10: O choro dos mais fortes

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Tentei por alguns segundos assimilar o que ele havia dito. Quando criei coragem para pedir que repetisse, porém, Jack Willians já havia parado de respirar. Olhei para um estarrecido Willians Júnior, sem ter a menor ideia do que fazer em seguida.

⎯⎯ Jackson... ⎯⎯ tentou Ray, interrompido pelo estrondoso impacto ao lado.

Arcos vermelhos de eletricidade começaram a se agitar como tentáculos para fora da cratera que se formou, criando focos de incêndio pela grama. Algo enfurecido lutava ali dentro. Subitamente, uma silhueta ergueu o punho farpado para logo o descer como um míssil, gerando uma onda de choque. Repetiu o movimento três vezes, até a eletricidade parar de correr. Ao mesmo tempo, há cada golpe, Ray se debatia como se fosse ele sendo socado, despencando sem forças no chão.

Manoplas estava prestes a matar o demônio e seu totem.

Instintivamente apontei a espada para a gêmea, mas Badblood não se via mais em minha mão. Riria de mim mesmo se não estivesse em pânico. De qualquer forma, o que eu faria? Manoplas havia literalmente imobilizado um Príncipe do Inferno. Ataques humanos seriam ainda menos do que ineficazes contra aquele monstro prateado. Olhei para Ray, para Jackson e para o prefeito Willians. Sabia o que devia fazer, e foi uma das piores ideias que já tive.

⎯⎯ Belphegor! ⎯⎯ Esperei alguns segundos, mesmo sem saber se ele conseguia me ouvir, mas com a atenção de Manoplas sobre mim, não pude chegar a ter certeza. ⎯⎯ Liberar!

Bradei a plenos pulmões, e o próprio ar pareceu responder à minha súplica. Passou por mim e seguiu na direção que meu braço apontava. As chamas dos focos de incêndio foram sendo carregadas pela brisa repentina e juntaram-se em volta da gêmea das manoplas. Ela fez movimentos para fugir, mas a parede do tornado de fogo já havia se formado e, agora, começava a se afunilar. E afunilar. E afunilar. A derreter a brilhante armadura sobre sua carne branca. A levar embora seus fios prateados. Desintegrou pele, carne e ossos. O pilar de luz alaranjada que cortava a noite cresceu a medida a medida que devorou a mulher, minhas tentativas de controlá-lo completamente inúteis, e avançou para a atmosfera como toda a poluição causada pelo homem de uma vez só. Quando pareceu que se tornaria uma tempestade digna de destruir Sodoma, dissipou-se como se abanada por uma mão invisível gigante. Bem abaixo, de dentro do buraco, uma mão calejada saiu, não para socar dessa vez, mas pedindo ajuda para levantar.

Secretamente aliviado por não ter ateado fogo em Belphegor, o puxei para fora da cratera.

⎯⎯ Lilith... Ela lhe... ensinou... isso? ⎯⎯ O demo arfava.

⎯⎯ Não lembro. ⎯⎯ respondi.

⎯⎯ Bem, é... melhor não... fazer de novo. Pode acabar invocando... Geheena ou pior: irritando Azazel.

⎯⎯ E por acaso eu devia conhecer esse tal de Azazel?

⎯⎯ Sua memória está preocupantemente deteriorada. Azazel é um demônio poderoso que está atrás de Lilith e de você. E, agora, de mim, portanto agradeço se não chamar a atenção dele enquanto eu estiver por perto, mesmo se for eficiente.

⎯⎯ Tá me elogiando? Eu ouvi direito?

⎯⎯ Não abuse da sorte, criança.

⎯⎯ Há, há! Tá bem. Mas... sério, quem é esse cara? Por que ele tá atrás da gente?

Belphegor pareceu cansar de responder e simplesmente me ignorou.

Os donos das sirenes logo apareceram na esquina, carros preto e branco com homens uniformizados de cinza dentro. Confesso que me deu gatilho. De toda forma, enquanto os bombeiros tentavam controlar o fogo que havia começado a tragar o resto da residência Willians, paramédicos conduziram os três mosqueteiros, Ray, Jackson e eu, até a ambulância.

𝕯𝖊𝖒𝖔𝖓𝖘 𝕱𝖆𝖑𝖑Onde histórias criam vida. Descubra agora