Você I

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Segunda parte desse capítulo sai amanhã ou terça depende. E se vocês acham que esse gatinho aqui tem gatilhos, nao perdem por esperar.

ATENÇÃO: Gatilho de violência infantil e trabalho analógo a escravidão.

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Kelvin estava entediado, algo raro nos últimos seis meses.

Entediado a ponto de compras online não suprirem seus gostos, especialmente porque tinha que mandar entregá-las na sede da cooperativa em Pontal e esperar algum peão trazer. O tédio se infiltrava na rotina, não que o ruivo não gostasse dela; ele a amava, na verdade. Nunca sentiu tanta paz em sua vida como sentia com Ramiro. Talvez estivesse mais uma vez se auto sabotando, ou talvez sentisse falta das meninas do bar. Não das intrigas e purpurinas, mas da agitação. Não sentia falta de Andrade, definitivamente não. Queria até, inclusive, que alguém tivesse matado o velho. Ainda trocava mensagens com Luana e Nando, mas mesmo assim as coisas eram diferentes.

Uma coisa da qual Kelvin sabia que sentia falta era do palco, do tanto do pole dance, assim como de cantar. Amava cantar e amava a plateia. Foi mais ou menos assim nos seus quinze anos, acabou sendo vítima das promessas não cumpridas de Frank. Em parte, se apaixonou perdidamente; em outras, achava que ia para Nova York ter uma vida de verdade.

Mas Kelvin estava tão entediado que até tentou armar uma briga entre Neide e Angelina, pois recentemente observava que as mulheres tinham uma amizade muito especial. Queria caos e começou a favorecer Angelina em seus presentes, mas não adiantou, ela compartilhava com a amiga. Atentou até ao pobre Sidney, arrumando trabalhos extras por puro entretenimento.

No meio da maresia tinha Ramiro, que já não aguentando mais tirar o tédio de Kelvin por que segundo o  grandalhão "ta doendo já, cinco vezes por dia não tem macho que aguente"

Levou Kelvin para uma caçada.

Na cabeça de Ramiro era assim que o capeta iria se acalmar e se  livrar das frustrações, assim que teria algum descanso pro seu traseiro. Não que não gostasse de ser dominado e aproveitado cada segundo daquilo, tinha aproveitado, mas tudo na vida tem limite.

E assim Kelvin acabou no escuro no meio do mato, com uma espingarda na mão e um olhar encapetado que brilhava junto com a lua.

- Por que a gente tem que vir de noite?

- Porque de dia os bichos vê , Kevin.

Ramiro tinha uma lanterna minúscula que não iluminava nada, mas eles pareciam mais acostumados, já que só tinham levado por causa de Kelvin, que tinha medo do mato.

- Isso não faz sentido. Por que agora eu que não vejo nada, Rams? - Kelvin baixou a espingarda de caça.

- Levanta a arma, Kevin, tem uma capivara perto.

- Como você sabe?

- Pelo som, ocê também iria escutar se não falasse que nem uma maritaca.

Kelvin ajustou a arma. Não sabia quanto tempo estava no mato, no meio da floresta com apenas a escuridão. Se Ramiro não estivesse do seu lado, estaria morrendo de medo, mas Kelvin poderia estar no meio de uma guerra e se Ramiro estivesse lá também, então tudo estaria bem.

Seguiu os conselhos. Talvez aquilo ajudasse. Então, ia tentar ouvir como Rams falou, sem fazer nenhum barulho.

Mas Ramiro parecia quase uma entidade quando pegou no corpo da arma e a direcionou para uma certa direção. Lá estava uma capivara ainda pequena, banhada pela luz do luar. Kelvin atirou e errou feio.

- A arma, Kevin. Ela puxa, ocê tem que levar isso em conta.

- Uhum - prestava atenção.

- Anda, consegue recarregar do jeito que te mostrei?

PurgatórioOnde histórias criam vida. Descubra agora