Jogos Vorazes: O Sino [JIKOOK]

XIII: Aqui é seguro

POV Jimin:

Eram, provavelmente, umas três da manhã quando Jungkook e eu retornamos ao tronco. Com muito esforço, conseguimos acender um fogo baixo. O coelho caçado por Teresa, junto com o enlatado e a carne desidratada da minha mochila, garantiu-nos um jantar modesto. Sem temperos e mal cozido, o alimento, ainda assim, matou nossa fome. Observando Teresa e Jungkook exaustos, abrimos o saco de dormir e nos acomodamos para descansar. Apaguei o fogo para evitar que revelasse nossa localização e, enquanto os outros dormiam, assumi a guarda, postando-me próximo à entrada da árvore, vigilante contra inimigos e animais que pudessem ser capturados pelas armadilhas que espalhei ao redor.

O silêncio da arena me embalou em breves cochilos, interrompidos apenas pela busca por água. Peguei punhados de neve e os enfiei em garrafas plásticas, esperando pacientemente que derretessem o suficiente para saciar minha sede. A manhã finalmente despontava no horizonte, lançando raios solares que penetravam o bosque e derretiam a neve superficialmente. Mas o frio, implacável, ainda reinava.

Os dois sinos que encontrei repousam em meu colo, seus metais frios entrelaçados com meus dedos. O que significam? Qual o seu propósito? Quantos outros sinos se escondem espalhados pela arena? Em meio a essas perguntas sem respostas, minha mente vagueia, buscando compreender o enigma que é essa arena e seus misteriosos sinos. De repente, um som metálico ecoa do lado de fora, sinalizando a captura de um animal em uma armadilha próxima. A distração momentânea me afasta das perguntas.

— Deixa que eu verifico. - ouço Teresa dizer e me assusto, quando foi que ela acordou? Ela sorri vendo meu espanto: — Abri meus olhos bem agora, ok? Ouvi a armadilha.

Dou uma risada baixa.

— Pode descansar mais, eu vou buscar.

— Nah. - ela diz, se levantando e fazendo Jungkook se remexer no saco de dormir resmungando alguma coisa. - Você precisa dormir também.

Preciso concordar de que estou exausto, dormi muito pouco, cochilei e acordei assustado algumas vezes, e me sinto emocionalmente destruído por motivos óbvios.

— Certo, mas vou ficar aqui te observando enquanto vai até lá, é perigoso.

— Ok, Sr.Protetor. - ela me faz rir pela segunda vez e sai do tronco.

Sigo Teresa para fora da cabana e me posiciono na entrada, arco em punho. Meus olhos vasculham o entorno com cautela, atentos a qualquer movimento que possa colocar Teresa em perigo. Mas a floresta permanece em silêncio, apenas quebrado pelo retorno da garota com um pequeno esquilo pendurado pelo rabo e algumas nozes em suas mãos.

Entramos juntos no tronco da árvore e enquanto Teresa se dedica à tarefa de acender o fogo, me acomodo próximo a Jungkook, ao lado do saco de dormir. O cansaço me leva a alguns cochilos, mas a agitação me impede de descansar completamente. Viro-me para Jungkook, que dorme a cerca de dois metros de distância, e o observo em silêncio. Seus cílios, pequenos e delicados, emolduram um rosto sereno, ainda que marcado por uma leve sujeira. A boca entreaberta revela a respiração suave do sono. As mãos, pousadas próximas ao rosto, exibem calos que contam histórias de trabalho árduo e sacrifício. Observo minhas próprias mãos, calejadas, mas não ao ponto de se compararem àquelas. Imagino a dureza da vida no Distrito 11, a luta diária pela sobrevivência que esculpiu cada marca em seu rosto e cada calo em suas mãos.

A figura de Namjoon surge em meus pensamentos enquanto observo Jungkook. Quantas vezes ele deve ter me visto desaparecer pela cozinha dos Avoxes em busca de Jungkook, sem nunca dizer uma palavra? Por que ele escolheu o silêncio? Por que me protegeu dessa forma? No fundo, ele devia saber muito mais sobre a rebelião do que jamais poderia me revelar, e essa constatação me causa profunda tristeza. Era excruciante saber que não tive a oportunidade de agir, de fazer algo que pudesse mudar o curso dos acontecimentos.