4

92 9 2
                                    

Os pais de Rita vieram e quiseram levar o corpo da filha para a sua terra.
Rodolffo não se opôs, afinal ele nem era casado com ela.

Trataram de tudo e os avós foram ver o neto antes de partirem.

- Tão lindo.  Tem a boca da Rita.

- Eu também acho.  E o feitio do rosto é igualzinho.

- Rodolffo,  como vais fazer quando ele tiver alta?

- Não sei.  Vou contratar alguém para me ajudar.  Eu não me quero separar dele.  Vai ser sempre eu e ele.

- Podemos vir de vez em quando?  Como eu gostava de o criar mas a nossa saúde últimamente não anda bem.  Escondemos da Rita para não a preocupar mas os dois temos problemas graves.

- Podem vir sempre que quiserem e eu quando puder também vou levá-lo até vocês.   Não quero que ele perca as referências da família.

- Agora vamos.  Temos uma viagem longa para fazer.

Rita foi sepultada perante toda a população da aldeia que presenciaram a dor dos pais e de Rodolffo.   Um por um vieram apresentar as suas condolências.

Rodolffo dormiu em casa dos pais de Rita e no dia seguinte regressou a Lisboa com a promessa de voltar quando Miguel pudesse viajar.

Chegou a casa, tomou um banho e partiu em direcção ao hospital.  A cuidadora de Miguel sorriu ao vê-lo.

Rodolffo perguntou onde ele poderia aprender a cuidar do filho.

A enfermeira disse que havia semanalmente uma formação dada aos pais e mães de primeira viagem. Perguntou se ele desejava participar.

- Claro que sim.  Eu não sei nem trocar uma fralda, que dirá o resto.

Foi ver e conversar com Miguel.

- A mamãe já está a descansar, filho.
Agora somos só nós dois.  Vamos conseguir sim.

Miguel a cada dia estava mais bonito.   O médico disse que talvez nem precisasse de ficar ali os dois meses.

Rodolffo começou a procurar alguém para ficar com o filho enquanto ia para a faculdade.  Precisaria que ela estivesse com ele pelo menos durante a tarde.

Em conversa com a porteira do seu prédio esta disse-lhe que a vizinha do último andar por vezes fazia de bábá.  E ora ia a casa do cliente ora a criança vinha para sua casa.

- Dona Maria, a senhora fala com ela para nós conversarmos?  Vou precisar muito quando o meu filho chegar.

- Falo sim, pode ficar sossegado. E ela tem muito boa fama.

Rodolffo marcou com a vizinha  e hoje foi cedo bater à sua porta.

- Entre sr. Rodolffo.

- Só Rodolffo por favor.

- O meu nome é Ângela.  A Maria já me pôs ao corrente da situação.   Eu lamento a sua perca.  Vi a sua esposa poucas vezes mas nunca trocámos uma palavra.

Agora vou mostrar-lhe o espaço que eu dedico às crianças.
Eu sou sózinha,  então a casa é suficientemente grande para receber 1 ou 2 crianças.  Normalmente só tenho uma para lhe poder dar toda a atenção.

Aqui é o quarto.  Se é bébé dorme no berço, se já é maior tem a cama.  Tenho um banheiro contíguo ao quarto só para eles.

Aqui do lado é o meu quarto.

Na sala comum,  optei por usar a sala de jantar como espaço para eles brincarem enquanto eu posso estar na sala de estar observando tudo.

As refeições eu faço na cozinha.   Tem espaço suficiente.

De momento não tenho ninguém permanente.  Só tenho uma menina de três anos que vem cá dormir de vez em quando,  quando os pais querem fazer um programa juntos.
Pode vir uma vez por mês ou por semana.  Depende dos pais.

- Achei o espaço bom dona Ângela.  Vamos falar de valores e já ficamos de acordo para quando o Miguel sair do hospital.
Eu tenho faculdade de tarde.  É nessas horas que eu preciso.

- As horas que quiser.

Rodolffo gostou da Ângela.  Era uma senhora na casa dos 40 anos.  Parecia ser muito independente.

Miguel teve alta antes de completar os nove meses e Rodolffo pediu dispensa das aulas por uma semana.
Queria ficar com o filho o máximo de tempo possível.

Nas aulas do hospital aprendeu a mudar a fralda,  dar banho, vestir e despir o bébé e até fazer a mamadeira.

O quarto dele estava pronto para o receber mas Rodolffo colocou o berço ao lado da cama dele.  Tinha medo de não o ouvir de noite.

Mal chegou em casa ligou para Ângela que logo desceu para conhecer o Miguel.

- Coisa mais linda.
Tem os seus olhos.

- Sim. E a boca da mãe.

- Ângela, eu vou ficar esta semana em casa só com ele.  Preciso de saber se consigo tratar dele, mas se eu me vir aflito posso ligar-lhe?

- Claro que sim.  A qualquer hora.  E se precisar de sair para fazer alguma coisa ou fazer compras eu venho cá imediatamente.

- Obrigado Ângela.   Se precisar eu ligo.

A verdade é que Rodolffo se saiu muito bem.  Precisou apenas uma vez de Ângela para lidar com as cólicas de Miguel e outra vez que ele precisou ir ao mercado.

Ângela verificou e Miguel estava muito bem cuidado.  Nada de assaduras e muito cheiroso.

Dá-me um abraçoOnde histórias criam vida. Descubra agora