11: Marcapasso

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O objeto cabia na palma da minha mão. Pequeno daquele jeito, ninguém imaginaria que podia salvar vidas.

⎯⎯ Foi o que ela disse, he he. ⎯⎯ Guardei bem guardado no buraco atrás do tijolo solto na parede.

⎯⎯ O que foi que ela disse? ⎯⎯ perguntou a voz do meu vizinho de cela. ⎯⎯ Acho que peguei no sono, srta. Lilith.

⎯⎯ Foi. No meio da história. Mas e te esperei todos esses dez anos, não sou legal?

⎯⎯ Quê?! Dez?

⎯⎯ É zoeira. Foram só algumas horas, Quatro.

⎯⎯ Céus, estou ficando cada vez mais... Do quê me chamou?

⎯⎯ Quatro. A história que tava me contando é a sua história. Ou você tava inventando todos aqueles detalhes? Ainda não tenho certeza. Admita que não esperava que eu descobrisse!

⎯⎯ Não mesmo. Pois não sou eu. Os detalhes que menciona foram contados pelo próprio Quatro, por isso o sei.

⎯⎯ Ah, claro. Ele te contou até a maneira como ele se sentia quando a maldição dele tentava devorá-lo?

⎯⎯ Se não acredita, escute o resto da história. Estamos numa parte excelente para formar opiniões. A menos, é claro, que ainda esteja ocupada contrabandeando lixo para sua fuga.

⎯⎯ Shhhhiu!

⎯⎯ O que foi? Não são os nossos vizinhos os mais ávidos a participar?

⎯⎯ Só continua a porra da história.

⎯⎯ Às suas ordens. Onde foi que paramos? Ah, sim! Marcapasso.

⎯⎯ O quê? ⎯⎯ Assustei-me. Como ele sabia o que eu tinha acabado de guardar na parede?

⎯⎯ Parecia a Quatro que seu coração precisava de um marcapasso. Quando estava com ela ou mesmo quando a tinha apenas em seus pensamentos. O tempo todo, no caso.

Ainda mais como se fosse o garotinho, meu vizinho continuou a história. E eu, entediada como estava, continuei escutando como eu mesma.

Era difícil que frequentassem os mesmos ambientes nos mesmos horários, por conta de uma ridícula diferença de idade, mas o jantar de fim de semana sempre reunia todo mundo numa "sexta de alguma coisa". Naquela noite, era tacos. Serviram tacos na noite em que ele a viu pela segunda vez.

Como poderia agradecer? Será que ela viria? Se lembraria dele?

Imerso nesses pensamentos, não a viu chegar. Totalmente do nada, ela apenas pousou seu prato do lado dele e falou:

⎯⎯ E aí? Qual o seu nome?

⎯⎯ Ah... Eh... Hã... Oh...

⎯⎯ Hm... Que nome bacana, Aeão. Você come pimentão?

⎯⎯ Hã... O meu... Digo, gosto sim.

⎯⎯ Pois eu não. Você quer? Toma.

Ao menos foi assim que imaginei esse diálogo. Homens.

⎯⎯ Obrigado... por aquele dia. ⎯⎯ Quatro conseguiu, depois de um longo silêncio.

⎯⎯ Pena que os seus amigos não estavam por perto. Sim, ué, os seus amigos. ⎯⎯ Ela disse.

⎯⎯ Não tenho amigos. Os outros... tem medo de mim. Logo, logo, você também vai.

⎯⎯ Nossa. De que rank você é?

⎯⎯ Rank A.

⎯⎯ Bom, eu não acho que companheiros de rank devem ter medo um do outro. Eu já vi do que você é capaz, e não tô nem um pouquinho com medo.

𝕯𝖊𝖒𝖔𝖓𝖘 𝕱𝖆𝖑𝖑Onde histórias criam vida. Descubra agora