Capítulo 1| Voz

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ELIZABETH

- Eu já disse, não há nada que podemos fazer! Apenas aceite que ele largou você. - Sua raiva começou a se estampar em seu rosto, e aos poucos o homem ia perdendo a paciência, assim como eu.

- Senhor Policial, não tem como ele ter ido embora sem mais nem menos! Por favor, me escute, eu tenho certeza que se procurarem vocês vão conseguir achá-lo, por favor! - Supliquei enquanto meu peito ainda se enchia de esperanças.

À cena em si, era de fato humilhante, mas não para o policial, e sim para mim. Talvez desde criança gostei da humilhação, pois sempre estava ocupada demais sendo humilhada por alguém.

O homem de seus quarenta e sete anos, fardado com à tradicional farda policial, tentava, inutilmente, me convencer de que meu namorado havia me deixado. Mas, eu era muito teimosa e isso era de fato, um dos meus maiores defeitos.

O homem à minha frente, parecia querer arrancar seus cabelos, ou talvez fosse os meus; mas tentava à todo custo me explicar que procurá-lo era inútil.

Assim como eu.

Há exato um mês, meu namorado simplesmente sumiu do mapa, e até agora me pergunto o porquê.

Nosso relacionamento não tinha desavenças e não era conturbado, pelo contrário, Kart e eu sempre estávamos felizes e compreensíveis um com o outro. As pessoas invejavam nosso relacionamento e talvez seja por esse motivo que meu namorado desapareceu, a maldita inveja. Apesar de ser apenas superstições, a inveja poderia acabar com tudo, principalmente quando a pessoa é maluca o suficiente.

- Eu realmente sinto muito, mas não podemos fazer nada, esse caso já vai ser engavetado. Não há pistas e nem sequer testemunhas ou câmeras. Então eu lhe peço gentilmente, Senhorita Elizabeth, esqueça isso e aceite que você foi traída. - Seu olhos e rosto, antes enfurecidos pela raiva da minha pessoa, agora, estampavam à pena que aquele homem tinha do meu existir.

Suspirei e fechei os olhos por alguns segundos para raciocinar melhor, e logo encontrei um resultado. Desistir.

- Tudo bem. Eu entendo; desculpe estar sendo tão insistente. Obrigada pelo seu trabalho.

Virei os calcanhares e então comecei a caminhar para fora daquele lugar. Fiz um pouco de força puxando a porta em minha direção sentindo o vento gélido bater em mim.

Meus lábios estavam rachados e meus pelos eriçados. No mesmo momento, senti falta do cômodo que estava agora a pouco que me mantia aquecida, mas já não havia motivos para estar ali.

Começou a caminhada até o ponto de ônibus, meu celular vibrava em meu bolso, e até já poderia imaginar quem seria.

Há exato um mês também, comecei a receber ligações de um número desconhecido. Não há nada de incomum nisso, de fato. Mas, a parte mais interessante de tudo isso é que seja lá quem for o dono do número, sempre liga nos mesmo horários e todos os dias sem cesar.

Anna, uma amiga do trabalho, disse para denunciar o número, pois, segundo ela, há uma grande possibilidade de ser um stalker, e por isso deveria levar o número à polícia.

Eu por outro lado não me importava com isso; para ser sincera até já cogitei na ideia de ser Kart. Mas, logo a ideia se dissipou pois todas as vezes que o telefone tocava e eu questionava quem seria, não havia resposta.

- Ei! Senhorita Elizabeth! - Me virei para a voz conhecida me deparando com o policial de poucos minutos atrás.

- O que houve? - Meti a mão no bolso pegando o aparelho gelado que ainda vibrava.

O homem com a respiração um pouco descontrolada pelo curto momento em que correu, se apoiou em seus joelhos. Ele pediu um momento, pois sua da palma mão estava em minha frente enquanto o homem tentava controlar sua respiração novamente.

- Sei que você não vai desistir tão fácil, então eu gostaria de lhe dar isso. - Um cartão de visita foi dado em minha mão. Pelas informações parecia ser um detetive. - É alguém de minha confiança e vai ajudá-la. Procure por ele e diga que eu a indiquei, ele saberá o que fazer.

- Obrigada, e desculpe. - Me direcionei a minha trajetória novamente.

Com o telefone na mão, ainda vibrando, atendi e o coloquei na orelha. Sabia exatamente o que iria acontecer.

Eu diria "Alô?", e não haveria resposta alguma, pois essa ligação não passa de um maldito trote que já estava me enchendo a porra do saco.

- Olha aqui, eu não sei o que você quer fazendo essas brincadeiras de mal gosto! Mas posso te assegurar que se você continuar com essa brincadeira ridícula, eu vou te denunciar, entendeu? - O tom irritado da minha voz era perceptível para qualquer um, e era exatamente isso que eu queria.

Assim que ia terminar a ligação, ouvi um sorriso do outro lado da linha. O sorriso era meio rouco e estranhamente atraente para se ouvir. Nunca imaginei que ficaria atraída pela voz de um completo desconhecido que me liga todos os dias nos mesmo horários.

Eu também não sabia que ouvir a sua voz, seria um passo para meu fim.

- Como quiser moya boginya!

A voz rouca e atraente que fez meu coração palpitar forte. Meus pelos estavam eriçados, mas não sabia dizer se era pelo frio ou por conta de sua voz.

As últimas palavras ditas com um russo perfeito, e com um ar de riso. Eu não sabia uma palavra de russo, e no fundo apostava que ele estava me ofendendo com alguma palavra suja; mas em meu interior eu não me importava de ser insultada, contanto que eu continuasse a ouvir aquela voz.

- Olha só, que interessante! Parece que deixei minha malen'kaya boginya sem palavras, isso deve ser bom. Não se preocupe o tempo há de nos unir mais uma vez, assim como está ligação. Do svidaniya.

- Esper‐

Foi tudo o que consegui dizer antes da ligação ser encerrada.

Com o coração a mil, com frio e curiosidade, fiquei paralisada naquele mesmo lugar por segundos, até finalmente me recompor.






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