião, Juca me liberou para que eu pudesse cuidar das minhas coisas pessoais.

Aproveitei o momento para organizar o barraco, fiz a maior faxina nele e comprei algumas coisas básicas no mercado da favela mesmo. Era uma casinha simples, mas estava muito organizada e cheirosa.

Não tinha muito o que fazer por aqui. Ainda não tinha confiança para bater perna pela favela, e muito menos tentar puxar algum assunto com as pessoas daqui. Tinha um sentimento estranho em relação a esse lugar. Era como se eu estivesse sendo vigiada a todo momento, o que já era esperado.

Minha mãe provavelmente já estava arrancando os cabelos por não estar conseguindo falar comigo. Espero muito que ela tenha ido quebrar um cabo de vassoura nas costas de VS e sua trupe.

Um bando de falsos. Ainda não engoli a covardia deles me jogarem sem mais nem menos em outra favela. Espero poder me vingar deles em um futuro bem próximo.

Mas quem eu quero enganar? Tenho um carinho enorme por todos eles. Até mesmo de Iago estou sentindo saudades.

- Está sorrindo igual uma doida por que?

Pulo de susto ao ver Juca materializado na frente do meu portão. Era só o que me faltava, até em casa esse encosto vai vir me atentar.

- Está fazendo o quê aqui? - pergunto.

- Disfarça não, otária. - fala, enquanto abre meu portão. - Eu bem vi você parecendo uma maluca sorrindo para o nada.

Sou praticamente obrigada a me afastar para dar espaço ao dito cujo. Ele entra na minha residência como se fosse dele, me deixando de sobrancelha arqueada.

- Até que você não é tão incompetente assim. - balança a cabeça ao observar o ambiente. - Deu um grau no barraco.

Mordo a língua para evitar proferir algumas palavras que com toda certeza causariam minha morte.

Ele continuou fazendo um tour pela casa, olhando até os mínimos detalhes. O mesmo até teve a cara de pau de passar o dedo pelo balcão da cozinha para ver se tinha poeira.

- Posso saber o que você veio fazer aqui? - questiono sem muita paciência.

- Não posso visitar um morador da minha favela? - devolve a pergunta.

- Então você faz isso com seus moradores? Visita a casa deles?

- Não. - nega, voltando a sua atenção para o meu rosto. - Estou fazendo isso com você.

Segurei o ar automaticamente, e tratei de virar o rosto. Juca tinha um poder de me deixar constrangida sem ao menos se esforçar para isso.

- Certo. - finjo um tosse, totalmente sem graça. - Que honra, então? Devo me sentir lisonjeada por estar recebendo a visita da pessoa mais importante da comunidade?

- É isso aí mesmo. - ele diz, logo abrindo um sorriso grande e lindo. - Inclusive, nesse momento você devia ter ao menos me convidado para sentar.

- Ah, eu poderia fazer isso. - concordo com ele. - No entanto, não sei se vossa majestade percebeu, mas eu não tenho cadeira e nem banco para te oferecer.

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