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Juliette dormia abraçada a Rodolffo como ela gostava mas ele mais uma noite não conseguia pregar olho.

O sentimento de culpa invadia o seu coração.
Se ele não tivesse ido embora tinha agora mais um filhote.
Sempre foi o sonho dele de ter uma casa cheia de crianças.
Como é que eu faço para o encontrar?
As lágrimas caiam na sua face.  O coração batia descompassado  e começou a tremer.

Juliette acordou e assustou-se ao vê-lo assim.

- Rodolffo,  senta-te na cama.  Encosta-te à cabeceira.  Respira.  Inspira e solta o ar várias vezes.

Ele começou a acalmar e a respiração foi regulando.

- Que foi?  Que sentiste?

- Uma angústia enorme.

- Anda dormir.  Ontem dormiste mal. Isso também é cansaço.  Não resolves nada ficar assim angustiado.

Rodolffo deitou-se de novo e desta  vez Juliette ficou a fazer carinho no cabelo dele até adormecer.

Acordou pela manhã e foi tomar um duche.  Quando regressou ao quarto disse:

- Rodolffo,  vou levar as crianças à escola e apesar de não ter plantão hoje, vou lá consultar os arquivos.
Devias ligar para o escritório a dizer que não vais hoje e descansar um pouco mais.  Venho almoçar contigo,  pode ser?

- Sim.  Vou fazer isso. 

- Tens alguma foto da Telma?  Acho que no registo fica sempre uma cópia.  Só para verificar.

- Não sei.  Deixa ver as antigas.

Rodolffo procurou na galeria do seu telemóvel e encontrou uma do grupo de amigos onde se via a Telma e a Lisa.

- Vou mandar para o teu.

- Tá.  Agora dorme.  Vou tratar das crianças e deixo café feito.

- Obrigado,  amor.

Juliette passou a manhã a consultar o arquivo dos meses que ela calculou que tinha hipótese de ter nascido a criança. 
Rejeitou todos os que tinham identificação completa e ainda os negros, asiáticos, indianos.

Passou para os que tinham apenas o registo da mãe mas não encontrou nenhuma Telma.

Consultou todos os registos de um mês antes do calculado e depois do próprio mês mas não encontrou nada.

Decidiu deixar o próximo mês para depois do almoço.

Saiu, passou no mercado para comprar umas frutas e foi para casa.

- Bom dia.  Conseguiste descansar?

- Sim.  Acordei eram 11 horas.  Fiz o almoço.  Vem, vamos comer.
Encontraste alguma pista?

- Não.  E como tem crianças nascidas por essa altura.

- Ela deve ter mais ou menos a idade da Leonor.

- Juliette sentiu um choque ao ouvir tal coisa.  Será possível pensou?

- Vou voltar esta tarde.  Havemos de chegar lá.

Juliette chegou ao hospital e foi ver o registo de nascimento de Leonor.  No processo constava o vídeo da câmara de vigilância do hospital.  Comparou a foto que Rodolffo lhe enviou com a da câmara e apesar de não estar muito nítida ela quase teve certeza.

Mas foi ao ler o processo de Leonor que a dúvida se esfumou.  No bilhete deixado no berço dizia que o pai se chamava Rodolffo.
Juliette já havia esquecido esse pormenor.

Colocou a cabeça entre as mãos e agora tinha um dilema.  Contar já ou não contar.

E se o filho da Telma não fosse do Rodolffo?  E se a mulher da câmara não fosse a Telma?

Foi para casa e decidiu não contar nada.

- Oi Ju, já voltaste?

- Sim.  Não encontrei nada.  Será que ela teve a criança noutra cidade?

- Também é uma hipótese.

- Vou tentar saber nos hospitais das cidades mais perto.

- Desculpa o trabalho.  Não sei o que faria sem ti.

- Não tem problema.  Somos um para o outro.

- Já disse que te amo hoje?

- Não.  Nem beijinhos.

Então vem cá que eu quero tu.

- Só se for agora que depois temos duas pestinhas para ir buscar.

Fizemos um amor gostoso e depois um duche com safadeza.

- Ju, achas que é um menino ou menina?

- Quem?

- O meu filho com a Telma.

- Não sei.  Menina, talvez.

- Eu também acho.
Uma menina como a Leonor.  Mas se for menino como o Miguel também é bom.

- Claro que sim.

Juliette secava o cabelo de Rodolffo. 

- Já tens cabelos brancos.

- Tenho nada.  Arranca.

- Arrancar não.  Vou cortar.

Pegou na tesoura e cortou uma pequena mecha que escondeu no bolso do robe.  Tirou um dos fios e mostrou.

- Estás a ver?

- Mas isso não é branco?

- Por isso cortei com a tesoura. Enganei-te.

Ele puxou-a para o colo e beijou-a.

- Rodolffo,  vamos chegar atrasados à escola!

- Eu já estou pronto.  Tu é que nem te vestiste.

Saíram em direcção à escola.  Juliette estava decidida, não iria pesquisar mais nada sem ter a certeza de que não era Leonor a filha de Rodolffo.

Na manhã seguinte com uns cabelos que retirou da escova de Leonor e os  do Rodolffo chegou ao laboratório do hospital e solicitou um teste de DNA.

O teste ia demorar cerca de 20 dias mas ela estava determinada em saber a verdade.

Será que é verdade que temos o destino traçado?  Quem podia imaginar tal coincidência?  E se for verdade?  Eu já estava em pânico só de pensar.

Se for verdade, ele tem dois filhos biológicos.  Eu sou só mãe adoptiva.
Amo o Miguel mas não é meu.  A fotografia que ele tem à cabeceira é a da Rita.  A Leonor é minha desde que nasceu mas agora com a hipótese de saber quem é a mãe e que deve estar viva...

Ah, tenho a minha cabeça a rebentar.

Cheguei a casa e ainda bem que hoje não vou ver o Rodolffo.   A bábá foi buscar a Leonor.
Não conseguiria olhá-lo nos olhos. 

Espero que nada mude entre nós mas eu não tenho tanta certeza.

Dá-me um abraçoOnde histórias criam vida. Descubra agora