003

911 179 10
                                    

Capítulo 3

Finalmente chegara a hora de deixar sua vida atual para trás.
Alguns dias antes, havia recebido a carta do Sr. Lan, onde o aceitou e o pediu em casamento.
Embora fosse verdade que tudo parecia muito precipitado, também era verdade que suportava cada vez menos a permanência com a madrasta e Langjiao.
Ficavam mais cruéis a cada dia que passava e temia que, se não partisse logo, acabaria na prisão ou em um hospício.

Querendo deixar tudo isso para trás, ela releu a carta do Sr.Lan, que tanto o impressionou com sua sinceridade e seu súbito pedido de casamento.

“Gusu.
Caro Sr. Wei, é meu desejo que se encontre bem ao receber esta carta.
Fiquei muito feliz ao receber sua carta em resposta ao meu anúncio no The Marriage Times.
Meu anúncio dizia tudo o que havia a dizer. Procuro um ômega para esposo, quanto mais cedo melhor, e gostei da carta que me mandou.
É meu desejo saber se vai querer vir a Gusu para se casar comigo assim que chegar.
Se, por algum motivo, acha que não consideraria ser meu esposo, por favor, escreva para mim e diga-me para não perder meu tempo e energia.
Ao todo, há um rancho de sucesso à espera de seus toques ômegas na casa e no jardim. Terá toda a ajuda de que precise, pois minha intenção é zelar pelo senhor.

Espero que esta carta não seja em vão e que em breve receba uma resposta favorável de sua parte.
Sinceramente,
Lan Wangji”.

Wuxian não demorou muito para responder, garantindo-lhe que ficaria muito feliz em ser seu esposo, e agora, sentado em seu quarto com seus pertences embalados em segredo, se perguntava se tinha sido muito impulsivo.
Era estranho que o Sr. Lan tivesse tanta pressa em se casar com um estranho, mas se pensasse seriamente, foi o que mais o ajudou a decidir responder ao seu anúncio.
Afinal, precisava sair de lá o mais rápido possível, e este homem oferecia a ele um lar e sua proteção. O que poderia dar errado?

Era possível que o Sr. Lan tivesse um motivo para se casar tão rapidamente, mas descobriria quando chegasse.
Determinado, verificou se estava tudo pronto e olhou dentro da bolsa, onde guardava as poucas economias e a passagem de trem que acompanhava a carta.
Seu coração disparou enquanto pegava seus pertences e descia para a sala de estar. Podia ouvir as vozes de Ziyuan e Langjiao fofocando sobre quaisquer rumores que tinham ouvido e como riam ridicularizando-o.
Algum dia, as duas mulheres receberiam o que mereciam por serem tão mesquinhas, mas ele não estaria mais lá para ver.
Suspirando, se incorporou o mais alto que pôde para se encorajar, e ficou na frente delas na entrada da sala. Não tinha certeza de como receberiam a notícia, então decidiu lhes contar o mais próximo possível da porta de saída.
Por um instante, nenhuma das duas o viu, e Wuxian ficou parado com sua mala e sua pequena bolsa de viagem. Cada uma delas em uma mão.
Ainda não conseguia acreditar no que estava fazendo, mas era tarde demais para recuar, especialmente quando Ziyuan virou a cabeça e o viu.
— O que você está fazendo parado aí? Faça algo útil e traga-nos algo para comer.
— Sinto muito, senhora, mas não vou obedecer mais às suas ordens.
— O que você disse? — A voz de sua madrasta estava tão rouca de raiva e surpresa que Wuxian se assustou. Mas não ia recuar, tinha vinte e três anos e era hora de enfrentá-las.
— Vou embora. Vou começar uma nova vida em Gusu.
— Você está partindo? — Ziyuan levantou-se de sua cadeira e deu alguns passos para perto dele.
— Você não pode ir embora sem minha permissão, e é claro que não vai.
— Você não é ninguém para me impedir de partir. E não me importo se tenho sua permissão ou não.

