Fui declarado vencedor da competição de passar o rodo nas minas da sala quando o Beto desistiu de continuar, mais ou menos em outubro. Ele tinha pedido pra ficar com a Camila e ela não quis. Primeiro ele falou que a conquista ia ser mais gostosa assim, mas, uns dois meses depois ele não tinha pegado mais ninguém e parou de falar no assunto. Nos sábados e domingos, quando a gente costumava ir pra casa da Lorena, ou ir em algum churrasco, ele nem aparecia, dando a desculpa que estava ajudando o Hélião a reformar o fusca.
O irmão do Beto adora carro e o vô deles deu um fusca velho pra ele, disse que se conseguisse fazer funcionar, podia ficar com ele. O Helião rapidamente arrumou o emprego no mercado e passou a gastar todo o salário com isso.
Mas, voltando ao Beto, não se engane, ele ainda dava conselhos do tipo "pra mina terminar com você é só dar uma sumida, ela se toca", mas acho que ele finalmente tava apaixonado. Então a gente só deixou ele quieto. Passei a andar mais com o Jonas, que não era de pegar ninguém, por isso dei uma sossegada. Futebol e videogame retomaram um pouco da minha atenção.
E eu até decidi beijar mais de uma vez uma mesma mina, pra variar. Dei mais uns beijos na Karen no tradicional "Baile da Primavera" que tinha todo ano em Santo Fundo. Na semana seguinte, a galera estava na praça e eu fiz um sinal pra ela ir comigo dar uma volta. A Karen então me apresentou o famoso cinema abandonado, onde a gente passou a se encontrar de vez em quando. E ela também me apresentou outras coisas, como as vantagens de não usar sutiã. Na escola a gente não se falava muito (aliás, nem quando a gente se pegava a gente conversava muito), mas, sei lá, a coisa estava interessante.
Até a Lorena brincar comigo, no intervalo de uma das aulas:
— Quem diria, hein Miguel, se apegando...
Quem tava perto mandou um "hummm", me cutucaram e deram risada. Ainda bem, a Karen não andava com a gente no intervalo, porque eu, sem noção, respondi:
— Ãh? Não, nada a ver.
— É? Então tá.
O sinal tocou e voltamos pra sala, mas quando estávamos andando pra casa, o Jonas voltou no assunto:
— Miguel, véio, assim, eu sei que eu não tenho nada que me meter, mas, você tá ligado que a Karen tá achando que vocês vão namorar, né?
— Quê? De onde você tirou isso?
— Tá todo mundo falando.
— Como assim todo mundo?
— Cidade pequena, cara.
— Vixi, nem vou mais chamar ela pra dar rolê então.
— Miguel, não vai ser trouxa que nem o Beto. Fala com a mina.
— Mas a gente só tá dando uns beijo.
— Você não sabe a merda que é tá a fim de quem não tá nem aí pra gente.
Eu olhei pra ele e levantei as sobrancelhas. Não ia insistir, se ele quisesse falar, falaria.
— Rebeca — ele confessou, — desde... sempre.
— Eita porra, foi mal aí ter beijado ela.
— De boa, a gente ainda nem se conhecia.
— Mas ela sabe?
— Sabe.
E mudou de assunto.
Mas isso tudo ficou martelando na minha cabeça, então, quando a Karen me mandou mensagem na sexta falando "cinema abandonado hoje depois da novela?" eu não tive dúvida, respondi "porra, Karen... sabe que é, eu tô sentindo que você tá a fim de algo sério e eu não tô... você não acha que é melhor a gente não se pegar mais?".
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Outras vozes de Viradela - by Miguel
Teen FictionNesse clichê jovem adulto sobre aquele cara que disse que nunca ia namorar, até conhecer "aquela mina", Miguel é o garoto que decide começar o ensino médio sendo uma nova pessoa. Ele não vai mais obedecer às regras nem só tirar notas boas. Quem sab...