" ...a honra nós protegemos, a todo e qualquer custo."

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Apolo

Carrego no botão do controlo remoto, o feixe de luz que surge através do portão que abro é o único indício de vida nesta rua. A escuridão que domina o lugar junto da zona pouco movimentada torna este armazém perfeito para este tipo de "conversas", levo o carro para dentro e estaciono ao lado do gipe de Alfonso e volto a denvolver ao armazém a privacidade necessária, isolando qualquer actividade do mundo exterior.

Alfonso está encostado ao veículo a fumar o que deve ser o seu décimo cigarro, o ar nublado pela leve fumaça do cigarro invade o meu nariz provocando uma leve ansiedade, pelo canto do olho percebo que o sacana guarda um sorriso provocador, leva a mão ao bolso e saca o masso de cigarros que estende para mim. O filho da mãe conhece-me bem.

- a minha encomenda? Deu muito trabalho ? - pergunto, já acendendo o cigarro.

- Que nada Brother, é irritante vá, mas nada que uma fita cola enfiada na goela não resolva. Hahaha

- ainda bem.- ficamos os dois em silêncio, apenas o tragar dos cigarros se ouve.

No caminho para cá o meu foco era só um, falar, amedrontar e quem sabe mais. Punir a mulher que está nas traseiras deste armazém era o único objectivo hoje, mas agora que aqui estou, é óbvio que continuo a ter uma vontade incontrolável de a castigar pelo que fez a Samantha, mas, também sei que ela não tem mais a acrescentar acerca do seu paradeiro e isso leva-me ao beco sem saída em que tenho estado há semanas, ficar aqui, nem que sejam mais uns minutos vai atrasar esse desfecho.

- Apolo, sabes o que estás a fazer?.- o rosto de Alfonso está agora mais perto do sério. Encaro-o, aí está uma pergunta que eu não estou acostumado a ouvir, geralmente eu sou o GPS da família e questionarem-me só salienta a minha recente incapacidade de sucesso.

- olha brother eu confio em ti de olhos fechados, mas para me pedires sigilo é evidente que a mãe nem sonha que estamos aqui, e em outra altura eu nem perguntava mas desde aquela noite as coisas não são as mesmas, tu não és o mesmo e...- Apolo meio que se atropela nas palavras e é evidente que está tão desconfortável com a conversa quanto eu, e eu não posso reclamar, ele tem razão, mas também não lhe consigo fazer ver, eu próprio há dezesseis semanas iria achar ridículo se alguém me dissesse que eu iria estar a agir assim por uma mulher, mas não têm mais controlo no entanto.

- Alfonso, eu...!!- tenho que dar duas tossidas para destravar a voz presa na garganta pelo nó lá formado, seria mais fácil se conseguisse fazer entender o que a Samantha se tornou para mim, mas não adianta falar de algo que não se sabe explicar, só se sente, Alfonso nunca entenderá e provavelmente só vou fazer ainda mais papel de inutil, a minha imagem ja está pouco nítida no momento. - precisas de saber que tudo isto se tornou pessoal, e a honra nós protegemos, a todo e qualquer custo.

- ok Brother, e desde quando matamos mulheres ? - Alfonso levanta as mãos no ar e joga a pergunta que realmente queria fazer desde que lhe dei esta tarefa.

- Nós continuamos sem matar mulheres!!! - olha para mim surpreso e expectante.
- eu sei disso !- aponto o dedo para ele.
- tu sabes disso!- aponto agora o dedo para a parede que nos separa dos fundos do armazém. - mas a ratazana que trouxeste para não sabe, nem sonha.

Entendimento cobre o rosto de Alfonso, ele sabe que ás vezes um susto bem sentido pode fazer uma pessoa desejar estar morta durante muito tempo. O riso de satisfação que me dá combina muito mais com ele também. Nós andamos muitas vezes acima da linha do moralmente correcto, mas desde cedo foi nos incutido algumas margens a respeitar, "mulheres" têm uns quantos parentices nesse assunto. Atiro a pirisca para junto das mais de dez espalhadas pelo chão, levo a mão ao fundo das minhas costas e verifico se a minha arma permanece no sítio.

Eu vou, prometo!Onde histórias criam vida. Descubra agora