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Capítulo 4

Durante todo o caminho para casa, Wangji  não conseguia parar de pensar no que Mingjue  lhe disse.
Um esposo. Um novo começo.

Mas como poderia fazer isso sem se sentir culpado por se casar novamente, quando Xuanyu e Tong estavam embaixo da terra? E, acima de tudo, como poderia trazer um ômega que não conhecia para sua casa?

Mingjue  devia estar louco se pensava que aceitaria tal coisa.
Estava tão absorto em seus pensamentos que nem percebeu que já estava chegando ao rancho. Estava começando a escurecer, mas mesmo assim a paisagem da colina era espetacular.

A visão de suas vastas terras verdes, sua casa erguendo-se ao lado de montanhas distantes e seu gado pastando silenciosamente, o fez estremecer. Esta era sua casa, aquela que começara a odiar por ser tão cheia de lembranças que o perseguiam todos os dias.
Mas agora, vendo as milhares de cores que o céu mostrava após o pôr do sol, se perguntou se estava sendo justo com este lugar.
Ele o viu crescer, dando-lhe um lar, estabilidade e um motivo para se levantar todas as manhãs. Sentia-se orgulhoso de ver como aos poucos, sob seus cuidados, crescia e prosperava até se tornar uma das melhores fazendas da região. E ainda assim estava pensando em abandoná-la.
Tinha esquecido o que o rancho representava para ele?
O que mais havia esquecido?

Observou a enorme casa de madeira e estremeceu novamente. Estava em casa e, por mais que se recusasse a admitir às vezes, aquele era o seu lugar.
Suspirou, parou a carroça na frente da casa e olhou em volta.
Embora a noite estivesse tomando forma, a atividade ainda não havia parado no rancho. Viu quatro de seus homens cavalgando e adivinhou que eles estavam a caminho para ficar de guarda. Também observou que um dos peões vinha ao seu encontro, para pegar a carroça e desatrelar os cavalos.
Saltou do carroça e se assustou com a voz de seu capataz atrás dele.

— Você voltou logo. — Quando Wangji  se virou para olhá-lo, Wanyin  continuou falando. — E tem uma cara feia.

— Isso é porque você me assustou até a morte. Não pode se aproximar fazendo barulho como todo mundo?

Wanyin  olhou para ele sem dizer nada. Wangji  estava convencido de que se o homem fosse dado a palavras, teria respondido com uma resposta irônica, como se o uísque tivesse entorpecido seus ouvidos. Felizmente, só teve que suportar um grunhido.
Mas vendo que Wanyin  não iria embora, Wangji  supôs que estava esperando uma explicação.

— Culpe Mingjue  por voltar tão cedo — ele bufou.

—  Ele enfiou na cabeça que eu deveria me casar e me arranjou um noivo por correspondência.

Mas a reação do capataz não foi o que Wangji  esperava, pois permaneceu em silêncio, olhando para ele. E quando Wangji  pensou que a conversa havia acabado, Wanyin  o surpreendeu dizendo:
— E isso está errado?

Wangji  percebeu que seu rosto chocado devia ser bastante cômico, embora, felizmente, Wanyin  não tenha rido. É claro que isso não dizia muito, já que Wanyin  nunca ria.

— Com que isso não está de errado? Ele quer que eu case com um estranho. Diz que a solidão não faz bem e que a companhia de um ômega seria boa para mim. Como se sua presença mudasse tudo...

— Acho que seu amigo está certo. A solidão não é boa e um ômega pode alegrar sua vida e te fazer feliz.

Cada vez mais surpreso, Wangji  tirou o chapéu e passou a mão pelos cabelos. Todos ficaram loucos? Não perceberam que não poderia trazer outro ômega para sua casa e para sua vida?

— Eu acho que você não entendeu. É um ômega estranho.

Wangji  conseguiu um longo olhar de Wanyin , como se quisesse dizer que o único que não entendia nada era ele.

— Você se casaria com alguém que você não conhece? — Um encolher de ombros foi a resposta do homem.

A situação era tão absurda que Wangji  queria acabar com ela o mais rápido possível, então começou a caminhar em direção à casa.

Mas a voz de Wanyin  o deteve.
— Algum dia eu vou me casar também.
Ouvindo isso, Wangji  se virou. Nem em um milhão de anos teria acreditado que seu capataz, o homem mais solitário e quieto que ele conhecia, pretendia se casar um dia.
Mas as palavras que ele continuou a dizer o deixaram preso no chão. Acima de tudo, porque nunca o tinha ouvido falar tanto.

— Tenho algum dinheiro guardado. Algum dia vou comprar meu próprio rancho e encontrar um bom  esposo.

E se aproximando de Wangji , colocou a mão em seu ombro e continuou.

— Seu amigo está certo. Solidão não é bom e um esposo seria muito bom para você.

Então, casualmente, Wanyin  se afastou deixando-o de boca aberta.
Por alguns segundos, Wangji  apenas ficou lá, observando-o se afastar.

Duas das pessoas em quem confiava lhe disseram no mesmo dia que deveria se casar. E não em alguns anos, mas agora e com um estranho. Será que tinha perdido algo nos últimos dias?
De repente, se lembrou de sua melancolia, das vezes em que o viram bêbado e desesperado, chorando por uma vida que não seria mais possível. Tinha perdido o coração e todos os dias sentia vontade de morrer.

Talvez tenham visto tudo isso e acreditado que um ômega o ajudaria, mas mesmo que um ômega o fizesse, como ele poderia se apaixonar novamente? Como poderia tocar outro ômega sem sentir que traia a memória de seu esposo?

Com uma dor de cabeça crescente, Wangji  entrou na casa.
Havia perdido o apetite e apenas desejava que aquele dia estranho acabasse. Mas sabia que tinha muitos pensamentos para conseguir dormir.

Casamento, seria essa a solução para a sua tristeza?
E se fosse apenas um casamento de conveniência?
Com essa ideia, se sentou em uma poltrona macia em frente à lareira apagada e pensou sobre isso.

Poderia oferecer a esse ômega um lugar para morar confortavelmente e um nome que o tornasse respeitável. Em troca, ele só teria que lhe fazer companhia, cuidar dele e ajudar MiamMiam nas tarefas de casa.
Não podia lhe oferecer amor, apenas companhia, mas talvez isso fosse o suficiente para os dois.

Qual era o nome do ômega, Wuxian ?

Poderia propor, e se ele não concordasse com essas condições, então teria que encontrar outro noivo. Embora tivesse certeza de que um ômega que concordasse em se casar em outro estado e com um estranho estaria aberto a qualquer opção, e a dele, se pensasse nisso, seria muito boa.

Afinal, que ômega poderia negar a si mesmo uma vida economicamente confortável e segura?

Além disso, estava convencido de que poderia viver com um ômega sem problemas. Sabia que não iria se apaixonar ou desejar esse Wuxian . Então, o que podia perder?

Com a decisão tomada, ficou mais calmo, sabendo que esse ômega nunca tomaria o lugar de Xuanyu , embora uma parte dele lhe assegurasse que não seria tão simples.

(.....)

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