Capítulo 6: Cartocci

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Que Louis era normalmente rejeitado por Harry ele mesmo sabia ㅡ a desconfiança, as respostas monossilábicas, a falta de contato visual e as esquivas corporais comunicavam tudo que precisava saber.

Contudo, apesar de incapaz de apontar mudanças significativas na relação que possuíam, o pediatra conseguiu identificar que o comportamento do ômega havia mudado.

O primeiro indício foi percebido não muito tempo depois do dia vinte e cinco de dezembro. Tomlinson costumava se reunir com os amigos em bares frequentados pela elite na última data do calendário, um encontro que, além de resultar em memórias embaraçosas e fortes dores de cabeça ao despertar em primeiro de janeiro, também contribuía para que ele não se isolasse e se afundasse em melancolia. Talvez o alfa tenha convencido seus colegas a assistir a queima de fogos de artifício do Ano Novo no Hyde Park, apoiando-se na justificativa de ser um dos maiores eventos públicos de Londres ㅡ se Styles estivesse lá vendendo seus doces seria uma mera coincidência.

O médico era apenas mais um no mar de pessoas que se aglomeravam em torno do lago Serpentine. Famílias se amontoavam em cobertores, casais se entrelaçavam sob o luar e grupos de amigos riam e cantavam, aquecendo a alma com o calor da companhia. Um espetáculo de luzes e sons se desenrolava no céu e foguetes de artifício explodiam em uma sinfonia de cores, desenhavando arabescos luminosos contra a escuridão.

O inglês pôde ver, ainda ao longe, a exibição colorida refletida nos olhos verdes do italiano, e movido pela coragem do álcool dissolvido em seu sangue, ele se embrenhou na multidão e alcançou a banca açucarada.

A feição antes encantada pela explosão de cores se dissolveu, o suspiro de descontentamento escapou pelas narinas. Celeste, que era poupada do barulho com um protetor auditivo infantil, também não foi capaz de camuflar suas emoções, quase que imediatamente apertando as sobrancelhas e se escondendo atrás da mãe.

Styles não teceu rodeios, a interação foi unilateral.

Tomlinson se convenceu de que a ingestão de bebidas estava atrapalhando seu discernimento, engolindo a frieza alheia na expectativa de que fosse algo momentâneo.

O tratamento de silêncio, no entanto, se estendeu, cravando a afirmação que pediatra se negava a acreditar ㅡ Harry, de fato, não o queria por perto.

E ele nem ao menos sabia o porquê.

Ou talvez ele soubesse.

Sua insistência era uma qualidade, porém poderia ser um grande defeito.

Louis, então, decidiu diminuir a frequência que adquiria os doces, lentamente deixando de ver o jovem todos os dias. Ele não desejava somente lhe dar espaço, mas se permitir a não nutrir sentimentos por ele também.

Sentimentos de amizade, empatia e cumplicidade, obviamente.

O desprezo continuava ali, não havia brechas para diálogo.

O pediatra queria ser mais incisivo, questioná-lo e esclarecer o que poderia ter acontecido no curto período de tempo que deixaram de se comunicar.

Entretanto, ele sentia que não tinha o direito de fazer isso ㅡ cobrar por explicações.

Eles não eram amigos, a relação que possuíam se assemelhavam mais a meros conhecidos.

Era ele quem sempre se aproximava; sempre se movia para obter uma saudação que fosse. O outro lado não aparentava tanto interesse em estabelecer uma conexão e, honestamente, o inglês o entendia com clareza.

Para viver nas circunstâncias que se encontrava, Harry era o ômega que precisava ser ㅡ alguém centrado, cauteloso e protetor.

Enquanto o médico ponderava como deveria agir, o ômega tentava reprimir as próprias emoções, comportamento este que não era novo para alguém que tinha que sustentar uma criança sozinha e não possuía tempo para se importar consigo mesmo, mas que, por algum motivo, havia se tornado uma tarefa árdua quando relacionado à Tomlinson.

Nei Tuoi Occhi c'è il CieloOnde histórias criam vida. Descubra agora