Louis encontrava-se rigidamente sentado na poltrona de couro, seus dedos tamborilando nervosamente na borda da mesa de madeira polida. Seu olhar encontrou o do pai, cujos olhos transmitiam uma mistura de desaprovação e decepção ㅡ o silêncio tenso pairava no ar, quebrado apenas pelo som abafado dos ponteiros do relógio.
O médico tentou disfarçar seu nervosismo, mas sua postura o traía. Seus ombros estavam tensos, como se estivessem prontos para se defender de um ataque iminente; as mãos, normalmente firmes e seguras, agora tremiam ligeiramente, uma manifestação visível de sua agitação interna.
A mesa entre eles parecia uma barreira insuperável, simbolizando a distância emocional que havia se desenvolvido ao longo dos anos entre pai e filho. Ethel ponderava após a explicação prévia do pediatra, o rosto austero revelando pouco de suas emoções.
ㅡ Deixe-me ver se entendi. ㅡ O alfa cruzou as mãos sobre o material de madeira. ㅡ Um paciente com um possível quadro de sepse é atendido na emergência, e você, ciente que ele não possui condições financeiras de arcar com o tratamento, decide mantê-lo sob nossos cuidados ao invés de transferi-lo para uma unidade de atendimento público? E não somente isso, como também acolhe sua filha e permite que o hospital banque sua estadia? Tudo isso, claro, sem me consultar.
ㅡ Eu não mencionei nada sobre condições financeiras. ㅡ Ethel o fitou com descrédito, entregando que, nos poucos segundos que analisou a situação, fez uma leitura preconceituosa. ㅡ Eu não acredito que você está dizendo isso.
ㅡ Não me olhe como se eu estivesse dizendo um absurdo, Louis. Quantos ômegas mães não-atados presentes na classe média ou alta você conhece? Essas pessoas vivem às mazelas da sociedade!
ㅡ E desde quando a medicina faz julgamento de valor? ㅡ O corpo se projetou para frente, a raiva por ouvir palavras tão grotescas era evidente em sua entonação. ㅡ Eu não olho raça, etnia, crença ou posição dentro da sociedade para ajudar alguém, pai. Fiz um juramento, e pretendo cumpri-lo pelo resto da minha vida.
ㅡ Deixe suas frases de palestrante de congresso para março, não as desperdicem em mim. ㅡ Concluiu ao limpar a garganta, a armação ocular retornando ao seu devido lugar. ㅡ Eu não sei como seu paciente fará para pagar o tratamento, mas já que você está imerso na filosofia humanitária, isso é responsabilidade sua. Quanto à garota...bem, considerando tudo o que me disse, acredito que você já tenha acionado a assistência social.
Os músculos da face do pediatra se moveram involuntariamente ㅡ Ethel reconhecia uma mentira a quilômetros de distância.
ㅡ Fez o Juramento de Hipócrates mas se recusa a denunciar um caso de negligência infantil?
ㅡ Não há denúncia a fazer. ㅡ Controlou sua respiração. ㅡ Harry é um ômega sem apoio emocional que cuida da sua filhote sozinho, é de se esperar que ele esteja receoso quanto à permitir que pessoas desconhecidas façam exames-
ㅡ Então você quer assumir o caso da criança também? ㅡ Ele quase riu, incredulidade transparecendo nos olhos azuis. ㅡ E o que você espera que irá acontecer quando os resultados saírem? Que essa mesma mãe pague pelos exames, consultas e remédios?
Tomlinson se calou.
Confrontrar Ethel, de modo geral, raramente era efetivo.
ㅡ Se você realmente quer ajudar essa família, transfira esse ômega para um hospital público.
ㅡ Você sabe que os hospitais públicos não possuem infraestrutura para lidar com esse caso. ㅡ Os olhos se fecharam e se abriram numa tentativa de manter a sanidade. ㅡ Qualquer tratamento com hormônios e vitaminas, mesmo que em instituições públicas, levam anos para ser realizados. E ainda quando acontecem, não são completamente gratuitos- você sabe disso.
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Nei Tuoi Occhi c'è il Cielo
FanficNuma Londres implacável, Harry Styles enfrenta a árdua tarefa de criar sua filha, Celeste. Em meio à noites desesperançosas e repletas de remorso, ele vê sua vida entrelaçar-se com a do pediatra Louis Tomlinson. Entre a arte da medicina e a delicad...