Capítulo 18

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Peregrina narrando

Passamos a tarde inteira embalando as coisas da minha mãe. Também guardei todas minhas coisas que haviam ficado aqui depois de eu ter ido pro Complexo do Japão.

Felizmente minha mãe era uma louca que gostava de guardar caixas e sacolas. Conseguimos guardar todas as coisas sem chamar a atenção de ninguém.

O coitado do Cobra que ficou com a parte mais difícil, precisou desmontar todos os móveis. Felizmente não era muita coisa. No entanto, deu um trabalho para o meu amigo.

Já pela noite, minha mãe ficou encarregada de terminar de encaixotar algumas roupas que ainda faltavam. E eu me arrumava pra ir encarar VS mais uma vez.

- Já disse que vou sozinha. - falo pela milésima vez a Cobra.

- Não acho que é uma boa ideia. - passa a mão no rosto, irritado. - Juca me mandou ficar com você.

- Escuta, não quero que você acabe causando uma confusão com os soldados de VS. - falo o óbvio. - Hoje pela manhã você ia nos complicando.

- Não tenho culpa se eles são folgados. - mexe os ombros. - Bando de intrometidos.

- Você não ajuda também.

- Não fui com a cara deles. - cruza os braços. - Se liga, se você não voltar em uma hora, eu vou atrás de você.

- Certo, combinado então. - mostro o polegar em sua direção, fazendo um sinal de legal.

Me arrumei basicamente e já meti meu pé pra central. Durante o caminho, revi alguns moradores, e meu coração ficou um pouco balançado.

Entrei no beco torcendo o nariz, o mau cheiro que estava ali era insuportável. Bati na porta desgastada e esperei que liberassem minha entrada.

- A madame voltou? - VS questionou sarcástico. Reviro os olhos impaciente.

- Cadê teu segurança, pô? - foi a vez de Iago encher meu saco. Ele amava me perturbar.

- Está muito interessado nele, não tá não? - pergunto diretamente para Iago. - Quer conhecer ele melhor?

Vejo ele me encarar irritado, e abrir a boca pra falar mais alguma coisa, mas ficou sem palavras. Aproveitei a deixa e caminhei até meu puf preferido, sentando no mesmo.

Haviam mais dois gerentes na sala, HG e Marcos. Os dois eram mais velhos na caminhada, e eles eram tipo os conselheiros de VS. Eu não tinha muita intimidade com eles, então apenas os cumprimentei com um aceno de cabeça.

- Eai? - suspiro alto. - Queria falar comigo, VS?

VS não tinha um semblante muito amigável enquanto me encarava. Talvez ele estivesse tentando me intimidar, ou algo assim. Mas a única coisa que eu pensava era em como a fuça dele me dava pesadelos. VS era um homem que infelizmente passou na fila da feiúra muitas vezes.

- Você acha que eu engoli a patifaria que você fez comigo naquele dia? - falou grosso. - Me colocou na ligação com aquele filho da puta.

- Você estava tão curioso. Imaginei que fosse querer conversar com ele. - falo na maior inocência.

- Não tira onda com a minha cara, porra! - bate na mesa, causando um estrondo. - Você acha que tá lidando com quem?

Não vacilando com o psicopata do Juca, pra mim tudo estava correto. Não seria VS que me colocaria medo.

- Não fiz nada de errado. Pensei que ele fosse seu parceiro.

- Não vem dar uma de maluca, garota! Eu acabo contigo nesse caralho! - esbravejou.

Engoli em seco quando ele levantou da cadeira, causando um estrondo quando a mesma caiu no chão. Ninguém falava mais nada.

- Acha que porque passou algumas semanas lá, você não me deve mais satisfação?

- Eu não falei nada, VS.

- E não tem que falar mesmo, filha da puta. - aponta o dedo na minha direção. - Minha vontade é de mandar darem umas pauladas em você. É o que você tá merecendo por ter me desobedecido.

Trinquei o dentes, engolindo todo o meu ódio. Eu quem queria dar umas pauladas nesse desgraçado.

- Não sou x9. - falei entredentes.

- Que ideia é essa? - Marcos pergunta curioso. Seus olhos indo de VS para mim.

Encarei VS, notando que o homem me olhava cheio de ódio. Ele me mataria ali mesmo se pudesse, eu sabia disso.

- Também não entendi. - HG se pronunciou. - Qual foi dessa de x9?

Mantive minha boca fechada. Não queria provocar mais ainda a ira do meu ex patrão. Não podia pensar só no meu umbigo nesse momento, pois se eu me prejudicasse, minha mãe e Cobra iriam juntos.

- A única coisa que te mandei fazer foi ficar de olho no que estava rolando por lá.

Filho da puta mentiroso. Onde será que ele aprendeu a mentir desse jeito? Sinceramente, a cara dele nem tremia.

- Como assim ficar de olho? - Marcos se mostrava muito incomodado pelo andar da conversa. - Pelo que eu saiba, o combinado era ela ir ajudar o parceiro na contabilidade.

O rosto de VS torceu ao ouvir seu gerente se referir a Juca como parceiro. A conversa estava ficando interessante, VS estava se engasgando com o próprio veneno.

- Sim, e foi isso que ela foi fazer. - ele tentou mudar de expressão, falando mais manso. - Só pedi para que ela ficasse ligada. Pra segurança dela mesma.

- Sério? - arqueei a sobrancelha, sorrindo com escárnio. - Acho que entendi errado então.

- Deve ter sido. - ele fala com um meio sorriso.

- Engraçado. - viro minha cabeça para o lado, ainda sorrindo. - Na minha mente, lembro de você falando que eu tinha que te contar tudo que eu vi e ouvi lá.

- Que ideia errada do caralho, VS!

HG exclamou exaltado. Não era pra menos, até onde eu sabia, Juca era aliado deles. VS quis agir na trairagem sem motivo plausível.

- Você está maluco, mano? - HG interrogou o mais novo. - Quer causar guerra com nosso aliado? Logo com o Juca?

- Papo reto, eu não estou nem acreditando em uma parada dessa. - Marcos falou desacreditado, balançando a cabeça em negação.

VS sabia que estava na merda. Ele pisou na bola legal. Marcos e HG eram de frente da sintonia, e eu sabia que eles estavam ali a mando do meu ex patrão. Ele queria me ferrar, tinha armado a arapuca pra mim, eu não era boba. O erro dele foi achar que eu ia ficar de laranja nessa história.

- Só quero que saibam que eu fiz tudo o que me foi pedido de início. Agi na pureza, entendeu? - me expliquei. - O cara lá tá dando valor ao meu serviço.

- Me diz que o parceiro não desconfiou de nada dessa parada de x9.

Marcos questionou nervoso. Era nítido o medo que eles tinham de Juca. Eu entendia bem isso. Em uma guerra, eu preferia estar do lado dele.

- Ele não sabe de nada.

Vi eles suspirarem mais tranquilos. Mas mal sabiam eles que o meu patrão, vulgo Juca do Complexo do Japão, já sabia de tudo e mais um pouco.

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