Capítulo 9

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Peregrina narrando

Minha noite foi marcada por horas mal dormidas e olhos inundados em lágrimas. Por mais que eu tentasse me convencer de que não podia parecer fraca, entre quatro paredes eu simplesmente não conseguia suportar toda a pressão.

Entretanto, a minha vida tinha que continuar. E foi isso que me incentivou a levantar da cama pela manhã. Ainda era cedo e eu resolvi tomar o café da manhã em uma das padarias que haviam no local.

Comia tranquilamente, vez ou outra cumprimentando alguns conhecidos que passavam por ali. Sentia que o dia seria longo, então nada melhor que estar de barriga cheia.

Ao chegar na central, reuni todas as minhas forças para poder entrar de cabeça erguida. Bom, eu consegui. Juca já estava no local, fumando um baseado, deixando toda a sala com o cheiro impregnado.

- Bom dia.

Cumprimento meu chefe, recebendo apenas um acenar de cabeça. Dou de ombros, me sentando em um sofá desgastado que havia ali.

- Cumprindo o horário. - fala com a voz embargada. - Está de parabéns. Vou até te presentear com um broche de estrelinha.

Reviro os olhos, logo direcionando meu olhar de encontro ao dele. Juca era um cara muito bipolar, do mesmo jeito que era extremamente irritado e grosso, também era alegre e divertido. Um pouco contraditório se for parar para raciocinar um pouco.

- O que tenho que fazer hoje? - questiono.

- Vamos começar tudo outra vez. - estala a língua. - Hoje vai chegar uma carga de cocaína e maconha, você vai ter que estar presente para receber.

- Certo. - balanço a cabeça em afirmação. - Vou ter que conferir a carga?

- Também. - concorda. - Quero que faça a contagem, a divisão para cada gerente e tudo mais. Você tá ligada, esses bagulhos aí do seu trampo.

Meu trampo. Eu poderia até dá risada, se não fosse tão trágico. Se ele soubesse que eu não sei nada sobre esse trampo.

- Mas eu não sei nada sobre seus gerentes.

- Por isso não devia ter faltado a reunião ontem de manhã. - retruca. - Eu ia te apresentar todos eles ontem.

- Que droga... - murmuro.

- Esquece. - traga o baseado a última vez e o joga no chão mesmo. - Vamos fazer isso hoje. É bom decorar rápido.

- Isso não vai ser um problema.

O recebimento da carga foi tranquilo, conferi todos os produtos um por um, Juca ao meu encalço todo o instante. Aproveitando o momento, meu patrão me informou sobre os fornecedores e como tudo funcionava em relação as compras.

Mais tarde, o meu serviço foi distribuir os produtos para todos os gerentes. Entretanto, o que eu falei mais cedo de que não seria um problema para aprender sobre os gerentes, naquele momento estava queimando meus neurônios.

- Esse aí é o Quebra-perna.

Juca me apresentou a mais um gerente. Fiz o maior esforço da minha vida para não demonstrar minha surpresa com aquele vulgo ridículo. Balancei minha cabeça em um aceno rápido, enquanto o mais velho me apresentava como Peregrina. Dividi alguns tabletes e entreguei ao senhor Quebra-perna junto a uma caderneta.

PEREGRINAOnde histórias criam vida. Descubra agora