Capítulo 7🏳️‍🌈

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O meu uniforme é basicamente a mesma coisa que havia visto no corpo dos últimos 25 rapazes que esbarrei ao subir para o dormitório.
Uma calça de algodão preta com bolsos enormes e uma regata leve branca meio transparente.
Há outros uniforme/fardas na galeria, para que se use em datas comemorativas e não só.
As botas pretas de cabedal são as únicas coisas que eu não gosto. Elas parecem apertadas demais, e super-aquecem demais, acho que já não havia um número maior e foi me dado um 39.
Pelo menos não tenho que usar chapéu como os almirantes e os outros superiores daqui.
Esses chapéus com pala e efeito dourados parecem tão alegóricos que chega a ser engraçado.
Acho que o Falcão comentou algo comigo sobre o meu cabelo estar loiro demais para a um aluno da academia, mesmo tendo pintado algumas horas atrás.
A água do banho é realmente fresca. - O que não é mal para quem tem que estar neste calor de quase 40ºC. Fico tentando aceder as minhas redes sociais, mas a rede é pior do que eu imaginei.
Parece que estou numa caverna. Preciso falar com a Camila. Ela não faz ideia do que aconteceu nas últimas horas da minha vida.
E acredito que se eu não dar uma satisfação, ela vai achar que eu estou me desligando definitivamente dela.

- Melhor nem tentar, a rede aqui é mesmo péssima...

Orange aparece por trás de mim no corredor e me assusta.

- Você me assustou!
Dou um olhar irritado para ele.
Mas Orange não percebeu. - Eu só estava consultando o Facebook.

- Melhor guardar o seu celular se não quer ficar sem ele até o final do verão.

- Vocês levam as regras muito a sérios mesmo, não é?
Falo guardando o meu celular no bolso da calça.

- Sim. Ninguém quer ser expulso ou castigado por infringir as regras da academia.

- Acho que têm quem quer. Sussurrei para ele.

- Parece que você já recebeu o seu uniforme. - E... o seu cabelo está bem incomum para cá estar.

Orange me analisa com a mão sobre o queixo, como se não soubesse o que está diferente em mim da maioria dos rapazes aqui.

- Eu sei. Reviro os olhos. - É loiro demais para este lugar.

- E está um pouco acima do tamanho padrão, deveria aparar as pontas, a menos que não queiras ser zombado ou castigado.

- Porque eu seria zombado? Eu sou um rapaz loiro. É para se envaidecer. Todos querem ser loiros.

- Não aqui. Ele ri. - Cabelos coloridos e compridos aqui é sinónimo de vaidade e fragilidade. Por isso algumas optam por rapar todo o cabelo.

- Não o farei. E se eles quiserem me punir por isso ok.

- Você é bem rabugento. Tenho um amigo que tem tintas do cabelo e ele pode te ajudar.

- Eu estou ótimo assim...
Resisto a tentativa dele.

- Vem! Ele me puxa pelo braço e mesmo achando a ideia ruim eu só consigo seguir ele até ao 5º andar

Orange explica que o elevador está quebrado a umas semanas, porque os fariseus ( é assim que ele chama um grupo de aspirantes), não entendi bem, mas não perguntei, apenas subo os degraus intermináveis até o quinto andar.
É bem cansativo. Ele realmente adora falar, poderia dar muito certo se investir na carreira de locutor ou narrador.
Ele também explica que estamos indo para o quarto do seu melhor amigo, Edgar.
E no instante eu só consegui pensar como é aliviante saber que há um garoto com nome de gente normal. Já estava me sentindo o mais esquisito deste lugar.
Segundo ele, Edgar é basicamente o aspirante mais inteligente e gentil que há neste Campus, é o seu único amigo, na verdade, o único que conseguiu fazer nos primeiros três meses desde o início do ano lectivo aqui, em Ocean'Ville.
Após chegar, vejo um dizer:
Jesus é o caminho, a verdade e...
Parece que a última palavra está rabiscada com uma arco-íris, não consigo ler.

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