Capítulo 23

113 14 9
                                    




Peregrina narrando

Era bailão. Jackson se movia tranquilamente entre as pessoas, me arrastando consigo. Vez ou outra, eu paquerava algum gatinho.

- Aí! - falo alto, chamando a atenção de Jackson, que para de andar e me encara. - Acho que vou dar um balão aqui por baixo primeiro.

- Tem certeza?

- Tenho sim. - confirmo, observando ao meu redor. - Pode ir lá, depois eu apareço lá pelo camarote.

- Certo.

Fizemos um toque de mãos e eu observei o garoto dar meia volta e sumir no meio da multidão. Não demorei muito para começar a explorar o local. Andei horrores e cumprimentei algumas pessoas.

Parei enfrente a uma barraca e já pedi um copão de vodka com energético. Bebia tranquilamente da minha bebida, enquanto rebolava timidamente de acordo com o toque da música.

No meu terceiro copo, eu já estava me animando. Me enturmei com um grupinho de garotas que dançavam próximas da barraca. Era como se fôssemos amigas desde sempre.

Eu rebolava até o chão junto com as garotas, e sorria até para o vento. Fixei meu olhar para um carinha que me observava fazia um bom tempo, e sorri para o mesmo.

Ele não demorou muito para cochichar com o bonde dele e vir ao meu encontro. Observei ele balançar o corpo acompanhando meus movimentos, e rebolei em seu membro.

Movimentava meu quadril agilmente, e sentia o garoto segurar firme em minha cintura. Vez ou outra, ele dava um tapa na minha bunda, me fazendo querer experimentar se ele realmente tinha a pegada que aparentava ter.

- Que isso... isso é demais pra mim, gatinha. - ele murmurou ao meu ouvido, após agarrar meus cabelos e me puxar de encontro ao seu corpo.

- Ainda bem que você sabe disso! - afirmei divertida, me virando para encará-lo. - Mas não tem problema.

Selei meus lábios aos dele, agarrando o cabelo da nuca do mesmo e aprofundando o beijo. O gosto de menta que vinha da boca dele era inebriante.

O garoto, claramente não tinha muita experiência, mas tinha pegada. Ele aparentava ser bem mais novo que eu, mas naquele momento não me prendi muito aquele detalhe.

Estávamos nos pegando fazia um bom tempo, quando senti um tapa forte na minha cabeça. Me desgrudei do garoto no mesmo segundo, pronta para virar o soco no filho da puta que me bateu.

- Oh, Jackson. Seu filho da puta! - mirei um soco em seu ombro, que fez o mesmo ir para trás em um solavanco.

- Desgraçada... - massageia o local ao qual o acertei. - Bora, está na hora de subir. O patrão quer te apresentar a uma galera.

- Ah, mas que merda. - xingo irritada. - Nem na hora da festa eu tenho paz. É só trabalho e trabalho nessa porra!

Juca tirava muito da minha paciência, parecia ser proposital. Me virei para o garoto que encarava a situação confuso, e deixei um selinho estalado em seus lábios.

- Até mais, gatinho.

Pisquei o olho para ele, antes de ser arrastada por Jackson pela multidão. Eu estava levemente alterada, então eu só remexia meu corpo com a música, mesmo caminhando rapidamente até a direção do camarote.

Andamos muito até chegar ao bendito camarote. Jackson parou no começo da escadinha e pegou uma pulseira fluorescente, colocando a mesma no meu pulso. Eu só dançava o tempo inteiro.

- Se liga, Peregrina. - segura meu rosto entre as mãos. - Não faz merda, beleza? Fica sóbria!

- Não grita, seu porra! - afastei meu rosto de seu toque e fechei o semblante. - Qual foi? Está achando que sou menina?

- Sei que não é. - bufa ao revirar os olhos, parecia estar sem paciência. - É gente importante que está lá encima. Então não faz besteira.

Apenas assenti, passando por ele e subindo a escada do camarote. Balancei a cabeça algumas vezes para recobrar minha consciência e tentar me manter sóbria.

Avistei Juca e mais alguns caras em uma mesa mais afastados, e caminhei até lá. Cumprimentei uns gerentes no caminho.

- Boa noite. - cumprimentei com um tom de voz mais controlado que eu consegui.

Recebi alguns cumprimentos de volta, e fui convidada a sentar junto a eles. Franzi o cenho, ao notar Cobra me encarando com ódio no olhar.

- Aí, essa aqui é a Peregrina. - Juca me apresenta. - Ela é nova aqui na minha favela, mas é parceria mesmo.

Engoli em seco e sorri sem graça ao ser observada por todos aqueles homens mal encarados.

- Esse aqui é o meu parceiro. - ele agarra um homem pelos ombros, abraçando o mesmo meio sem jeito. - Fera.

Vi o homem se afastar, murmurando algumas coisas inaudíveis. Nossa, ele era lindo demais.

- Ele é o dono da Serra.

- Satisfação. - balancei a cabeça em entendimento, e recebi um mínimo aceno de volta.

Jackson não exagerou quando falou que era gente importante. Fera e Juca eram os brabos da facção. Não tinha quem não tremesse quando ouvia esses vulgos.

Eu fiquei sóbria rapidinho. Ouvia os homens conversando sobre tudo o que não prestava, e eu só absorvia todas as informações.

Descobri coisas que Juca não havia me contado, tais como uma missão impossível que eles estavam armando.

Logo tudo passou a fazer sentido na minha mente. O tanto de armamento que estava chegando era de assustar qualquer um. Mas eu, boba, não reparei muito em qual seria o fundamento para aquilo.

- Fala aí, Peregrina. - Juca me incluiu no meio da conversa outra vez. - Quer tentar ajudar na contabilidade lá da Serra?

Arregalei meus olhos instantaneamente, mas logo tratei de arrumar minha postura. Abri um sorriso meio amarelo, e bebi um pouco do whisky caro que estava no meu copo.

- Estou bem, aqui no Japão. - falei divertida. - Mas quem manda é você, patrão.

Juca sorriu de lado, enquanto me encarava firmemente. Vi quando seus olhos passaram dos meus lábios até o meu decote lentamente. Rocei minhas pernas uma na outra, sentindo um formigamento naquela área.

O mais velho logo voltou a conversar com seus aliados. E eu precisei me embebedar novamente. Troquei algumas palavras com Mano, que estava ao meu lado me perturbando.

Cobra, por sua vez, não me olhava mais. Não depois de ter me dado um olhar mortal. Ele agora estava ignorando minha presença ali. E eu não entendia exatamente o porquê.

Ficar ali já estava me deixando com tédio e um tanto incomodada. Puxei Juca de canto, chamando sua atenção para mim.

- Posso descer novamente? Ou ainda vai precisar de mim aqui? - questionei, sussurrando ao seu ouvido.

Meu corpo arrepiou, quando Juca apoiou sua mão na minha coxa ao se aproximar mais de mim. Inclinei meu rosto, ouvindo o mesmo murmurar algumas coisas.

- Pode levantar da mesa. Mas não vai descer do camarote, entendeu? - engoli em seco, sentindo seu hálito quente na minha orelha. - Não quero você embriagada.

Assenti em entendimento, e me preparei para levantar, quando Juca forçou sua mão na minha coxa novamente. Dessa vez ele apertava minha carne, sem muita força para machucar, mas o suficiente para deixar marcado.

- Vou ficar de olho em você, Loirão.

De repente, tudo passou a girar ali naquele local.

Votem e comentem! ❤️

PEREGRINAOnde histórias criam vida. Descubra agora