O escritório dava uma semana de recesso pros funcionários, entre o Natal e o ano novo. Dia 24 fui à missa com minha mãe e a Rafa (era a primeira vez no ano que eu ia à igreja) e dia 25 almoçamos juntos em casa, como sempre.
No dia seguinte minha irmã quis ir pra Monte Prata e, enquanto levava ela de carro na rodoviária, fingi não prestar atenção nela trocando mensagens de áudio com a Alice, falando de não sei quem que ia encontrar com elas no coreto.
Cheguei em casa e me larguei na cama.
— Miguel, vai dar uma volta. Tá calor! Vai pro sítio do Jonas usar a piscina! Eu sei que ele tá em Viradela. — Minha mãe me deu uma bronca.
— Ah dona Bete, me deixa!
Mas ela não parou de falar. Encheu tanto o saco que conseguiu o que queria: fui encontrar o pessoal que estava na praça. Não estavam todos lá, por conta do trabalho, mas organizamos um joguinho de vôlei, eu, Jonas, Rebeca e Beto.
E depois a Giovanna apareceu, com a Aurora dormindo no carrinho. Tive sentimentos muito conflitantes com essa cena. A gente era adolescente ou adulto? Deveríamos estar trabalhando ou curtindo fazer nada? Deveríamos estar contando os centavos pra dar conta de boletos "sérios" ou devíamos estar torrando tudo na balada?
Sei lá, sei que sair um pouco de casa me fez mesmo bem. Eu merecia uma semana sossegado, então, é claro que tudo passou rápido demais e de repente já era madrugada do dia primeiro de janeiro, no bar do Zeca.
— Miguel, essa é a Thamires, minha amiga da facu. — A Lorena chegou perto de mim, toda alegre, de braço dado com uma garota negra, sorridente. Ela vestia uma camisa do Corinthians, segurava um copo de cerveja numa mão e um cigarro pendia na boca.
— Bão? — a garota se soltou da Lorena, tirou o cigarro da boca, me deu um beijo na bochecha e puxou uma cadeira.
Era como se a Lorena tivesse encontrado a minha versão feminina. Olhei pra ela rindo.
— De nada. O aniversário é meu, mas tô distribuindo presentes — ela mandou um beijo no ar e se afastou.
A Thamires era mesmo muito gente boa e a gente encerrou a noite, ou iniciou o dia dependendo do ponto de vista, no único motel de Santo Fundo.
Encontrei minha mãe tomando café-da-manhã quando cheguei em casa.
— Você tá chegando agora? — ela olhou pra porta do meu quarto fechada.
Eu balancei a cabeça e dei uma risadinha:
— Miguel tá de volta.
— Mas você é oito ou oitenta, hein? — ela riu também.
— É... acho que sou.
De segunda a sexta eu trabalhava e estudava e de final de semana eu vivia.
A Val me mandou mensagem dizendo que tinha passado no vestibular. Eu liguei pra ela pra dar parabéns sem me importar que ela estava com o otário. Ela até mostrou ele na tela e nós trocamos um "oi", "e aí".
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Outras vozes de Viradela - by Miguel
Teen FictionNesse clichê jovem adulto sobre aquele cara que disse que nunca ia namorar, até conhecer "aquela mina", Miguel é o garoto que decide começar o ensino médio sendo uma nova pessoa. Ele não vai mais obedecer às regras nem só tirar notas boas. Quem sab...