5: As trigêmeas do barulho

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Para mim, Maria já estava surtando antes. Mas assistir uma luva de aço sumir dentro do buraco que fez no estômago de Belphegor a fez literalmente berrar.

Não que eu estivesse muito melhor. Tudo o que conseguia fazer era abraça-la e encarar o demônio caindo. Ao mesmo tempo, Ray foi ao chão.

A cratera na parede, por onde a manopla tinha passado, foi forçada por golpes poderosos até se tornar grande o suficiente para uma pessoa atravessar a pé. A garota que invadiu a sala era alta, imponente e de músculos bem definidos sob o sobretudo cinza que cobria um traje colado preto. Seus cabelos amarrados num coque floral eram prateados como uma moeda, e seus congelados olhos, violeta. Na cintura, uma katana de guarda branca dançava.

Alguns segundos depois, ela entrou de novo. Ou melhor, uma cópia dela, igual em quase todos os aspectos, exceto por levar um par de pistolas de tambor apontadas para a cabeça de Belphegor. Por fim, uma segunda cópia chegou, mas essa portava um par de manoplas manchadas como um machado de açougueiro.

As três cercaram o demo como a um animal selvagem. A Manoplas aproximou o pulso do rosto e falou algo em italiano. Aguardou como um repórter se comunicando com a produção e então olhou em volta. Seus olhos pararam sobre mim. Minha espinha gelou.

⎯⎯ Maestro Youssef, é qui. Quello che stavate cercando. ⎯⎯ disse ela, ou algo parecido. Minha pesquisa pelo Google tradutor não foi não foi tão frutífera. ⎯⎯ Cosa dolbiano fare? Giusto. Capito.

O trio de repente se esqueceu de Belphegor, um demônio em carne e osso, para assomar-se sobre mim. Uma muralha de belas e letais mulheres cinzentas. Meu estômago já estava embrulhado quando as palavras seguintes foram ditas na mesma língua que a minha:

⎯⎯ Nicolas Warren, você virá conosco. ⎯⎯ A mulher apontava para mim um dedo de aço. ⎯⎯ Não resista.

⎯⎯ O- oitava... ⎯⎯ balbuciou Belphegor, apoiando-se nos cotovelos. ⎯⎯ B- bol... gi...

Um chute da Katana o calou.

⎯⎯ Stava invocando Bolgia? ⎯⎯ disse ela, franzindo o cenho. ⎯⎯ Anche se siete feriti?

⎯⎯ Uccidetelo e basta. ⎯⎯ respondeu Manoplas.

Sem demora alguma, a pistoleira sacou a outra pistola e desferiu um par de disparos, tão rápido foi que mal pude ver o movimento. Mas o som daqueles tiros nunca chegaria a ser tão alto quanto o silêncio seguinte.

Sobre o homem desnutrido à beira da morte, os projéteis flutuavam inofensivos. Tentaram forçar passagem através da força invisível que lhes arrancavam fagulhas. Parecia um bug num jogo de tiro. Ou um hack.

Dessa vez não houve tempo para reação. Mesmo assim, o mundo pareceu em câmera lenta. Minha pele sentiu a mudança no ar, meus músculos tensionaram e tentaram me jogar para a frente de Maria, a fim de protegê-la da descarga elétrica que foi expelida do corpo se Belphegor: uma cúpula de raios vermelhos. Alastrou-se como uma onda de choque de uma bomba atômica em miniatura, varrendo poeira, madeira e concreto.

Um pedaço inteiro do piso embaixo de mim quebrou e, quando fui perceber, me via sobre uma pilha de escombros com algo sobre meus pulmões. Que bom que a ruiva não pôde ouvir minha cabeça chamá-la de pesada. Por sorte, a tempestade de raios passou acima de nossas cabeças, ou estaríamos fritos, literalmente.

⎯⎯ Machucada? ⎯⎯ gesticulei depois de parar de tossir. Mas os olhos e o tórax de Maria estavam alucinado pelo pânico. Tive que por ambas as mãos em suas têmporas até ela parar, suas córneas engolindo as minhas. ⎯⎯ Maria. Você. Tá. Machucada?

Ela finalmente respondeu. Nossos rostos quase se tocaram com seu aceno de cabeça. Mas eu estava aliviado demais para resistir ao impulso de me afastar.

𝕯𝖊𝖒𝖔𝖓𝖘 𝕱𝖆𝖑𝖑Onde histórias criam vida. Descubra agora