" Esta é a família do meu filho. "

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Samantha

O zumbido persiste na minha cabeça, começa no meu ouvido onde explodiu e vai se dicipando no interior do meu cérebro.

Mas a imagem ainda é nítida, e por mais que tente não consigo tirá-la da mente.

A arma apontada na minha direção,.
O disparo.
Ele.
A raiva que vi naqueles olhos que antes só eram segurança.

Ainda sinto o olhar dele queimar sobre mim.

Desde que o outro homem saiu em busca da minha irmã e do meu filho que não consigo tirar os olhos da porta, podem ter passado dez ou quinze minutos, não sei, talvez mais.

Muito por saber que a atenção de todos está sobre mim.

Escuto os passos silenciosos pela sala, ele está inquieto. Eu entendo, a minha presença foi inesperada.

A alguns instantes fez uma chamada, as palavras foram curtas e com um tom hostil, em nada me transmitem coragem para sequer desviar o olhar.

Ordenou que alguém estivesse em casa imediatamente. Quem atendeu a chamada não teve sequer tempo para responder.

Quão irónico seria que no fim a doida da Mónica tivesse certa, eu não conheço estas pessoas.

Do meu lado, a mulher que me impediu de cair instantes atrás continua a tentar confortar a situação, a mão dela sobe e desce nas minhas costas, não vou mentir, a sensação é uma tortura completamente diferente.
Calmante, o ritmo é anestesiante e faz a esperanca espreitar a cada movimento.
Mas nao deixa de ser uma tortura, por isso mesmo.

Será real?

Eu preciso tanto deste tipo de contacto. Mas o momento não me permite desfrutar deste conforto. Nem ponderar as incertezas.

Agora que penso.

Ela tratou o Apolo por "filho", meu deus, ela é a mãe do pai do meu bebé.
Sem me aperceber deixo finalmente de vigiar a porta e estudo o rosto da mulher.

Ela é linda, são poucas as rugas que completam o rosto, uma linha ou outra fruto da idade.
Na testa entre os dois olhos uma linha ganha uma expressão diferente, procuro o olhar para entender o motivo e vejo que olha para o meu peito.

No meu casaco dois círculos manchados aparecem sobre o meus seios doloridos, mas o que é que...? Leite?
Eu devia amamentar o meu bebé, claro.

Depressa desfaz a confusão no rosto e olha para mim.

Com simpatia, ternura, não vejo pena.
Não.
Eu tinha medo de ver pena no rosto das pessoas.
Mas não.
Ela não sabe o que passei.
É claro que não existe pena.

É como se visse compreensão, mesmo não sabendo de nada.

Ela nem sabe que existe uma ligação entre nós.

Ela é a única avó viva do meu filho.
Sem me aperceber uma nova onda de lágrimas corre livre no meu rosto.

- Ho minha linda, eles vão estar aqui em breve. Alfonso cumpre sempre com a palavra minha querida. Tem calma. A nossa família encontra sempre o caminho para casa. - ela limpa o meu rosto com as costas da mão livre.

É claro que morro de medo que seja tarde demais. Mas a emoção agora não é somente por isso. As palavras dela têm um peso que nem ela própria pode saber. Esta é a família do meu filho.

A avó e o pai.

O pai que desde que entrei aqui mal consegui encarar.

Ele está com raiva de mim. É insuportável sentir.

Eu vou, prometo!Onde histórias criam vida. Descubra agora