A tarde seguia tranquila dentro de casa, com o silêncio sendo pontuado apenas pelo som suave das páginas viradas por Celeste, que encontrava-se esticada no tapete da sala. A menina parecia absorta em seu livro, enquanto os flocos de neve derretiam lentamente do lado de fora da janela.
Apesar de tudo parecer ter voltado à normalidade, Harry não conseguia ignorar a sensação de que algo sutilmente havia mudado desde seu "retorno."
O ômega sabia de cada detalhe dos dias que passou ausente, pois Louis havia anotado tudo, com a paciência e o cuidado de alguém que queria garantir que nada escapasse. Styles se impressionou com o comprometimento do alfa, era mais do que ele poderia ter esperado - não apenas a segurança física de sua filha foi zelada, mas seu conforto emocional.
Embora soubesse que Tomlinson havia cuidado da garota como se fosse uma parte fundamental de sua vida, uma insegurança sutil o incomodava. A estadia ali sempre pareceu temporária, algo que, em algum momento, teria um fim ㅡ e era justamente essa falta de estabilidade que o perturbava.
O medo de que Celeste estivesse se apegando a algo que não era fixo o assombrava. Ele não queria que sua filhote confundisse essa fase com algo permanente, pois, no fundo, sabia que não podia garantir que aquele arranjo duraria para sempre.
O italiano fechou os olhos por um momento, tentando afastar os pensamentos que rondavam sua mente. Ele sentiu o peso delicado e repentino da criança quando ela se acomodou em seu colo, aninhando-se contra ele com cautela.
A conexão entre eles sempre fora forte, porém a garota aparentava estar mais atenta, mais sensível ao que o cercava ㅡ ela parecia notar a carga emocional materna, como se pudesse sentir as oscilações de seu estado de espírito. O adulto ainda tentava decidir se isso era bom ou ruim, ponderando se a capacidade de Celeste de captar seus sentimentos poderia fortalecê-los ou, pelo contrário, sobrecarregá-la com preocupações que não eram dela.
O pequeno nariz esfregou-se contra sua glândula aromática, buscando ali resquícios de uma fragrância que mal era capaz se sentir. O retorno do cheiro natural foi o efeito menos nocivo que o rapaz experimentou desde o início da reposição hormonal, e apesar dos desafios e efeitos negativos que essa nova fase trazia, saber que sua prole podia sentir seu aroma era um consolo que tornava cada nuance de mal-estar mais suportável.
— O que houve, hm? — Harry quis saber, um sorriso se expandindo em seu rosto. — Veio sentir meu cheirinho?
— Eu senti que você estava triste. — Murmurou contra o pescoço quentinho. — E que precisava de um abraço.
— Não estou triste, piccola, prometo. — Depositou um beijo na cabeça infantil. — O que você acha de irmos lá fora brincar um pouco? Aproveitar que a neve parou e ir na casinha de madeira...
— O Louis vai com a gente?
O ômega sentiu o coração apertar ao ouvir a pergunta. Parte dele queria dizer que sim, que Louis iria com eles e asseguraria que tudo corresse bem. No entanto, o médico tinha feito tanto nos últimos dias que soava quase um abuso colocá-lo em tal situação ao invés de reconhecer que ele merecia descanso ㅡ ademais, uma pontada de insegurança persistia, alimentada pelo medo da dependência.
— Eu acho que ele está descansando agora. — Ele ajustou uma mecha castanha que cobria parte da face da criança. — Ele trabalhou muito ontem, lembra?
— Ah... — A garota mordeu o lábio inferior, claramente desapontada. — Mas...e se ele estiver acordado? Não podemos ir perguntar?
— Não, amore, não podemos. — Respondeu com um pouco mais de firmeza, recuando ao notar que o semblante receoso demonstrou um lapso de tristeza. — Agora preciso que vista seu casaco azul, gorro e luvas. Está muito frio lá fora.
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Nei Tuoi Occhi c'è il Cielo
FanficNuma Londres implacável, Harry Styles enfrenta a árdua tarefa de criar sua filha, Celeste. Em meio à noites desesperançosas e repletas de remorso, ele vê sua vida entrelaçar-se com a do pediatra Louis Tomlinson. Entre a arte da medicina e a delicad...