Na semana seguinte, eu deveria ir pra casa do Walter. Me recusei. Minha mãe argumentou os direitos dele, sendo meu pai, e apelou como sempre para a necessidade de ficar de olho na Rafa. Aceitei ir por dois dias. Falaria o mínimo com ele e me forçaria a ser legal com a minha vó. Na minha opinião, ela nunca deveria ter acolhido o filho de volta.
Fui de ônibus, depois peguei um mototáxi até o sítio e, assim que passei a porteira, acendi um cigarro. Como a minha mãe já sabia, não me incomodei de esconder o vício de mais ninguém.
— Você tá fumando, Miguel?! — minha irmã colocou as duas mãos na cintura, como se fosse ela a mais velha.
— Oi pra você também, Rafaela. — Exagerando, soltei a fumaça.
— Desde quando? — tio Silvio falou alto.
A Rita arregalou os olhos e eu respondi, o mais indiferente que consegui:
— Desde... sempre.
Vó Toninha resmungou pra eu não fumar dentro de casa e deixar tudo fedendo.
E meu pai, nem sei.
— Mas Miguel, faz mal! — a Rafa insistiu.
— Eu sei..., mas tem coisa que... Quando você for mais velha você vai entender.
Ela fechou a cara e voltou a brincar com a Alice.
À noite, como era de se esperar, minha prima e eu fomos numa festa. Eu ainda estava puto então planejei encher a cara e quem sabe dar algum trabalho pro meu pai, pra variar.
Mas, as coisas geralmente não são como eu planejo.
Sentamos no quintal dos fundos da casa de alguém cujos pais estavam sabe Deus onde, chamamos pizza e compartilhamos cervejas e cigarrinhos do capeta. A Nina, uma negra magrinha, amiga da minha prima, começou a puxar papo comigo e eu demorei a me tocar das intenções dela. Também não percebi o quanto estava embriagado até que ela me puxou pela mão pra gente dançar.
Levantei e o chão pareceu estar distante dos meus pés. Dei risada e me encaixei com ela, tentando não nos derrubar.
— Você me ensina a dançar e eu te ensino outra coisa... — ela falou na minha orelha.
Meu corpo correspondeu imediatamente. Eu até perdi o ritmo e ela riu, me olhando de um jeito muito safado:
— Tô falando sério, me espera na porta do meu quarto, é do lado do banheiro. Vamos separados pra ninguém zoar a gente.
A Nina me soltou e sumiu pra dentro da casa. Fiquei parado, encarando o pé de uma cadeira que insistia em girar descontrolada. Senti um leve empurrão de outro casal que estava dançando e me liguei que estava atrapalhando.
Como eu ia imaginar que ia perder minha virgindade naquele dia? A gostosa da Nina me dando mole nunca nem passaria pela minha cabeça. Se soubesse não teria bebido tanto. Mas eu não podia desperdiçar a oportunidade.
Caminhei devagar, apoiando a mão nas paredes do corredor, pensando se eu seria capaz ou não de fazer alguma coisa. Há alguns passos, a Nina me olhava animada, mexendo numa mecha do próprio cabelo e mascando chiclete.
Uma onda de enjoo me arrebatou. Não, eu não seria capaz de fazer nada.
Entrei na porta antes do quarto dela e por pouco não vomitei no chão. Ainda assim sujei a barra da minha camiseta.
— Puta merda, Miguel! — escutei a voz da Maria Rita depois de um tempo.
Ela e a Nina me levaram pro quarto, infelizmente só pra me deixar dormindo até a hora que eu não estivesse tão imprestável pra ir embora. Agradeço até hoje porque nem minha prima nem a Nina contaram meu vexame pra ninguém.
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Outras vozes de Viradela - by Miguel
Teen FictionNesse clichê jovem adulto sobre aquele cara que disse que nunca ia namorar, até conhecer "aquela mina", Miguel é o garoto que decide começar o ensino médio sendo uma nova pessoa. Ele não vai mais obedecer às regras nem só tirar notas boas. Quem sab...