" Nos braços de outro homem."

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Samantha

Um ardor irritante percorre as minhas pernas e resgata o meu consciente. Começo muito lentamente a explorar os meus sentidos, sinto algo acolchoado sob as minhas costas, uma cama?
A minha boca está pegajosa de tão seca e desidratada, o cheiro também não é o mesmo, o ar é mais respirável, ainda consigo sentir o fumo e terra, mas mais leve e misturado com algo mais agradável, posso arriscar dizer que provavelmente ainda tenho as mesmas roupas e o cheiro vem grudado nelas.
Recuso abrir os olhos, as vozes que escuto infelizmente ainda são as mesmas.

- tive que esperar que as merdas acalmassem, ainda por cima a maldita apagou e tive que a carregar todo o caminho. Foi por pouco, mas correu como planeado.- sombra fala, a voz dele está mais rouca do que antes, mas é ele, não resta dúvidas.

- não seu estúpido, não correram como planeado, era para acabar com alguns daqueles anormais e ao que sei ficaram todos para contar a história.- Drácula responde irritado mas é o riso de sombra que me arrepia.

- um dos irmãozinhos não ficou em muito bom estado por acaso. Com a explosão o anormal voou uns bons metros, é uma sorte se não tiver os miolos estourados, hahahhaha.- Os dois riem e o som fica abafado pelo fechar de uma porta.

Não pode ser verdade, será que Apolo...?

Será de Apolo que estavam a falar?

Não sou dona da minha respiração mais uma vez, segue descontrolada a cada pensamento.

Eu vi o Apolo, ele estava tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Era o mesmo homem mas frio, quase irreconhecível, raiva, eu vi raiva naquele homem.

Meu deus, terá Mónica conseguido ??

Ele sente ódio, por mim ? Mas ... e se for verdade?

E se ele estiver ... não não, ele não pode estar morto. Ele tem que saber que eu nunca machucaria o nosso bebé.

Dor irrompe através do meu corpo, a ansiedade é quase insuportável.
Abro os olhos com dificuldade, estão irritados como quando ficava horas a chorar.
O vestido está mais uma vez arruinado, o tecido outrora branco agora é uma confusão de castanho, verde e vermelho.

Vermelho? Muito vermelho, a barra do vestido está embebida em um líquido vermelho, sangue. Percebo então que a dor é bem real e vem do pé da minha barriga, o meu bebé. Não posso fazer nada quando sou bruscamente levada pela escuridão novamente.



Apolo

A imagem escurecida pelas chamas é pouco nitida, mostra um corpo delicado rodeado por braços não tão femininos. O cabelo meio longo é rebelde e irreconhecível, solto nas costas de um vestido claro, a lateral do rosto não me deixa qualquer dúvida pelo contrário, as linhas suaves o nariz ligeiramente arrebitado, uma das bochechas agora ligeiramente mais funda mas ainda suave e arredondada, é ela.

Samantha!

Nos braços de outro homem.

Raiva não chega para descrever, amasso uma das imagens na palma da mão e jogo no painel do carro, acelero mais um pouco para longe daquele lugar que me manteve preso durante as últimas horas. A dor na minha anca dói como uma cadela mas não chega para me parar.

- Apolo, isso pode não ser nada porra. Não quer dizer nada. Tu sabes bem...- Alfonso insiste em relativizar as imagens.

Ele está errado?
Não está, estas imagens podem não ser merda nenhuma. Ela ainda podia estar ali contra vontade, isto ainda pode ser uma não tão perfeita encenação.
Ele tem razão, eu sei.

Eu vou, prometo!Onde histórias criam vida. Descubra agora