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Depois de uma semana Rodolffo conseguiu fazer a matrícula na Universidade Nova de Lisboa e alugar um pequeno apartamento bem perto.

Decidiu-se a procurar um emprego que pudesse ajudar nas despesas.

Foi bastante difícil mas através de colegas da faculdade conseguiu um part time num escritório de advocacia que colaborava com a Universidade.

Enquanto isso no Brasil as investigações sobre o incidente continuavam com poucos avanços.

O jovem que tinha sido esfaqueado recuperava lentamente mas o seu cérebro foi afectado e não conseguia articular uma conversa com nexo.

Passaram quase quatro meses.

Telma nunca mais soube de Rodolffo e foi confrontada com uma gravidez.

Ela sempre se cuidou mas com ele relaxou um pouco pois ele era uma pessoa cuidadosa.  Usavam sempre camisinha por isso ela tinha parado o anticoncepcional.   Em caso de descuido tomaria a pílula do dia seguinte.

Agora estava grávida.  Como?  Pelo tempo decorrido ela tinha certeza absoluta de que era de Rodolffo.

Voltou a procurá-lo e nada.  Não tinga a sua morada.  Procurou alguns dos seus antigos amigos e ninguém sabia nada.  O homem evaporou-se.

Não vou ter esta criança.  Não quero.  Vai empatar a minha vida.  Não tenho condições nem financeiras nem outras.  Estes pensamentos povoavam a sua cabeça.

Quatro meses é muito tempo já para abortar.  Não posso fazer isso.
Vou dá-lo para adopção.   É isso, quando nascer vou dá-lo.

Enquanto isso em Lisboa, Rodolffo tinha conhecido Rita.  Igualmente estudante de Direito, frequentava a mesma faculdade mas estava um ano atrasada em relação a ele.

A princípio eram apenas amigos que se encontravam entre uma aula e outra.  A conversa entre os dois foi crescendo, as saídas ao fim de semana tornaram-se constantes e Rita uma vez ou outra ficava no apartamento dele.

Rita vivia com uma amiga no Estoril pois os seus pais eram do Norte de Portugal.
Quando terminou o ensino secundário quis vir estudar para a capital.

A amiga procurava uma parceira para dividir as despesas e ela aceitou.

Numa destas noites em que dormiu no apartamento de Rodolffo,  os dois envolveram-se.
A partir daquele dia foram ficando cada vez mais noites e por fim Rodolffo pediu que ela fosse morar com ele.

Rita estava completamente apaixonada por ele.  Despediu-se da amiga e foi viver com ele.

Rodolffo apesar de não tão envolvido e relembrando ainda as mágoas do passado, gostava dela e sentia-se bem com isso.

Porque não dar uma chance?  Quem sabe com o tempo.

O ano lectivo terminou.  Rodolffo ia agora para o seu último ano de faculdade.  Rita ainda teria mais um.

Nas férias foram visitar os pais de Rita ao Norte.  Ficaram por lá cerca de um mês.  Rita aproveitou para levar Rodolffo a conhecer vários lugares. Bragança, Mirandela, Vila Real, Murça, Valpaços e deram ainda um pulinho a Valença, Viana do Castelo e Arcos de Valdevez.

Os pais de Rita adoraram Rodolffo e este também.  Ficaram de os visitar em Lisboa logo que possível.

Regressaram a Lisboa.  Ainda tinham mais um mês de férias e dedicaram-o a fazer planos para o futuro.

Rita conseguiu um trabalho de balconista numa perfumaria de um Centro Comercial.  Com o salário dos dois e mais a ajuda que os pais de Rita faziam questão de dar,  conseguiam equilibrar as despesas.   Para a faculdade contavam com a bolsa que os dois haviam conseguido.

Enquanto isso no Brasil,  Telma dava entrada no hospital em trabalho de parto.
Identificou-se como Isabel Soares e deu uma morada falsa.
Disse que com a pressa deixou os documentos em casa.

O parto decorreu tranquilo e a criança,  uma menina, nasceu perfeitinha e com saúde.

Ao segundo dia, Telma escreveu um bilhete, colocou no berço da criança e disfarçadamente saiu do hospital sózinha.

A médica pediatra fazia a sua ronda pelos diversos bebés nascidos,  nos vários quartos do hospital quando um choro intenso ecoou no corredor.

Imediatamente ela e a enfermeira foram atrás daquele choro.

- Que foi bébé?  Onde está a mamãe?

A médica pediu imediatamente que levassem a menina e a alimentassem e que procurassem a mãe.

Foi inútil.   Não encontraram a Isabel (Telma) em nenhum lugar do hospital.   Accionaram a polícia e depois de verificarem tudo e olharem as câmaras de segurança chegaram à conclusão que ela tinha abandonado a  criança.

A polícia procurou nos seus registos o nome de Isabel Soares e assim como a morada não existiam.  Concluíram que ela havia premeditado o abandono.

Telma quando saiu do hospital e ajudada por um proxeneta, apanhou um avião e foi para a Turquia.  Segundo ele, tinha-lhe conseguido um bom emprego de gerente de bar.

No hospital a pediatra mais a sua assistente decidiram que a menina se chamaria Leonor e assim escreveram nos registos e na placa do berço.

A pediatra de seu nome Juliette Silva tinha acabado de se formar.   Este era o seu primeiro emprego embora já tivesse alguma experiência por causa dos estágios.
Estava muito sensibilizada com o acontecido.

O bilhete encontrado junto a Leonor apenas dizia:

Espero que quem ficar com ela a trate com o amor que eu não lhe posso dar.
Do pai só sei que se chama Rodolffo.   Não sei apelido nem morada.
Me perdoa bébé.

A criança ficou cerca de um mês no hospital até que as instituições competentes dessem solução ao caso.
Juliette ia visitá-la todos os dias.  Até quando não estava de plantão ela ia.

A assistente social do hospital avisava.

- Dra.  Não se apegue.   Depois é mais difícil.

- O pior é que já não consigo passar um dia sem vê-la.  Como vai ser agora?

- Ela deve ir para um centro de acolhimento para ser adoptada.

- E eu posso adoptar? - Juliette decidiu na hora em que ouviu a palavra centro de acolhimento.

Juliette era filha de família abastada e tinha sim condições financeiras para criar a criança.  Já não vivia com os pais mas contava com eles para tudo

Dá-me um abraçoOnde histórias criam vida. Descubra agora