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Em Lisboa Rodolffo e Rita tinham iniciado novo ano lectivo.

Há dias Rita descobriu que estava grávida.  Não andava a passar muito bem e numa ida ao hospital descobriram a gravidez.

Depois de efectuarem todos os exames necessários foram aconselhados a que a gravidez decorresse com o máximo de descanso possível.
Rita tinha uma gravidez de risco e poderia ocorrer um aborto espontâneo.

Rodolffo ficou muito feliz por vir a ser pai mas também muito apreensivo.  O seu salário não era suficiente para se manterem.  Não queria abusar dos sogros mesmo eles insistindo porque afinal podiam arcar com as despesas da filha.

- Deixa de ser orgulhoso,  Rodolffo.   Não vai fazer diferença para os meus pais e é só durante a gravidez.  Depois volto a trabalhar.

- E a faculdade,  vais trancar?

- Eu não queria.  Achas que devo?

- Ouviste o médico.  Repouso absoluto.

Hoje era o primeiro ultrason.  Estávamos ansiosos mas recebemos uma péssima notícia.

- Vou ser directo.  Como médico o meu conselho é que abortem.  Está em risco a vida da mãe.  Pode ser que a gravidez chegue ao fim mas o risco de perder um dos dois é grande.

- Não.  - diz Rita.   Nunca vou matar o meu filho.

- Ainda está dentro do tempo permitido.  Pense bem.

- Está pensado.  Vou levar a gravidez até onde der.

- Correndo o risco para a sua vida.

- Entre ele e eu, eu escolho ele.

-  E o pai, o que tem a dizer?

- Amor,  pensa em ti.  Podemos ter outros filhos.

- Não há nada que pensar.  Se for para ficar 9 meses deitada,  eu fico, mas o meu filho vai nascer.

- A que custo? Perguntou o médico.

- Qualquer custo.

E saíram dali.  Rita estava extremamente furiosa com a conversa do médico.

- Não digas nada Rodolffo,  disse ela quando ele ia argumentar.

Chegaram a casa e Rita foi deitar-se e chorar.

Rodolffo deixou ela por um tempo sózinha e depois foi ter com ela.
Abraçou-a e não disse nada.

- Rodolffo,  mesmo que isso custe a minha vida, eu quero ter este filho.
Respeita a minha vontade.  Eu não viveria feliz contigo sabendo que matei o nosso filho.

- Não vamos mais discutir isso.  Vamos ter cuidado.

- Está bem.  Vou trancar a faculdade.

Rodolffo beijou-a.  No fundo ele tinha muito orgulho nela.

Os meses passaram.  Os exames de Rita mantinham o prognóstico. O bebé, um rapazinho, crescia normalmente na barriga da mãe.

Rodolffo vivia em pânico mas em frente à Rita mostrava-se a pessoa mais feliz do mundo.

- Amor, que nome queres por no nosso filho? Perguntou ele.

- Miguel.  Sempre gostei de Miguel. 

- Pois será Miguel disse fazendo carinho e beijando a barriga dela.

Entretanto no Brasil, Juliette candidatou-se a família de acolhimento e trouxe os pais para morar com ela afim de poder ter Leonor lá em casa.

Até poder adoptar era a melhor solução, disse a assistente social.

Rita acabara de completar sete meses de gestação e precisou de ser internada devido a complicações.

- Rodolffo,  vamos provocar o parto.  Não há como esperar.  Agora os dois estão em perigo de vida. - disse o médico.

- Doutor. Faça o melhor, mas salve os dois.

- Pode ir falar com ela.  Vamos fazer a cirurgia.  Infelizmente não poderá assistir.

Rodolffo foi ter com Rita que já estava em sofrimento.

- Amor, promete que se eu não resistir vais amar muito o nosso Miguel.

- Não digas isso.  Ainda vamos ter bons momentos os três.

- Promete.  Fala para ele que eu o amo muito.

- Prometo.  Não fales assim.

- Eu amo-te muito, Rodolffo.
  Eu amo-te muito, Miguel

- Nós também te amamos muito.

Rodolffo deu-lhe um beijo e os aparelhos a que estava ligada começaram a apitar.

De repente médicos e enfermeiros correram até eles e pediram para Rodolffo sair.

No lado de fora Rodolffo andava de um lado para outro. Ligou aos sogros e procurava notícias junto das enfermeiras que passavam por ele.

- Ainda vai demorar.  Acalme-se.

Ao fundo do corredor havia uma pequena capela.
Rodolffo foi até lá e começou a orar.
Ali esteve durante um tempo que para ele pareceu uma eternidade.

Uma das enfermeiras viu ele dirigir-se à capela e foi ter com ele.

- Venha ver o seu bébé.

- E a Rita?

- O médico depois fala consigo.

Rodolffo vestiu o equipamento e foi até à unidade neo natal.  Por ser prematuro o Miguel tinha que ficar na incubadora.
Rodolffo fez um carinho na mão do  filho e começou a chorar.

- É tão pequenino.

- Mas está perfeitinho.  Logo ele ganha o peso ideal e saí daqui.

Depois de sair dali, o médico chamou Rodolffo para o acompanhar até ao gabinete dele.

- A Rita, doutor?

- Infelizmente Rodolffo,  não conseguimos salvá-la.  Como sabe essa possibilidade era bem viável daí eu ter sugerido o aborto.
Ela ainda viu o filho mas depois entrou em colapso.
As suas últimas palavras foram "eu amo-te, filho "

Rodolffo segurou a cabeça entre as mãos e desabou na frente do médico.
Este veio dar-lhe um abraço de conforto.

- Força.  Tem um pequenino que agora depende só de si.

- Como é que eu faço.  Estou só.

- No fim vai ver que tem mais força do que pensa.  Agora tem que ser pai e mãe.

Rodolffo despediu-se do médico é ligou para dar a notícia aos sogros.  Muito a custo e aos soluços conseguiu falar.

Foi até à janela de vidro do berçário e mandou um beijo ao filho.

Era preciso começar a agir.   Havia um funeral a tratar e preparar a chegada dos sogros que vinham para Lisboa.


Dá-me um abraçoOnde histórias criam vida. Descubra agora