Capítulo 11

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Naquela noite o pessoal se arrumou pro luau, mas eu me arrumei pra Valquíria. Não diria isso em voz alta, mas eu queria sim que a nossa noite fosse marcante. Ela tava tão gostosa com um vestido estampado, comprido, com as costas abertas, que eu perdi a concentração em qualquer outra conversa, qualquer outra pessoa, ou até em mim mesmo.

Depois de umas fotos com o pessoal, dei a mão pra ela e descemos para a prainha do condomínio. Sim, estávamos pagando de casal de namorados e eu não estava nem aí.

Paramos num canto e ficamos observando a festa ridícula de tão cara, disfarçada de luau "rústico". Eu acendi meu cigarro e falei pouco, nada por ali me interessava. Nossos amigos, por outro lado, se divertiam assistindo o Denis fingir costume quando a Bela apresentava ele pra alguém famoso.

— Que foi? Por que você tá quieto? — a Val me cutucou.

— Tô pensando que a gente tem coisa melhor pra fazer — convidei.

— Será que a casa tá aberta?

Nem discuti, apaguei meu cigarro, coloquei um chiclete na boca e apertamos o passo de volta à casa.

Até entrarmos num dos quartos, não dissemos nada, o que foi meio esquisito. Nós nunca ficávamos em silêncio. Será que ela estava tão nervosa quanto eu? Será que eu deveria falar o que eu andava sentindo por ela? Antes ou depois?

Trancamos a porta, deixamos só a luz de um dos celulares acesa e começamos a nos beijar. Sem pressa, tentando reencontrar o ritmo daquela tarde... até que ela interrompeu tudo e me falou:

— Miguel, vai devagar, tá?

Outra vez eu levei alguns segundos para entender a mensagem.

A Val tinha me escolhido pra ser o primeiro cara dela, como se reage a isso?

Bom, uma coisa eu já sabia, não ia dar pra fazer todas as coisas que eu queria fazer logo da primeira vez. E por dois segundos eu pensei em desistir, eu não sou um cara romântico, eu não devia ser o primeiro cara a transar com a Val, ela merece flores, jantares e a porra toda antes disso. A gente nunca nem tinha ido no cinema juntos! Ou jantar fora igual ao outro lá. Nosso relacionamento era baseado em pegação e mensagens de whatsapp.

Por outro lado, a Val estava ali, se oferecendo pra mim, como eu sempre delirei. Se eu desistisse ela ia ficar muito puta comigo e eu me arrependeria pro resto da vida... Quer saber?

Ela queria, eu queria e pronto.

— Qualquer coisa você fala... E a gente para — falei.

— Tá.

Tentei não parecer tão nervoso como de repente fiquei.

Era a gente, eram meus sentimentos, era a Val ser virgem... Eu não podia fazer nada errado.

O ato em si foi estranho, não estávamos no nosso "fogo" usual. Eu nunca tinha ficado com alguém que fosse virgem e não consegui entender se ela estava gostando de verdade ou não, mas, aconteceu.

— Tá tudo bem? — perguntei.

— Acho que sim.

E lá estávamos nós em mais um silêncio esquisito.

Eu com certeza tinha feito algo errado.

Mas antes que eu conseguisse pensar no que dizer, a Val deu um gritinho:

— Eita!

Tínhamos manchado o lençol de sangue.

Trocamos olhares constrangidos por alguns segundos, mas ela nem me deu tempo de perguntar se estava doendo.

Outras vozes de Viradela - by MiguelOnde histórias criam vida. Descubra agora