Ao dizer isso, Wuxian sentiu que algo dentro dele se libertava. Finalmente estava enfrentando a madrasta e, em vez de se sentir cada vez mais assustado, estava mais determinado.

— Como você ousa falar assim comigo? Eu cuido de você há anos, e é assim que me retribui?

Wuxian apertou ainda mais as alças das malas e avançou em sua direção. Não ia permitir que aquela mulher dissesse essas mentiras.
— Você nunca se importou comigo. Em vez disso, me humilhou e se aproveitou de mim como um criado.

— E você não é? Ou acha que pode estar a nossa altura? — Langjiao zombou, olhando para ele com desaprovação.

— O que eu não sou é uma criança mimada que não sabe fazer nada além de criticar a todos.

— Mãe! — Langjiao respondeu indignada, mas sua mãe a silenciou com a mão levantada.
— Se você sair daqui, vai acabar na rua em menos de três dias. Vou garantir que ninguém lhe dê um emprego e sua reputação seja destruída — afirmou com orgulho, acreditando que isso iria assustá-lo e impedi-lo.

Mas Wuxian estava longe de estar com medo, muito pelo contrário, pois ele percebeu agora que tinha suportado muito e deveria ter partido após a morte do pai.
Não havia mais nada naquela casa e naquela cidade que o prendesse, porque a memória dos seus pais não estava lá, mas a levaria para sempre no seu coração.

— Eu estou indo para um lugar onde suas garras não serão capazes de me alcançar. E posso prometer que nunca vou acabar na rua e nunca mais vou voltar.
Disse isso com tanta confiança que Ziyuan deu um passo para trás, percebendo que não conseguiria se conter.

— Você não pode fazer isso — Langjiao gritou, percebendo que se Wuxian se fosse, seria ela quem faria tudo.
— Você tem que impedi-lo, mãe. Vamos ficar sem empregado.

Mas Wuxian já havia terminado e, sem mais demora, se virou e começou a caminhar em direção à saída.

Atrás dela, podia ouvir Langjiao gritando para ele parar e Ziyuan garantindo que sua vida seria um inferno. Mas Wuxian sentiu que finalmente estava livre.

Abriu a porta, cruzou a soleira e, depois de dar alguns passos, voltou-se para ver pela última vez a casa em que vivera desde criança, quando seus pais ainda viviam.

Não sentia arrependimento por deixá-la, como havia suposto, mas alegria pelo novo futuro que a aguardava.
Aquela casa há muito havia deixado de ser seu lar e não se arrependia de tê-la deixado para trás. Não havia mais nada ali que a prendesse à casa ou àquelas mulheres que o observavam orgulhosamente na porta.

— Você vai voltar chorando e implorando — Ziyuan assegurou-lhe.
— Você é feio, desajeitado e estúpido. Ninguém vai querer você nessas condições. Só serve para empregado doméstico e nem para isso.

Seus olhos queimaram quando as lágrimas começaram a fluir em seus olhos. Obviamente, ninguém o queria naquele lugar e só tinha que ir embora.
Ziyuan nunca o amou e Langjiao nunca agiu como uma meia-irmã.

Engoliu o nó na garganta e balançou a cabeça. Talvez devesse ter saído sem dizer nada a elas. Talvez assim tivesse evitado a dor de saber que não havia ninguém no mundo que o amasse.
Mas isso não importava mais. Não ia ficar mais.

Não quando uma nova vida o esperava em Gusu. E quem sabe, talvez amor.

— Adeus — ele conseguiu falar no tom mais rígido que conseguiu.

Wuxian começou a descer a rua, afastando-se daquele lugar com a cabeça erguida e a esperança no peito.
Foi à estação de trem em busca de um futuro e nada nem ninguém o impediria de seguir em frente.

Logo estaria sentado em seu assento a caminho de Gusu e, embora estivesse nervoso, sabia que o pior havia passado.

Por fim, estava livre.

(....)

Inesperado Onde histórias criam vida. Descubra agora