Peregrina narrandoO que mais corria pelo meu corpo naquele momento era o álcool. Havia misturado algumas bebidas, e baforado lança fazia algum tempo.
A reunião dos mais importantes ainda rolava, enquanto algumas mulheres que os acompanhavam rodeavam o camarote. Me contentei em permanecer próxima a grade, balançando meu corpo conforme a música e observando a movimentação da pista.
Não foi de se admirar quando recebi alguns olhares fechados de algumas fiéis. Elas não iam muito com a minha cara, sem nenhum motivo aparentemente. Nunca fiz nada de errado, a não ser trabalhar com o marido delas.
Ser amante nunca foi o meu foco e nunca me atraiu. Homem casado para mim era o mesmo que uma doença contagiosa, queria distância. Mas os burburinhos não deixavam de aparecer.
Fofoca sempre existiu. Até porque, falador quando não tem informação verídica, acaba inventando.
Eu não entendia o porque Juca não permitiu que eu descesse para a pista. O camarote era um saco completo, com todas aquelas pessoas me olhando torto. Cobra nem se deu o trabalho de conversar comigo.
Eu precisava entender o motivo por qual Cobra estava afastado de mim. Absolutamente nada vinha a minha mente, eu não conseguia lembrar de nenhum momento em que nós dois nos estranhamos.
- Aqui está um porre. - resmungo para Jackson, que balançava o corpo ao meu lado.
- Hein? - franze o cenho, aproximando o rosto do meu. - Por que acha isso?
- Esse baile está parado demais. - bufo.
Reviro os olhos quando Jackson abre a boca para rir. Quero espancá-lo.
- Aqui pode está tudo, menos parado, Peregrina.
- Quero vazar, Jackson. - falo sério, finalmente capitando a atenção do garoto.
- Tem certeza? - ele questiona.
Faço bico para o garoto que estava ao meu lado, fazendo a maior cara de sofrida possível.
- Vamos, eu te levo. - ele acena com a cabeça, e me abraça pelos ombros. Largo meu copo encima da pequena mesa que havia ali, e caminho em passos lentos.
Minha visão ainda estava um pouco turva. Já conseguia imaginar a ressaca do cão que eu ficaria ao acordar.
- Ou, ou! - escuto alguém falar alto, chamando nossa atenção.
Viro meu rosto rápido, me arrependendo automaticamente, quando um enjoo forte me tomou. Me inclinei um pouco, me afastando de Jackson.
- O que foi? - sinto o garoto apertar minha cintura, apoiando meu corpo para não cair. - Está passando mal?
- Bem é que não estou, porra! - cuspo com ódio, ainda sentindo que vou desmaiar a qualquer momento.
- Me engole logo! - Jackson rebate indignado. - Eu devia te largar aí no chão, só pra você aprender.
- Qual foi? O que está rolando?
Escuto a voz de Juca se aproximando, mas eu estava ficando tão distante. Whisky maldito.
- Não sei. - Jackson responde com incerteza. - Ela ficou mole do nada. Estava levando ela pra casa.
- Por que você levaria ela? - Juca questionou com a voz grossa, parecia estar insinuando algo.
- Não me olha assim não, patrão. - gagueja nervoso. - Foi ela que me pediu.
Tento afastar a tontura do meu corpo, enquanto os dois abutres continuam a conversar. Droga. Eu, definitivamente, nunca mais beberia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
PEREGRINA
RomancePeregrina aprendeu desde pequena que para ter paz tinha que guerrear. E desde então, ela corre pelo certo, mesmo estando no errado.