Capítulo 11

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Peregrina narrando

Faziam algumas semanas que eu estava morando no Complexo do Japão. Nesse curto período de tempo me adaptei bem as condições.

Participei de muitas reuniões com os gerentes e os demais envolvidos no corre, e por mais incrível que pareça, a coisa tá fluindo. A banca começou a lucrar, Juca estava contente demais, estava quase soltando fogos para comemorar.

Passei a ser reconhecida muito rápido. Meu vulgo rodava na boca de geral, sendo para o mau ou para o bem, mas eu estava começando a ganhar espaço na cena.

Juca estava me dando uma moral absurda, me colocando lá encima. Mas eu não era boba nem nada, um pé atrás sempre. A glória nunca permanece por muito tempo, disso eu entendia muito bem.

- Aqui, meu patrão. - coloco um bolo de notas de cem encima da mesa. - Tudo certo.

Era segunda-feira, o sol rachava o chão lá fora, e nós fazíamos a contabilidade da semana. Eu conferia tudo nos mínimos detalhes, enquanto Juca fazia o pagamento dos gerentes.

O trampo era difícil, mexer com tanto dinheiro dava muita dor de cabeça. Tudo tinha que sair perfeito, sem nenhuma falha. Erros geravam desconfiança, e eu não queria ser descredibilizada.

- Aí. - Juca fala, chamando minha atenção. - Vai trazer sua coroa quando?

- Acho que semana que vem ela chega por aqui. - abro um sorriso. - Vou perder minha paz rapidinho.

- Quero só ver ela quebrando uma vassoura na tua cabeça. - ele dá risada, e eu observo seu rosto extremamente perfeito. - Vou aprontar todas contigo, só pra coroa surtar.

- Obrigada, Juca. - coloco a mão no peito, demonstrando estar lisonjeada. - O seu carinho por mim me comove de todas as maneiras.

- Você tá ligada. - cruza os braços. - Anima de ir ao boteco hoje?

Espreguiço meu corpo na cadeira, tentando fugir da preguiça que irradiava meu ser.

- Quem vai?

- Nossa galera. - dá de ombros. - Vou só em casa meter um banho, e já vou partir pra lá.

- Vou marchar pra lá também.

- Faz assim, eu te busco lá no teu barraco e nós vamos juntos.

- Fechou. - confirmo.

A noite chegou rápido, e junto com ela veio a animação para o frevo. Depois de tanta labuta, eu finalmente ia curtir um pouco.

Como o prometido, Juca me aguardava pacientemente na porta de casa enquanto eu terminava de me arrumar.

- Finalmente.

Ele exclamou, as mãos levantadas para o céu. Balanço a cabeça em negação e caminho rapidamente para subir na moto.

Ele mentiu quando afirmou que a nossa galera estaria presente. O bar estava lotado e o que mais tinha lá era mulher, ou melhor dizendo, amantes. O que essa noite vai render não está escrito.

Já cheguei cumprimentando a todos, mesmo não me agradando da presença de alguns. Uma coisa que aprendi nessa vida é que se você quiser ser respeitado, primeiramente tem que respeitar. Sigo fielmente a esse ensinamento.

PEREGRINAOnde histórias criam vida. Descubra agora