Jogos Vorazes: O Sino [JIKOOK]

IV: Apresentações

POV Jungkook:

O jantar da noite passada, café da manhã e almoço de hoje me deixaram com o estômago revirado. Nunca comi tanto em toda a minha vida! Recusei o suco de laranja por motivos óbvios, mas vejo que é uma das bebidas favoritas da minha equipe de produção. Apesar do desconforto, sinto um pingo de orgulho do meu distrito.

Ao desembarcar do trem, recebo instruções detalhadas sobre como chegar ao nosso novo lar temporário: um edifício com apartamentos aconchegantes que nos servirá de base por três semanas antes do início dos Jogos Vorazes. Sou recebido com grande entusiasmo pela multidão da Capital. Ouço alguém gritando que apostou em mim e me pergunto como isso pôde ter acontecido, mas estou muito ocupado para questionar Aurora ou Falco sobre isso. Preciso ter cuidado onde piso, pois a histeria da multidão pode facilmente me derrubar.

Ao chegar no prédio, deparo-me com uma vista imponente: doze blocos colossais, lado a lado, com janelas adornadas por sacadas. Cada bloco ostenta características distintivas que identificam seu distrito. Cores mais vibrantes adornam o bloco da agricultura, enquanto tons mais escuros definem o distrito dos eletrônicos, o número 3. O distrito 2 se destaca pela sua estrutura impecável, digna de abrigar o próprio presidente. Sua aparência deslumbrante contrasta com os demais blocos, e me faz lembrar da constante ameaça que paira sobre mim: a flechada ou facada do tributo Park Jimin. Luto contra a vontade de me esconder nesse momento, sei que preciso ser forte.

Meu apartamento dá o tamanho de "apenas" umaz dez casas da minha família de tão grande. São quatro quartos, todos com suítes, além de sala de jantar e sala de descanso. As paredes são pintadas com cores claras e vibrantes, transmitindo uma sensação de calma. O piso, diferente do chão rachado e coberto de musgo e terra do Distrito 11, é brilhante e quase parece de vidro. Pessoas silenciosas de uniformes brancos se movimentam pelo local, limpando, arrumando e servindo bandejas com pequenos lanches e bebidas. Teresa, visivelmente mais ativa agora, aceita alguns dos petiscos com um sorriso que há muito tempo não se via em seu rosto. É impressionante como estar bem alimentada e hidratada pode transformar uma pessoa.

- Vocês obviamente irão ficar em quartos separados. - diz nossa mentora, Glimmer. Ela é muito baixa, meio magricela e a pele da cor de chocolate. - Mas podem se encontrar vez ou outra se quiserem trocar algum tipo de aliança ou ajuda.

Teresa me encara por um longo instante, e depois seus olhos cinzentos e pequenos se fixam no chão. Uma onda de dúvidas me invade: como poderia eu ter a coragem de tirar sua vida na arena depois de tudo que fiz por sua família? A mente me traça um cenário horripilante: eu, empunhando a minha arma, pronta para o golpe final. Mas algo me impede de continuar com essa cena na cabeça. Não, eu não posso fazer isso. Alguém vai precisar fazer por mim.

- Agora vocês podem ir para seus quartos descansar da viagem, à noite teremos uma grande festa de boas-vindas do presidente Snow e vocês irão ser transformados pela equipe de produção para serem apresentados à Capital.

Meu estômago revira, Teresa suspira.

- Vocês vão precisar treinar essas caras no espelho e aprender a sorrir, entenderam?

- Estou indo pra morte e você quer que eu dê um sorriso? - pergunto um pouco desacreditado pelo que acabei de ouvir.

- Quero, isso mesmo. - confirma Glimmer com severidade. - Ouvi dizer que você prometeu a seu irmão que ia voltar pra casa, então acredito que você vai mudar essa cara logo, logo.

Taehyung. Eu já tinha esquecido da promessa que lhe fiz antes de vir para a Capital. Será que, na verdade, eu menti para não decepcioná-lo? Ele precisava de força para aceitar que seu irmãozinho lutaria na arena enquanto ele ficava em casa, e eu me senti na obrigação de confortá-lo. Mas seus olhos castanhos imploravam por algo mais, e agora, lembrando dele e dos meus pais ao mesmo tempo, também não consigo evitar às lembrança das mãos pequenas da minha irmã Nari, com o cheiro de suco de laranja nos cabelos, me perguntando quando eu voltaria.