Capítulo 24

89 10 19
                                    




Peregrina narrando

O que mais corria pelo meu corpo naquele momento era o álcool. Havia misturado algumas bebidas, e baforado lança fazia algum tempo.

A reunião dos mais importantes ainda rolava, enquanto algumas mulheres que os acompanhavam rodeavam o camarote. Me contentei em permanecer próxima a grade, balançando meu corpo conforme a música e observando a movimentação da pista.

Não foi de se admirar quando recebi alguns olhares fechados de algumas fiéis. Elas não iam muito com a minha cara, sem nenhum motivo aparentemente. Nunca fiz nada de errado, a não ser trabalhar com o marido delas.

Ser amante nunca foi o meu foco e nunca me atraiu. Homem casado para mim era o mesmo que uma doença contagiosa, queria distância. Mas os burburinhos não deixavam de aparecer.

Fofoca sempre existiu. Até porque, falador quando não tem informação verídica, acaba inventando.

Eu não entendia o porque Juca não permitiu que eu descesse para a pista. O camarote era um saco completo, com todas aquelas pessoas me olhando torto. Cobra nem se deu o trabalho de conversar comigo.

Eu precisava entender o motivo por qual Cobra estava afastado de mim. Absolutamente nada vinha a minha mente, eu não conseguia lembrar de nenhum momento em que nós dois nos estranhamos.

- Aqui está um porre. - resmungo para Jackson, que balançava o corpo ao meu lado.

- Hein? - franze o cenho, aproximando o rosto do meu. - Por que acha isso?

- Esse baile está parado demais. - bufo.

Reviro os olhos quando Jackson abre a boca para rir. Quero espancá-lo.

- Aqui pode está tudo, menos parado, Peregrina.

- Quero vazar, Jackson. - falo sério, finalmente capitando a atenção do garoto.

- Tem certeza? - ele questiona.

Faço bico para o garoto que estava ao meu lado, fazendo a maior cara de sofrida possível.

- Vamos, eu te levo. - ele acena com a cabeça, e me abraça pelos ombros. Largo meu copo encima da pequena mesa que havia ali, e caminho em passos lentos.

Minha visão ainda estava um pouco turva. Já conseguia imaginar a ressaca do cão que eu ficaria ao acordar.

- Ou, ou! - escuto alguém falar alto, chamando nossa atenção.

Viro meu rosto rápido, me arrependendo automaticamente, quando um enjoo forte me tomou. Me inclinei um pouco, me afastando de Jackson.

- O que foi? - sinto o garoto apertar minha cintura, apoiando meu corpo para não cair. - Está passando mal?

- Bem é que não estou, porra! - cuspo com ódio, ainda sentindo que vou desmaiar a qualquer momento.

- Me engole logo! - Jackson rebate indignado. - Eu devia te largar aí no chão, só pra você aprender.

- Qual foi? O que está rolando?

Escuto a voz de Juca se aproximando, mas eu estava ficando tão distante. Whisky maldito.

- Não sei. - Jackson responde com incerteza. - Ela ficou mole do nada. Estava levando ela pra casa.

- Por que você levaria ela? - Juca questionou com a voz grossa, parecia estar insinuando algo.

- Não me olha assim não, patrão. - gagueja nervoso. - Foi ela que me pediu.

Tento afastar a tontura do meu corpo, enquanto os dois abutres continuam a conversar. Droga. Eu, definitivamente, nunca mais beberia.

PEREGRINAOnde histórias criam vida. Descubra agora