Capítulo 17

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— Acredita que já faz um ano que eu quase atropelei a Tequila? — o ônibus entrou suavemente na estrada recém recapeada e com novos postes de iluminação. — Depois dessa reforma, acho que os gatos perdidos estão mais seguros.

A Lorena sorriu.

— Isso que é vontade do prefeito de não perder a próxima eleição pra Bela Ferraz.

— Vai perder de lavada.

— Engraçado você falar que "já faz um ano". Eu sinto como se eu tivesse vivido cinco anos só esse ano.

— Também! —  A Lorena havia me contado tantas histórias dela nessas nossas viagens de ônibus e de carro nos retornos da faculdade que as vezes eu me imaginava acompanhando uma telenovela. —  Tô cansado só de lembrar.

Ela deu uma risada gostosa, relaxada, como não dava há muito tempo.

— Agora eu só quero férias, isso sim.

— Dois. O foda é que esse ano os Padilha não vão dar férias coletivas no final do ano. Aqueles vagabundos!

— Jura? Que droga.

— Vou te falar a verdade — suspirei. — Quero mais é que o tempo passe voando mesmo e o carnaval chegue logo. Eu sei que eu sou muito trouxa, mas você tem que me ajudar na campanha pra Val vir pra cá.

— Ela vem, pode deixar.

Me permiti um sorrisinho de esperança enquanto passávamos pela estátua na entrada de Viradela.

— E você não é trouxa, só é bobo apaixonado. — A Lorena disse dando uma risadinha.

Fiquei quieto.

Fiquei quieto

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Trinta de dezembro, eu trabalhando. E em Santo Fundo.

Aquele ano estava sendo encerrado com chave de ouro no quesito pé no saco. O escritório novo tinha sido instalado em Viradela e, para minha infelicidade, eu tinha que dividir meus dias de trabalho entre os dois escritórios. "Até contratarem outro auxiliar", ã hã, eu sabia bem como eles lidavam com isso. Três novos advogados e dois estagiários, mas nada de alguém pra me ajudar. E nem adiantava não dar conta de tudo, só o que eu recebia eram reclamações e mais trabalho. Ao menos o contrato da Jang-mi seria encerrado em janeiro e eu não precisaria mais cruzar com ela duas vezes na semana.

Minha mãe tinha ido viajar com as amigas e levado a Rafaela. Eu e os gatos passaríamos o Réveillon juntos.

Inferno de vida adulta.

Comprei um maço de cigarro na hora do almoço. Que se danasse a minha saúde.

Ao menos dona Bete tinha deixado o carro e no fim do expediente pude ir embora o mais rápido possível. Sai da estrada direto pra praça de Viradela, sem nem parar em casa. O pessoal estava jogando vôlei.

Outras vozes de Viradela - by MiguelOnde histórias criam vida. Descubra agora