Capítulo 8 | Viatura

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ELIZABETH

Minha boca secou e senti minhas pernas falharem. A repentina notícia havia sido dada rápido demais de uma maneira incomum demais.

A imagem decadente de Marcel tomou conta de minhas memórias me pegando desprovida. Poucas horas atrás, Marvel estava vivo e até mesmo arrependido do que havia feito, mas agora ele estava morto sem qualquer explicação plausível.

— Deve haver algum engano! — Direcionei meu olhar para o policial em minha frente. — Eu o vi há poucas horas atrás. Não tem como... como ele está morto. — Bradei com meus últimos sussuros.

Minha voz estava há um triz de ir por água abaixo.

— Você poderá se explicar na delegacia, senhorita Clark. Peço que contribua conosco.

Neguei com a cabeça prestes a ter um colapso nervoso.

Eu não era e nunca fui próxima de Marcel. Portanto não havia motivos para me acusarem de tê-lo assassinado sendo que nunca sequer havíamos brigado.

Apesar do nervosismo e a ansiedade se fazerem presente no pé da minha barriga, comecei a sentir meu sangue ferver de raiva. Marcel era um filhinho de papai escroto e eu não gostava dele de jeito nenhum.

Mas isso não era motivo para matá-lo. Levar a culpa pela sua morte era mais do que ridículo, era revoltante!

— E por que caralhos colocaram a culpa logo em mim? — Meu tom de voz mudou drasticamente.

Queria explicações plausíveis para ter levado a culpa. Se por acaso me culparam apenas por eu ter ido hoje até sua casa, eu com toda certeza ficaria mais do que furiosa.

— Tudo será explicado na delegacia. E por favor não altere seu tom de voz, caso contrário, será acusada de desacato a autoridade.

Meu olhar indignado se instalou a pessoa fardada com trajes militares.

— Acusar um civil também é um caso de desrespeito e desacato Senhor tom. Não fui eu que matei Marcel. Nunca perderia meu tempo com um escrotinho de merda como ele.

O homem suspirou cansado.

Sabia que ele estava sendo paciente demais comigo e isso fez uma interrogação surgir em minha cabeça.

Se fosse um caso diferente, ele já teria colocado as algemas em meus pulsos e me levado a força a delegacia; mas não, ele estava sendo paciente e calmo diante a situação.

Há algo de errado com esse policial.

Suspirei fechando os olhos tentando acalmar meus nervos.

Com certeza havia dedo de alguém ali, e seja lá quem for que havia matado Marcel, esse alguém com certeza não era eu.

Levantei os pulsos para o policial que logo entendeu o recado. Com calma e um certo cuidado fechou as algemas deixando ela frouxas, o que me fez estranhar mais ainda do seu comportamento.

— Sei que você não irá fugir senhorita Clark, por isso deixei as algemas frouxas. Se está tentando achar respostas sobre meu comportamento, pode ter certeza que não será comigo que terá suas indagações respondidas. — Olhou-me uma última vez antes de me enfiar no banco traseiro da viatura.

— Então quer dizer que você é mandado por alguém, senhor Tom. — Mantinha a atenção para a monótona paisagem do lado de fora.

O homem deu uma curta risada anassalada.

— Todos nesta cidade são mandados por um alguém, senhorita Clark.

O olhei de relance.

Tom já era um senhor de seus quase 60 anos. Era maduro e experiente, e também, era alguém que continha vários segredos sobre Burford, ele era uma fonte de informações sem a menor sombra de dúvidas.

Seus olhos escuros já devem ter visto coisas que se arrependeu profundamente de ter visto.

— Aposto que esse um alguém deve saber o que aconteceu com Marcel ou até mesmo com Kart, já que ele tudo vê e tudo sabe, né?

— Se está tentando me fazer dizer quem é, pode esquecer. E se você ainda tem fé que seu namorado está vivo, continue com esse pensamento.

— Ex-namorado. — Corrigi.  — E quer saber de uma coisa Senhor Tom? Caso Kart ainda esteja vivo, pode ter certeza que vou achá-lo e vou matá-lo da forma mais dolorosa o possível.

Jurei que por segundos vi um sorriso de canto surgir em sua boca; mas forá tão rápido que anulei a alternativa.

— Pessoas como você vão longe. Estamos quase chegando senhorita. — Informou.

— Para um policial normal você fala muito por parábolas; pode me chamar de Elizabeth.

Acenou positivamente com a cabeça. Sua atenção estava ligada ao caminho até a delegacia e nossa conversa.

— Apenas sou um grande fã da filosofia; e igualmente pode me chamar de Tom.

— Em meio ponto de vista maioria, se não todos os filósofos, tem um parafuso a menos. Hoje em dia é difícil encontrar alguém que goste e entenda a filosofia.

O homem gargalhou um pouco alto me fazendo questionar o que havia falado.

— Disse que sou fã, não que entendo. Sabe, Elizabeth, as vezes podemos não entender ou até mesmo não conhecer muito bem certas pessoas, ideologias ou qualquer coisa relacionada; se há algo que nos faz se aproximar ou entender já é uma forma de gostar. Ser fã, gostar ou até mesmo amar algo não significa exatamente que você entende.

— Olhando por essa perspectiva me faz pensar que talvez o senhor tenha sido um filósofo na vida passada.

— Quem sabe.

O homem estacionou quando finalmente chegamos na delegacia.

Após sair do carro fui direcionada a uma cela pequena. As algemas foram retiradas e como estavam frouxas não havia nenhuma marcação em meus pulsos.

— Sei que você não vai ficar aqui nem por uma hora, então gostaria de agradecer por nossa papo, foi extremamente interessante. Obrigada, Elizabeth. — Me lançou um pequeno sorriso.

Sorri de volta olhando em seus olhos.

— A justiça está do lado dos ricos não dos justo, Tom. 

— Mas a justiça estará do lado do justo se ele tiver um rico para ajudá-lo.

Sorri ainda mais com sua fala.

— Falando assim até parece que o senhor sabe exatamente o que vai acontecer.

O homem pensou um pouco e logo direcionou a sua atenção para mim novamente.

— Talvez. Você tem alguém em mente para quem queira ligar?

Fiz uma lista mental com nomes das pessoas da qual poderiam me ajudar. Lembrei-me das palavras de um certo alguém: "Se você estiver ao meu lado, pode conseguir tudo o que quiser, você apenas tem que pedir para este seu mero servo".

Vamos ver se eu realmente poderia contar com ele para tudo.

— Há alguém.


Rapaz quem é vivo sempre aparece né. Peço desculpas o sumiço; pretendo ainda este final de semana postar a continuação deste capítulo, beijinhos da autora e bye.

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